O volante Geoffroy Serey Dié chorou tanto na execução do hino da Costa do Marfim na derrota contra a Colômbia que centenas de sites não hesitaram em replicar a notícia errada publicada pelo jornal inglês Daily Mail, informando a morte do pai do atleta pouco antes do jogo. Era só emoção mesmo. Emoção transbordada em lágrimas, mas vista em outras versões em vários times perfilados para a execução da música oficial dos seus países. É uma bomba de nacionalismo no gramado e pulsando com bandeiras e cores nas arquibancadas.
Na seleção brasileira, que decide nesta segunda-feira em Brasíiia, às 17 horas, com Camarões a classificação às oitavas, a extensão do hino nacional cantada à capela após o fim dos acordes no sistema de som virou um cartão de visitas. Na estreia com a Croácia, o goleiro Júlio Cesar não resistiu e chorou. Contra o México, foi a vez de Neymar se emocionar com o canto vigoroso e o coral de milhares de fãs. Cena que deve se repetir agora na capital federal.
"Depois de ter visto a maneira como os jogadores brasileiros cantaram o hino, talvez devêssemos apenas cantarolar o nosso. Não podemos competir com isso", afirmou Gary Lineker, artilheiro da Copa de 1986 pela seleção inglesa e que é comentarista da rádio BBC durante o Mundial deste ano.
Foi contra os mexicanos, na Copa das Confederações 2013, que a pratica de popularizou. A primeira vez, contudo, que Hino Nacional foi cantado dessa forma foi em 2011, no Superclássico das Américas, entre Brasil e Argentina, em Belém.
"As pessoas têm orgulho de lembrar suas raízes. É bonito de ver. Nossas pessoas e outros países com orgulho de ser de onde são. Não é uma competição. Uma coisa mágica que está acontecendo. Como foi lá em Fortaleza com os torcedores do México, praticamente dividir o estádio. Atmosfera linda para o futebol", afirmou o zagueiro David Luiz.
Tamanha emoção não é uma unanimidade. "Acho que você tem de estar concentrado no jogo. É uma hora de respeito. No primeiro jogo até entendo. É diferente, você está no Brasil, jogando uma Copa. E isso prejudicou o Brasil no início. Muito jogador emocionado, você esquece um pouco o clima no jogo. No segundo jogo, você sabendo que vai acontecer aquilo, eu acho que o jogador tem de ter um autocontrole maior em todos os sentidos", analisou o ex-jogador Zico ao canal Sportv.
Opinião de quem cantou muito o hino de chuteira, endossada por especialistas. "Concordo plenamente com o Zico. Antes do jogo se faz um trabalha intenso de aquecimento e preparação para a partida e qualquer coisa que atrapalhe esse foco é ruim. Pode até aumentar o batimento cardíaco, a emoção. Mas é inegável que tira o foco e atrapalha a concentração. Não ajuda", explicou o consultou motivacional Evandro Mota.
Hoje no Benfica, o brasileiro trabalhou nas seleções nas Copas de 1994 e 1998.Ele explica que no futebol, em questão de segundos pode-se colocar tudo a perder e como seleção sempre impôs seu ritmo, não estar totalmente focada pode atrapalhar e dar até uma certa vantagem ao adversário.
"Para o espetáculo do futebol é maravilhoso. Para os atletas, pode ser um adversário mortal. A concentração é o primeiro mecanismo psicológico que se busca para o desempenho", reforça a psicóloga especialista em psicologia esportiva, Suzy Fleury, que também já trabalhou na seleção.
"Vejo o Felipão incentivando isso como um aspecto motivacional e considero um perigo. Não se deve contar com os aspectos externos, pois são incontroláveis. O atleta perde o foco na ação", comentou. "O Neymar chegou a chorar. O jogador pode até achar lindo. Mas não são apenas sensações. Aí vêm os pensamentos automáticos circulando e pensa-se em jogar pela torcida, defender o país, lembra da família e desfoca. Isso é grave, ainda mais em uma competição tão importante como a Copa do Mundo", acrescentou.
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