Daqui a um mês terminaria o prazo dado pela Fifa para a entrega da Arena da Baixada, com a reforma completa para a Copa do Mundo. Data que certamente não será cumprida, o que obrigou a entidade a aceitar uma entrega parcial. A obra está atrasada fechou outubro 85% pronta. Problemas que se repetem nas intervenções urbanas espelhadas pela cidade, o chamado legado. A Gazeta do Povo analisou sete pontos da preparação de Curitiba para o Mundial:
Arena
A atualização divulgada ontem pela CAP/SA, empresa criada pelo Atlético para gerir as obras da Arena para a Copa, mostra que o estádio fechou outubro com um índice de finalização de 85,53%. Um avanço de apenas 2,8% em relação a setembro. Resultado do embargo de seis dias feito pela Justiça do Trabalho na obra e do atraso no financiamento do BNDES, problemas que não deixarão com que a reforma fique pronta em dezembro, prazo estabelecido pela Fifa. "Devemos ter entre 90% a 95% do estádio concluído", disse o secretário municipal para assuntos da Copa, Reginaldo Cordeiro. Inicialmente prevista para ser inaugurada no dia 29 de março de 2013, no aniversário da cidade, a Arena deve abrir as portas quase um ano depois, no próximo dia 26 de março, data da fundação do Furacão. Antes disso, está agendado um jogo-teste para o dia 26 de janeiro com capacidade reduzida para 10 mil pessoas e a obra em andamento. A colocação do gramado começará no próximo mês. Já o teto retrátil, o diferencial do palco curitibano em relação aos outros locais de jogos, ficou para depois da Copa.
Legado urbano
As obras de mobilidade urbana, tidas como o principal legado da Copa do Mundo, seguem o mesmo ritmo lento de construção da Arena. Ao todo são dez projetos em execução cinco sob a tutela do município e cinco do estado. Duas, a reforma da Avenida Cândido de Abreu e o Corredor Metropolitano, foram cortadas em função do prazo estipulado pelo PAC da Copa os projetos demoraram. Já as que estão sendo executadas tiveram seus orçamentos ampliados. Segundo relatório divulgado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) em outubro, os investimentos públicos passaram de R$ 400,7 milhões para R$ 433,9 milhões. A Avenida da Integração, no Bairro Alto, está 63% concluída só que a entrega estava prevista para o fim de dezembro, a única do ano. Seguindo o cronograma, a reforma do terminal Santa Cândida é para ficar pronta em fevereiro. Entre março e maio, é a vez da Rodoferroviária e do corredor que a liga ao Aeroporto incluindo o polêmico viaduto estaiado , a extensão da Linha Verde Sul e a reforma da Avenida Marechal Floriano.
Bilheteria
Apesar da polêmica triangulação financeira entre prefeitura, governo e Atlético para viabilizar a reforma da Arena, a procura por ingressos para os jogos em Curitiba superou todas as expectativas. Os bilhetes disponibilizados na segunda etapa da primeira fase de venda oficial, no começo do mês, para as quatro partidas do Mundial que serão disputadas na capital (todas da primeira fase), sumiram em poucas horas. Um contraste com a diminuição do apoio da população em relação ao evento, que segundo levantamento da Paraná Pesquisas, caiu 11% entre julho de 2011 e 2013, de 66% para 55%. O estádio irá sediar jogos nos dias 16, 20, 23 e 26 de junho. Entre eles, uma partida de um cabeça de chave. Ao todo, na primeira fase foram vendidos 1,1 milhão de entradas. Desse total, 68% foi adquirido por brasileiros. No dia 8, inicia a terceira fase de venda.
Jogo Político
Toda a operação Arena da Baixada ficou marcada pelo intenso cabo de guerra entre poder público e Atlético sobre o pagamento das obras. Porém, com o prazo expirando, a liberação do empréstimo do BNDES, via Fomento Paraná, autarquia do governo do estado, ganhou agilidade. Até 13 de novembro, segundo o banco federal, o Atlético teve acesso a R$ 114,7 milhões dos R$ 131 milhões inicialmente contratados. Agora, o clube está na iminência de fechar novo contrato com o BNDES, novamente via Fomento, para se ajustar ao novo valor da obra, estimada R$ 265 milhões (descontando os impostos). No total, a obra vai custar R$ 326,7 milhões. "Houveram muitas informações distorcidas no passado, mas pelo que sei agora está sendo liberado o que falta sem problemas", explicou Mario Celso Cunha, coordenador-geral de Copa no Paraná.
Orçamento confuso
A quinta atualização das obras da Matriz de Responsabilidade da Copa do Mundo, divulgada na última segunda-feira pelo Comitê Organizador Local (COL), aponta um custo de R$ 326,7 milhões para a construção da Arena. Um aumento de 23,1% na comparação com o último orçamento, de R$ 265,2 milhões. Em relação ao valor original da obra, de R$ 184,6 milhões, o acréscimo é de 77%. O novo preço, porém, é questionado pelas autoridades municipais e estaduais. "Esse total conta valores utilizados para pagamento das desapropriações e isenções tributárias. O valor do estádio não mudou um centavo", afirmou Mario Celso Cunha, coordenador geral da Copa no Paraná. Pelo acordo tripartite, estado, prefeitura e Atlético arcariam com um terço cada um dos valores. Contudo, ainda não se sabe quem herdará a diferença entre o orçamento inicial e o custo final. "Para nós não chegou nada oficial do aumento do orçamento", disse o vereador Paulo Rink, presidente da Comissão da Copa na Câmara Municipal.
Potencial construtivo
Manobra utilizada pela prefeitura para bancar a parte pública no financiamento da Arena, o potencial construtivo crédito virtual concedido para se construir imóveis de tamanho acima do estabelecido pela legislação municipal está sendo vendido para bancar o empréstimo feito pelo governo do estado, via Fomento Paraná, junto ao BNDES. Segundo dados do Executivo municipal, até 14 de novembro foram vendidas 5.246 cotas de um total de 60 mil do primeiro lote, gerando R$ 3.243.444,42. No entanto, como parte das vendas é feita a prazo, o que entrou no cofre da cidade foi R$ 1.578.134,70. Para a reforma da Arena a previsão é que a manobra financeira banque R$ 123 milhões. "O fato de o potencial construtivo estar sendo comercializado dá mais garantias à Fomento Paraná para conceder o financiamento para o Atlético", explicou em outubro o secretário municipal da Copa, Reginaldo Cordeiro.
Falta de Transparência
A dificuldade em saber o quanto foi investido, onde e por quem é um dos problemas da Copa do Mundo em Curitiba. A falta de empenho do poder público em disponibilizar os dados é uma reclamação do Instituto Ethos. "Vamos mostrar um novo relatório na terça-feira, mas até agora o nível de transparência da prefeitura é baixo, de 15,24%, e do governo do estado é médio, de 42,15%", avalia Bruno Videira, coordenador do Jogos Limpos do instituto. "A obra da Arena não tem tanta informação. Sabemos que o Atlético até repassa uma parte das planilhas para a prefeitura, mas não são disponibilizadas para o público", acrescenta. O secretário municipal Reginaldo Cordeiro não foi encontrado para comentar o assunto. Soma-se a isso a dificuldade de relação da atual diretoria do Atlético com a imprensa foram apenas duas entrevistas coletivas para tratar do assunto, quando foi comunicado, ao lado da Fifa, que o teto retrátil ficou para depois da Copa e quando a obra foi embargada.
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