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Responsabilidade

Falta maior participação do setor privado

Quatro em cada dez paranaenses defendem a responsabilidade compartilhada entre governo e iniciativa privada na preparação da Copa. Por outro lado, 20% entendem que a iniciativa privada deveria assumir o papel de preparar o país. Para Ramiro Gonçalez, professor do Centro de Extensão Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da UFPR, 90% dos investimentos deveriam partir do setor privado. "Se fôssemos estritamente coerentes com o conceito de público e privado, perceberíamos que a Copa é um evento privado. Isso se nos esquecêssemos de que o futebol é uma paixão nacional", diz. "Quem estaria disposto a patrocinar um evento de hóckey ou rúgbi?"

Para José Augusto Soavinski, do Corecon-PR, a Copa dá visibilidade ao Brasil, mas a isenção de impostos pelo governo federal torna o evento menos lucrativo. "Enquanto os municípios ficam com o ônus, a Fifa e a Confederação Brasileira de Futebol lucram", critica. Para Gonçalez, a Copa no Brasil é um evento hierárquico, com decisões tomadas sem consulta à população, enquanto em Londres, na preparação para a Olímpiada de 2012, a comunidade participa.

Os Jogos Olímpicos de Barce­lo­na, em 1992, um marco na organização de megaeventos esportivos, tornaram-se referência pela participação da sociedade. Em Londres, há iniciativa popular para avaliar os gastos. "O desenvolvimento urbano foi dividido com escolas e universidades", diz Gonçalez. Para Jaime Sunye Neto, do IEP, as prioridades brasileiras estão erradas. "Londres aproveitou para desenvolver uma área da cidade comprometida. No Brasil, estamos tentando acelerar obras."

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A prefeitura de Curitiba estragou o Natal dos proprietários de 11 lotes no entorno do estádio do Atlético. Na última quinta-feira, o município publicou decreto que prevê a desapropriação dos terrenos para a conclusão das obras da Arena visando ao Mundial. Com isso, os moradores e comerciantes envolvidos terão até o fim do ano para decidir como lidar com a situação, já que o processo será retomado, com intensidade, no início de janeiro. A intenção do poder público é conseguir a desapropriação em três meses.

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"Esse decreto é apenas uma questão legal declarando a utilidade pública da área. Ninguém será obrigado a sair de casa correndo, só estamos efetivamente dando início ao processo", explica o secretário municipal para As­­suntos da Copa, Luiz de Carvalho. Depois de um intervalo para as férias de fim de ano, os trâmites reiniciam em 2 de janeiro para a discussão de valores e prazos com os proprietários. "Todos terão liberdade para expor suas ideias. Será democrático, com diálogo", afirmou Carvalho.

Além de confirmar que as conversas entre as duas partes interessadas se tornarão mais frequentes e de ressaltar a busca pelo diálogo, Carvalho admitiu que pode ser preciso endurecer a negociação, caso não haja acerto. "Vamos conversar até um limite", afirmou ele. "Todos já sabiam que teriam de deixar os terrenos", acrescentou. O técnico mecânico Fernando Leludak, que vive há 12 anos no entorno do estádio, aguarda a negociação. "Se chegar a um valor bom para todos, fecha-se amigavelmente", diz.

Como o poder público pretende colocar as áreas à disposição dos operários para a finalização da Arena em três meses, há alternativa prevista para agilizar a desapropriação. Segundo o documento, a prefeitura pode decretar urgência para tomar posse dos lotes. Para um dos moradores, que preferiu não se identificar, um advogado foi contratado para representar os proprietários. "Eles não estão lidando com uma pessoa só", diz. "Como somos obrigados a vender, queremos apenas o valor real, dentro de uma lógica do mercado, para que possamos comprar um imóvel na mesma região", diz.

Para Leludak, a negociação não deve ser apressada. "Con­­versamos em setembro e a prefeitura afirmou que, até o final de outubro, o decreto seria publicado e as visitas, encaminhadas. Como a Copa das Confederações não veio para Curitiba, há mais tempo para se chegar a um consenso", opina. Além dos moradores, o acordo precisa ser feito com proprietários de comércios, que consideram uma mudança de endereço maléfica ao negócio.

Luiz de Carvalho negou que os donos dos terrenos tenham ficado excluído das negociações. Ainda segundo ele, ninguém será financeiramente prejudicado, o que mesmo assim pode não ser suficiente para quem mora no local há décadas. "Além do valor de mercado, há a questão sentimental, que é difícil de mensurar. Essa sim é difícil de valorizar. É como a perda de um ente querido", opinou. "Mas é uma obra de interesse público".

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