Operários em greve que trabalham nas obras da Arena Pernambuco, estádio que irá receber jogos da Copa do Mundo de 2014 e está sendo construído em São Lourenço da Mata, na região metropolitana do Recife, entraram em confronto nesta quinta-feira (3) com a Polícia Militar, às margens da BR-408. Eles ficaram revoltados porque, de acordo com o sindicato da categoria, o Sintepav-PE, a polícia impediu a realização de uma assembleia ao retirar o carro de som sob a alegação de que estaria atrapalhando o trânsito. Um trabalhador que dirigia o veículo foi detido porque estaria sem carteira de habilitação.
A paralisação teve início na última terça, conta com a adesão de 95% dos 1,4 mil trabalhadores - segundo avaliação do Sintepav-PE - e tem por objetivo a reintegração de dois operários demitidos e a saída do coronel reformado da PM, Eduardo Fonseca, contratado pela empreiteira Odebrecht para fazer a segurança no canteiro de obras.
Os trabalhadores não têm nenhuma reivindicação salarial. Eles denunciam assédio moral e maus tratos por parte do coronel. "A ditadura acabou, não tragam o quartel para dentro da obra", afirmou o assessor do sindicato, Rogério Rocha, ao reiterar a opressão contra os operários. "Se reclamam, são ameaçados de demissão; se vão deitar em um momento de descanso, molham o chão para impedir; se saem do refeitório com uma laranja, tomam". O sindicalista garante ter sido ilegal o afastamento dos dois trabalhadores, pois eles integrariam a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).
Em nota, a Odebrecht informou que irá pedir, ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 6.ª Região que seja declarada a abusividade da greve. Disse que os operários temem voltar ao trabalho devido à ação do sindicato e informa que "por iniciativa do Governo do Estado, a Polícia Militar está presente no exterior do canteiro para proteger o patrimônio e os trabalhadores".
Para a Odebrecht, a paralisação é "descabida", já que vem sendo cumprido o acordo coletivo de trabalho firmado com o sindicato em setembro. E diz não caber ao sindicato contestar as duas demissões realizadas, "uma decisão legítima da empresa, a quem compete avaliar o desempenho de seus colaboradores". "Eles estão correndo para fazer o estádio a tempo para a Copa, mas o sindicato não vai fazer vista grossa para nenhum sacrifício humano", reagiu Rogério Rocha, ao prever uma ação do sindicato para que nesta sexta "não entre ninguém para trabalhar na obra".