Emílio foi o primeiro na escola a completar seu álbum. Precisou de duas semanas, de algum jogo de cintura nas trocas na entrada do colégio e um bom investimento da família em mantimentos, a moeda de troca para comprar novos envelopes. A figurinha mais desejada não era a de Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo ou Balotelli. A alegria maior do garoto de 14 anos foi quando encontrou a figurinha com o seu nome: Emílio Perez de Morais.
Veja algumas figurinhas do álbum da escola
O álbum em questão não é aquele oficial da Fifa, mas sim o do colégio em que estuda, a Escola Vicentina Mercês, em Curitiba, em que as estrelas não são os craques mais bem pagos do mundo, mas sim os alunos que disputam a Copa da instituição de ensino. Emílio faz parte da seleção do Irã e por isso tem seu lugar certo no álbum, criado como parte de um projeto de Educação Física que reuniu 240 alunos em torno de seu próprio campeonato.
A proposta nasceu da vontade do professor da disciplina, Vladimir Rodrigues, de 45 anos. Ele decidiu oferecer a seus alunos a oportunidade de se sentirem um pouquinho como os grandes astros da bola. Há dois meses, começou a delinear a Copa escolar em todos os detalhes: o álbum com 330 figurinhas que apresenta as 32 seleções formadas por alunos de 6 a 14 anos, o desenvolvimento das camisas de cada equipe, com logotipo próprio e a confecção das medalhas. Neste fim de semana, eles disputam jogos de futsal (para os 17 times de garotos) e de caçador (para as 13 equipes de meninas).
Cada um dos times representa um dos países classificados para a Copa no Brasil. Um dos mais disputados, claro, foi o do Brasil, seguido da Espanha. A questão foi resolvida por sorteio. "Fiquei com a Argentina e não achei ruim, não. Estou feliz em poder jogar com meus amigos e com quem ainda não tinha jogado. Mas, quando contei em casa qual seria minha camisa, meu pai soltou um Putz!", diverte-se o aluno do 5.º ano Luiz Gustavo Dechandt Hecold, 10 anos.
Na quarta-feira foi realizada a cerimônia de abertura e, no jogo inicial, a Argentina venceu Portugal. Não haverá fase classificatória e mata-mata, como no modelo da Fifa, porque o propósito da competição é a confraternização.
Foram produzidos 500 álbuns, 125 mil figurinhas autocolantes dos alunos que se engajaram no projeto. Cada um teve de bancar R$ 80 de taxa para cobrir os custos de produção. Em troca, cada um recebeu um álbum e dois envelopes, com 25 figurinhas cada. Se no álbum oficial da Fifa o primeiro objetivo é conseguir completar uma seleção com os 17 jogadores, entre a gurizada da escola curitibana, a meta principal é encontrar a figurinha "premiada": a de si próprio.
Para conseguir novas figurinhas, os estudantes fazem a troca das repetidas antes de as aulas começarem ou compram envelopes. O custo é um quilo de alimento não perecível ou um litro de leite por pacotinho. Em duas semanas, a escola arrecadou 1,6 tonelada de alimento.
"Além de gerarmos uma lembrança especial desta Copa do Mundo, incentivamos a prática esportiva e vamos entregar esses alimentos para famílias e instituições, desenvolvendo um olhar caridoso nessas crianças, já que cada seleção vai participar da entrega", conta o professor.
Jogadora do time da Alemanha e aluna do 8.º ano, Bruna Woltmann, 13 anos, destaca ainda que, na busca de completar o seu álbum, fez novos amigos na escola. "Na hora de trocar as figurinhas, acabamos conversando com alunos que antes não tínhamos contato. É divertido procurar aquelas figurinhas dos colegas de classe", fala.
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