Comparecer aos jogos da Copa do Mundo foi uma tarefa riscada da agenda da maioria dos políticos que vão disputar a eleição em 2014. Se esse já não era o programa mais indicado antes da competição, a orientação redobrou com os xingamentos à presidente Dilma Rousseff. Crescem as dúvidas sobre como o torneio será tratado no debate eleitoral e vice-versa.
No caso da petista, nem a ausência tem resolvido. Dilma estava em Brasília quando voltou a ser ofendida no final da partida entre Irã e Nigéria, em Curitiba. Novamente houve o coro de "ei, Dilma, vai tomar no..."
Atacar a presidente, contudo, está longe de ser unanimidade. Principal adversário na disputa pelo Palácio do Planalto, Aécio Neves (PSDB), disse inicialmente que os xingamentos do Brasil x Croácia eram uma resposta à "arrogância" da Presidência. Um dia depois, voltou atrás e falou que as manifestações não devem "ultrapassar os limites do respeito pessoal".
Um dos mais ácidos nomes da oposição no Senado, o paranaense Alvaro Dias (PSDB), também diz que é preciso entender a insatisfação, mas não os xingamentos. Fã de futebol, torcedor do Corinthians e presidente da CPI do Futebol, realizada em 2001, ele não vai a nenhum jogo do Mundial. "Prefiro ficar de fora até para não parecer incoerente, já que fiz muitas críticas aos gastos com o Mundial", disse.
Nem assim ele escapa do desgaste. "Dois blogs colocaram fotos minhas em uma partida da Copa das Confederações [Brasil x Japão, ano passado] dizendo que era no Brasil x Croácia. Era para me prejudicar".
Pré-candidato a senador pelo PT, o deputado federal Dr. Rosinha fez panfletagem na porta de estádios de Curitiba em todas as eleições que disputou ao longo das últimas três décadas. Nem se pudesse furar a zona de exclusão da Fifa, faria de volta na Copa.
"Sempre cheira a oportunismo quando político comparece a um evento de entretenimento, principalmente quando ele não faz isso normalmente", afirma o parlamentar petista. "O último jogo que fui como torcedor foi num Brasil x Chile [1986, no Pinheirão] e só para protestar contra o Pinochet."
Coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e Modalidades Lúdicas da Universidade de São Paulo, o historiador Flávio de Campos diz que há uma simplificação do descontentamento dos torcedores (e eleitores) com a política. "Tudo cai na conta da Dilma. Mas não é preciso pensar muito para ver que a Copa também envolveu governadores e prefeitos de outros partidos, que na maioria das vezes foram muito mais responsáveis pelas falhas na execução das obras planejadas", cita o professor.
Na avaliação dele, o que está ruim pode piorar ainda mais caso o Brasil tenha uma eliminação precoce. "É perfeitamente possível termos um confronto difícil e perdermos para a Espanha nas oitavas. E aí, como vai ficar o torcedor brasileiro, vendo alemães e holandeses fazendo festa?"
Se isso acontecer, a tendência é de uma antecipação do debate eleitoral. "De qualquer jeito, vejo um governo acuado, sem chance de capitalizar eleitoralmente a Copa", avalia Campos.
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