Fifa aumenta o tom da pressão ao governo federal
A tabela da Copa de 2014 está pronta. Agora, a Fifa cobra o governo brasileiro. Momentos após o anúncio do calendário para o Mundial, a entidade escancarou o tom de cobrança, alertando que as obras estão atrasadas.
Em novembro, o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, vai a Brasília para convencer o Palácio do Planalto a enviar ao Congresso um novo projeto da Lei Geral da Copa que atenda aos interesses da entidade. O texto atual é rejeitado pela Fifa, que o acusa de não proteger de forma suficiente seus patrocinadores, de minar a renda da venda de entradas e de modificar até as regras dentro do estádio.
"Não podemos perder tempo", disse ontem o secretário-geral. "Chegou a hora de terminar tudo, porque não estamos avançados", completou.
A Fifa ficou irritada com a incapacidade do Brasil em definir seus estádios para a Copa das Confederações de 2013, o que impediu o anúncio do calendário na última quinta-feira a definição ficou para junho do ano que vem. Mas o pior seria a falta de avanço nas obras de infraestrutura.
Segundo Valcke, o menor dos problemas é o andamento dos estádios. "Estamos prevendo que o Brasil receba entre 600 mil e 800 mil estrangeiros para a Copa. Precisam se alojar e se alimentar", alertou Valcke. "O ritmo das obras precisa acelerar." A entidade também já avisou que considera que as obras nos aeroportos são "decepcionantes", o número de quartos de hotéis insuficientes, a lei inexistente e as datas de entrega de obras de estádios "impraticáveis".
Agência Estado
Desapropriação
Prazo para liberar terrenos é flexibilizado
Assim como o ritmo das obras para a conclusão da Arena, o processo de desapropriação dos terrenos em torno do estádio caminha lentamente. A exclusão de Curitiba da Copa das Confederações e a confirmação de apenas quatro jogos no Mundial "flexibilizaram" os prazos. "Se a gente já estava tranquilo, agora estamos mais ainda, porque o cronograma ganhou um ano de flexibilidade", afirma o secretário municipal para Assuntos da Copa, Luiz de Carvalho.
Segundo o secretário, o processo burocrático para a desapropriação está na fase de avaliação do valor de mercado dos terrenos. Depois será elaborado o decreto pela procuradoria do município, tornando os espaços áreas de utilidade pública. Ao todo, serão desapropriados 4.565 m². "Determinado o valor e o decreto de desapropriação sendo feito, aí o prefeito tem de assinar para que aconteça de fato a desapropriação", explica Carvalho.
A expectativa dos moradores é de que, sem a Copa das Confederações, o projeto seja revisto, alterando a quantidade de terrenos de 11 para cinco, número do projeto inicial. "Com esse tempo a mais, o certo seria haver uma adequação de projeto, que seria muito menos desgastante para a prefeitura, que desembolsaria menos dinheiro. Não é um achismo, é uma torcida", diz Fernando Leludak, dono de terreno na Rua Buenos Aires.
Porém, para Carvalho, o número de jogos que Curitiba sediará não interfere no assunto. "Vai existir uma obra e ela não dura apenas 11 dias. É uma obra definitiva. Eles estão saindo por motivo da execução de um projeto. A quantidade de jogos não tem nada a ver com desapropriação. Poderia ter um jogo só que seria a mesma coisa", garante.
Cícero Bittencourt, especial para a Gazeta do Povo
No dia seguinte à divulgação do calendário da Copa do Mundo de 2014, as calculadoras começaram a trabalhar em Curitiba. Fora da Copa das Confederações em 2013 e com participação reduzida no Mundial do ano seguinte, a cidade tenta transformar em números o impacto financeiro da derrota na elaboração da tabela.
Pela complexidade dos cálculos, o levantamento vai demorar a ser consolidado, mas é possível antecipar que boa parte da receita prevista já virou poeira.
"Do ponto de vista econômico, o reflexo é negativo. Não vamos nos iludir. A perda é importante e difícil de mensurar", desabafou o secretário municipal para Assuntos da Copa, Luiz de Carvalho. Ele prevê ter em mãos uma estimativa mais palpável em dez dias.
A ausência em 2013 será a primeira grande ferida na economia local, cuja cicatrização não estará finalizada até o principal evento da Fifa. "Deixaremos de receber vários turistas em uma competição que terá um país vizinho, o Uruguai [com a vaga garantida por ser campeão da Copa América]. Além disso, a cidade perde um ano de exposição estando fora da Copa das Confederações. É um torneio mais tímido, mas importante, com transmissão para o mundo inteiro e que pode atrair visitantes para 2014", complementou Carvalho.
A hotelaria, por exemplo, será diretamente afetada. O evento-teste estava nos planos do setor. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Paraná (ABIH-PR), Henrique Lenz César Filho, já estavam sendo feitos investimentos em capacitação, reforma e ampliação dos estabelecimentos para 2013. Esforço que não se vê na prática, pois o número de leitos ainda é insuficiente para os dias mais movimentados.
"Um encontro dos donos de hotéis na próxima terça-feira, com a presença de representantes da área da Fifa, servirá de termômetro. Vou escutar lamúrias, choro, com certeza", afirmou César Filho. "O baque foi enorme", ressaltou. Durante a reunião, há a intenção de se rever os contratos assinados com a entidade internacional em 2009 para diminuir possíveis prejuízos. Pelo acordo, 60% dos quartos seriam reservados para a Fifa, sem garantia de serem ocupados.
"Tínhamos a previsão de 20 dias de Copa do Mundo em Curitiba, com oitavas ou quartas de final. Serão 11, quase metade. O cenário mudou", explicou o dirigente da ABIH. O medo é tão grande que se estuda abrir espaço para a realização de congressos para o período do Mundial, o que inicialmente havia sido vetado.
A única voz destoante em relação ao impacto do calendário para Curitiba é a do secretário estadual para Assuntos da Copa, Mario Celso Cunha. Para ele, a fama da cidade no exterior deve atrair visitantes que vierem acompanhar partidas em outras subsedes e compensar a baixa participação nos jogos. "Se tivermos perdas, serão mínimas. Quem vem para a Copa vai circular pelo país. E Curitiba tem apelo."
O otimismo tem certo respaldo. Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) com turistas na Copa da África do Sul, em 2010, mostra que 83% dos visitantes fazem o turismo chamado "adicional". O levantamento informa ainda que 46% dos estrangeiros passam por três ou quatro cidades e gastam em média R$ 11 mil quase R$ 4 mil por sede visitada.
Esse dado, porém, traz de volta a lamentação. Mostra que não ter mais um jogo, nas oitavas, como planejado, custará caro à economia local. Tendo 60% do estádio ocupado por forasteiros, a receita gerada seria em torno de R$ 100 milhões. Sem depender da boa vontade de turistas acidentais.