Na Copa do Mundo anterior, na África do Sul, Diego Maradona era o treinador e a estrela da Argentina, seleção que terminou fracassando nas quartas de final, eliminada pela Alemanha. Ofuscou até mesmo Lionel Messi, então já consagrado como o melhor jogador do planeta. Quatro anos depois, no Brasil, El Diez está distante da Alviceleste, mas permanece sob os holofotes, agora na posição de comentarista.
Hospedado no Rio de Janeiro, na Zona Sul, grava diariamente o programa De Zurda (de canhota, na tradução), transmitido para as tevês de Argentina, Venezuela, Cuba, México, entre outros países. Dura cerca de meia hora e é apresentado pelo narrador uruguaio Victor Hugo Morales Zico, Asprilla, Sorín e outros ex-boleiros já participaram como convidados.
O SporTV, canal por assinatura brasileiro, tentou contar também com o ex-craque argentino. Depois de muita negociação, entretanto, nada feito. De acordo com o colunista Lauro Jardim, da revista Veja, Maradona queria receber parte do salário por fora (sem recibo), prostitutas e pediu a demissão do conterrâneo Daniel Passarella do quadro que participaria.
Na rotina carioca, o astro-analista foge de entrevistas, especialmente para veículos estrangeiros. Quando sai e chega ao centro de mídia, no Recreio dos Bandeirantes, está sempre com o filho caçula, Diego Fernando, no colo. É um "escudo" para escapar dos microfones.
Os jornalistas latinos menos os brasileiros têm mais chances de ouvir o que Dieguito tem a dizer. Mas é preciso respeitar algumas regras rígidas. As mais importantes: nada de aglomerações (cinco pessoas em volta, no máximo) e 10 minutos é o limite. Do contrário, amigos e seguranças entram em ação.
Críticas
Apesar de mais reservado só abre a guarda e o sorriso para os fãs , as opiniões dele não saem das manchetes. Até então o alvo preferencial é a Fifa e a organização do evento. "Se o Blatter [presidente da entidade] estiver nos assistindo, ele deveria se esconder no banheiro", comentou o ex-meia, numa das noites enfurnado no estúdio.
Maradona entende que a Fifa praticamente encerrou a sua carreira nos gramados. Crê ter sido sabotado no último Mundial que jogou, nos Estados Unidos, em 1994. Na oportunidade, acabou excluído da disputa após ser flagrado no exame antidoping com cinco substâncias proibidas. Atuou em duas partidas (triunfos sobre Grécia, 4 a 0, com um gol dele, e Nigéria, 2 a 1).
Um episódio recente esquentou o conflito. Credenciado, Maradona diz ter sido barrado na estreia da Argentina contra a Bósnia e Herzegovina (2 a 1), no Maracanã. E alegou ter havido "má fé". A organização afirmou não ter registro da tentativa de acesso. O único jogo que ele viu ao vivo foi abertura, os 3 a 1 do Brasil sobre a Croácia. Poupou os anfitriões de críticas. Sobraram elogios para os zagueiros David Luiz e Thiago Silva, taxados como "fenômenos". Na ocasião, ainda lamentou das vaias da torcida à presidente Dilma Rousseff no Itaquerão.
Na rodada seguinte, o empate com o México não teve perdão. "Não convence quando depende em demasia de Neymar. Eles sempre têm problemas quando enfrentam uma equipe mais organizada", declarou ao jornal Times da Índia.
A Argentina, por sua vez, conta com a condescendência de seu maior jogador de todos os tempos e responsável pelo último título mundial, em 1986. Maradona crê que o conjunto de Alejandro Sabella vai melhorar ao longo do torneio, depois da largada apenas razoável.
Comparações, nem pensar especialmente com Messi. Especula-se que os dois têm uma relação difícil, não se gostam, pelo temperamento quase oposto. Ambos negam. Semana passada, El Pibe fez questão de exaltar La Pulga. "Marcou 40 gols e teve uma temporada ruim? Querem que ele voe? Teria de fazer 90 gols. Vai fazer uma grande Copa. É um garoto sensacional", declarou.
Outro queridinho é Luis Suárez, do Uruguai. Um vídeo revelou Maradona vibrando com os dois gols do atacante na vitória por 2 a 1 contra a Inglaterra. Aparentemente, pesou mais a rivalidade com os ingleses do que com os sul-americanos, adversários tradicionais até mais do que o Brasil. "O melhor goleador que uma seleção pode ter", sentenciou.
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