ANÁLISE
"Megaeventos são insustentáveis", diz especialista
Convidados para participar da entrevista coletiva ao lado do presidente da Embratur, dois especialistas afirmaram reconhecer os benefícios de realização de um megaevento esportivo, mas criticaram a forma como sua organização foi executada pelas autoridades brasileiras e como as entidades esportivas internacionais a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional (COI) atuam no processo.
Lamartine da Costa, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), afirmou que os megaeventos são benéficos "para acelerar as coisas internas do país", mas "insustentáveis no ritmo como atualmente são impostos". "Está acontecendo uma mudança. Sete ou oito cidades abandonaram propostas de sediar os Jogos Olímpicos de inverno. Já está havendo abandono dos países com relação aos megaeventos", disse Costa. Segundo ele, os episódios mostram como os governos têm repensado a atitude em relação à gestão e à condução dos jogos.
Pedro Trengrouse, professor da FGV, disse que Copa e Olimpíada são apenas "grandes festas". "Desde Barcelona se criou uma ideia de que Copa do Mundo e Olimpíadas transformam uma cidade e um país. Isso não é verdade. Esses eventos não passam de grandes festas, sem desmerecer a importância de uma grande festa", disse Trengrouse.
A realização da Copa no Brasil permitiu a criação de 1 milhão de empregos formais no país desde 2011, segundo balanço preliminar do governo. A informação foi divulgada ontem pelo presidente da Embratur, Vicente Neto, em evento no Forte de Copacabana, no Rio. "Desses, 710 mil são empregos permanentes", disse. Segundo a Embratur, os empregos permanentes representam quase 15% dos 4,8 milhões de empregos gerados no governo de Dilma Rousseff.
Neto lembrou que a cadeia de turismo mobilizada pela Copa movimentou R$ 6,7 bilhões desde o início deste ano, como o governo já havia divulgado. A conta, preliminar, considera o comércio e a prestação de serviços voltados a turistas e à organização do evento.
Apesar da divulgação de números favoráveis ao Mundial, a opinião de especialistas presentes ao evento é de que ainda é cedo para calcular seu legado econômico. Pedro Trengrouse, da Fundação Getulio Vargas (FGV), comparou os dados brasileiros aos da África do Sul, sede do Mundial anterior, onde estudos apontam ganho de 1% do Produto Interno Bruto o que, no Brasil, equivaleria a R$ 48,4 bilhões, muito acima dos R$ 6,7 bilhões informados pelo governo. De todo modo, a expectativa dele é de que, no Brasil, os ganhos serão maiores do que os obtidos na África do Sul.
Lamartine da Costa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), destacou que todo impacto na economia é progressivo e que, por isso, não é possível mensurá-lo no curto prazo. "Apenas agora estão sendo quantificados os ganhos [da Olimpíada] em Barcelona, de 1992", destacou.
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