Manifestantes com faixa escrita "O Maraca é nosso" em protesto contra as obras no estádio| Foto: Ricardo Moraes / Reuters

Com os rostos pintados de vermelho e ao som de "o Maraca é nosso", manifestantes caminharam cerca de dois quilômetros neste sábado para protestar contra a saída dos índios que ocupam a sede do antigo Museu do Índio, no Maracanã (zona norte do Rio). Eles também reclamam do que chamam de "privatização do Maracanã".

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"Saí do Recreio (zona oeste) e vim até aqui para mostrar meu descontentamento com o que está acontecendo na cidade. A população não quer nenhuma dessas mudanças que estão sendo impostas pelo governo", diz Eliane Farias, designer de interiores.

No dia 11 de abril deve ser divulgado o resultado da licitação de concessão do Maracanã à iniciativa privada. Há previsão de que alguns prédios no entorno, como o estádio de atletismo Célio de Barros, o parque aquático Julio Delamare e a escola municipal Friedenreich, sejam demolidos.

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"Treino no Julio Delamare há 13 anos. Tudo o que aprendi foi naquele local. Se demolirem o parque, o processo de preparação de todas as equipes que treinam lá pensando na Olimpíada será prejudicado. Nos disseram que se acabarem com o Julio Delamare, poderíamos treinar no Maria Lenk, mas não é a mesma coisa. A estrutura do Julio é muito superior", explica Monica Lages, atleta de saltos ornamentais.

O protesto também contou com a participação dos índios que estão lutando contra a sua retirada do prédio do antigo museu. O governo do Estado chegou a anunciar que o prédio seria demolido. Após protestos, recuou e decidiu manter e reformar o prédio para que seja construído um Museu Olimpíco no local.

"Vim do Maranhão para lutar contra a tomada do nosso museu e apoiar a minha raça. Aquele lugar é nosso!", diz o indígena Francisco Filho Guajajara.

Reféns

Na tarde de sexta-feira, índios que hoje moram no prédio do antigo museu fizeram refém um grupo que foi até o local para entregar a notificação judicial que estabelece prazo de três dias para a saída dos índios.

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Entre os reféns estavam a subsecretária estadual de direitos humanos do Rio, Andrea Sepúlveda, o defensor público Daniel Macedo, um assessor da procuradoria do Estado, dois representantes de organizações não governamentais e o próprio oficial de justiça.O governo do estado ofereceu alocar provisoriamente os índios em 30 quartos de um hotel no centro.

"Onde já se viu colocar índio em hotel? Nosso lugar é aqui onde podemos mostrar nossa cultura para que todos tenham a chance de conhecê-la", diz Kaiah Waiwai, que veio do Pará para aderir à causa dos indígenas.

O defensor público da União Daniel Macedo entrou no Tribunal Regional Federal da 2ª Região com um recurso para tentar reverter a notificação judicial que estabelece a saída dos índios em três dias. Macedo teme que, esgotados os meios jurídicos, possa haver resistência dos índios em sair do imóvel.

A marcha passou pelas principais ruas da Tijuca, na zona norte do Rio. Os ativistas saíram da praça Saens Peña, pararam na entrada principal do estádio e se dirigiram para o Museu do Índio. Durante 10 minutos, a pista central da avenida Maracanã ficou interditada no sentido centro. Agentes da Guarda Municipal e CET-Rio orientaram os motoristas. Policiais militares também estiveram no local.

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