Copa perde desapropriações
O cancelamento de uma das obras vinculadas à Copa do Mundo em Curitiba fez com que o número de desapropriações causadas pelo evento da Fifa diminuísse.
"Tínhamos algumas projeções em áreas que teriam maior impacto, como o Corredor Metropolitano, em áreas densamente ocupadas, mas que foi retirado da Matriz de Responsabilidades", diz a coordenadora do Núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles, Olga Firkowski.
A obra, que passaria pela capital e seis cidades da Região Metropolitana, foi inicialmente orçada R$ 130,7 milhões e estava sob responsabilidade do governo estadual, estimando que mil famílias seriam afetadas.
Em São José dos Pinhais, a comunidade Vila Nova Costeira soube há pouco mais de dois anos que estão em área que será destinada à construção da terceira pista do Aeroporto Afonso Pena [obra que o governo estadual tentou que fosse realizada para o evento da Fifa].
A prefeitura de São José dos Pinhais tenta regulamentar a situação das 225 famílias no local, visto que estão em terrenos da prefeitura e sem escrituras, sendo que 65 delas correm risco de remoção.
R$ 14,5 milhões é o valor total que a prefeitura de Curitiba pagou nas indenizações das desapropriações de 16 lotes no entorno da Arena. O valor pode ter alterações nos casos em que os moradores discutem os custos na Justiça. "Há várias maneiras para termos o ressarcimento, mas o mais interessante para nós seria a permuta, em que o Atlético compraria terrenos de interesse da prefeitura para instalar novos aparelhos para a Saúde e Educação, por exemplo", fala o secretário municipal da Copa, Reginaldo Cordeiro.
Do número 1.358 da Rua Buenos Aires restou apenas o pinheiro e as memórias da família Leludak, desapropriada pela prefeitura em 11 de maio deste ano. Antes do fim do mês, a casa da década de 1930 já tinha sido colocada abaixo para a continuidade das obras da Arena para a Copa do Mundo.
A residência era uma das 16 áreas que a prefeitura desapropriou para que o Atlético possa fazer um estádio com o selo Padrão Fifa com apenas cinco acordos, 11 brigas na Justiça. Ao todo, o clube ampliou em quase 6,3 mil metros quadrados sua praça esportiva.
Se do lado das obras o problema foi solucionado, do lado da família Leludak, ainda não: mais de um mês depois de deixarem o local em que viveram por 12 anos, eles ainda não receberam os 80% do valor da indenização discutida na justiça.
"Eu, meu marido e meu filho estamos vivendo de favor em um apartamento emprestado, minha mobília foi espalhada nas casas de parentes, pagando um hotel para meus cães, fazendo dívidas", diz a dona de casa Denise Leludak, 47 anos.
A verba foi liberada pela prefeitura, mas ainda segue trâmites legais e a previsão é que chegue nos próximos dez dias. "Questionamos o valor da indenização [conquistaram um acréscimo de 32% sobre o avaliado pelo município]. Temos outra ação em curso que questiona a legalidade do decreto de desapropriação, já que a prefeitura concedeu o terreno para uma instituição privada", diz o técnico mecânico Fernando Leludak, 47 anos. A área vai abrigar o estacionamento e o setor de hospitalidade do remodelado Joaquim Américo.
O casal é um dos poucos dispostos a falar sobre sua situação. A reportagem da Gazeta do Povo contatou outras três famílias desapropriadas do entorno do estádio. Preferiram não falar, justificando que já sofreram e agora querem seguir a vida. O economista Mário Beatriz Junior, 58, conta que a mãe, Euzilda, 77, está provisoriamente em uma casa alugada enquanto espera a liberação do capital pelo poder público. "Ela se sentiu expulsa da casa em que morou por quase 60 anos", diz.
O secretário municipal da Copa, Reginaldo Cordeiro, afirma que as 16 áreas são propriedade da prefeitura e estão emprestadas para o Atlético até 31 de dezembro de 2014. "Temos um acordo firmado [em um termo aditivo ao convênio entre prefeitura, Atlético e governo estadual] em que até essa data o clube tem de ressarcir, por permuta ou pagamento em espécie, o valor da desapropriação. Se isso não acontecer, tomamos de volta. O clube tem interesse em cumprir sua parte porque são áreas de acesso ao estádio e precisarão delas para conseguir o certificado de vistoria de conclusão da obra", explica.
Cordeiro acrescenta que se não fosse as exigências da Fifa, o Atlético conseguiria terminar a Arena sem usar os lotes desapropriados. "A decisão de trazer a Copa para Curitiba foi para ter o legado. Temos seis obras que vão dar um grande avanço para a cidade e, sem o Mundial, não teríamos esse dinheiro com o carimbo Copa para executá-las. E para ter a Copa, precisávamos do estádio", diz.