![Hoteleiros descartam risco de superlotação Placa alusiva ao Mundial de 2014 na Avenida das Torres: número de visitantes na cidade deve ficar abaixo das previsões | Priscila Forone/ Gazeta do Povo](https://media.gazetadopovo.com.br/2011/11/b2ebf8eb29b86f8d0071cdd77d8edc1a-gpLarge.jpg)
Levantamento oficial sinaliza caos na acomodação de turistas
O Ministério do Turismo publicou em julho deste ano uma estimativa de visitantes para cada sede durante a Copa do Mundo 2014. De acordo com esse documento, Curitiba veria 20 mil turistas estrangeiros desembarcarem na cidade para cada partida. No mesmo período, 81 mil brasileiros se deslocariam para a capital paranaense. Considerando os cerca de 7 mil leitos disponíveis na cidade, a estatística de 101 mil forasteiros colocaria em xeque a aparente calma apresentada pela hotelaria do município.
"É muita gente. Esse número está furado. Não vai acontecer. Só teremos um jogo grande, de cabeça de chave, por aqui", disse o presidente da ABIH-PR, Henrique Lenz César Filho. Ele se apoia na atuação da Match, empresa responsável pelos ingressos e hospedagem para o torneio da Fifa. "Eles reservaram 13 mil leitos e é o que poderão negociar", afirmou. A estimativa é que até 7 mil quartos também possam ser comercializados diretamente pelos hotéis.
Esse número, porém, leva em consideração toda a hotelaria das regiões vizinhas a Curitiba até 120 km, como exige a Fifa incluindo Paranaguá e Ponta Grossa. Uma conta que pode não fechar. "Quem vier de fora para a Copa vai querer ficar na cidade e não nos arredores. Na Alemanha era possível ficar em uma cidade vizinha, aqui não. A facilidade de locomoção não é a mesma e a língua também atrapalha", opinou o presidente da HotelInvest, Diogo Canteras, que também questiona a projeção do governo federal.
Um número que reforça a posição contrária à do Ministério do Turismo é o do palco da Copa em Curitiba: a Baixada só terá lugar para 42 mil torcedores, bem menos do que os 101 mil visitantes estimados.
Alternativas
Visitantes tem opção de plano B
Hotel não é a única saída para abrigar quem pretende assistir à Copa do Mundo. Motéis, pensões, pousadas, casas de amigos, parentes e até residências particulares alugadas estão na mira dos fãs de futebol para poder acompanhar o torneio sem gastar muito.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas para o Ministério do Turismo durante o Mundial de 2010, na África do Sul, deixa claro que a rede hoteleira tem papel preponderante, mas não exclusivo para dar abrigo aos turistas. Pelo levantamento, 69% dos entrevistados ficaram em hotéis. A segunda forma de hospedagem mais utilizada foram as pousadas (10%).
Albergues, casas de particulares colocadas para locação algo comum no Rio para o Carnaval ou o Ano-Novo, por exemplo e outros meios de hospedagem foram citados por 5% dos visitantes. Uma parcela de 6% dos turistas da África do Sul aproveitou para filar descanso na casa de familiares ou conhecidos, o que se espera que seja repetido em 2014, principalmente entre os torcedores brasileiros que rodarem o país.
2 estrelas
Uma das hipóteses levantadas pelo presidente da ABIH-PR, Henrique Lenz César Filho, para a falta de leitos registrada em determinadas datas em Curitiba é a quantidade de hotéis de 2 estrelas. Esse tipo de hospedagem, bem mais simples, corresponde a cerca de 60% da oferta atual. "Pode ter algum tipo de rejeição de certos visitantes, que desejam mais estrutura, mais conforto", avaliou. "Não acredito em lotação completa na cidade. Tem lugar para todo mundo. É preciso procurar", falou, lembrando que há sites especializados em pesquisar vagas em hotéis.
Torcedor-turista disposto a ver um dos quatro jogos da Copa-2014 em Curitiba não tem o direito de dormir no ponto. O risco de ficar sem-teto, dependendo das partidas que a capital paranaense abrigar, é enorme.
Considerando apenas o movimento médio de visitantes durante o ano, a cidade-sede do Mundial não precisaria de novos leitos, segundo estudo da consultoria HotelInvest. Mas o cenário para o evento da Fifa é diferente calcula-se que até 100 mil forasteiros circulem em dia de jogos.
A ocupação dos quartos de hotel na capital em condições normais seria de 68% (dados de 2010 da pesquisa), porém a razoável folga na oferta de acomodações tem sido facilmente superada nos períodos de maior movimento como se espera no Mundial.
No fim de semana dos dias 12 e 13 de novembro, por exemplo, Curitiba teve ao mesmo tempo o vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia. Somando os visitantes para as duas atividades, os 7 mil leitos da cidade foram insuficientes.
O time de futebol do Guarani, que jogava na capital dia 12, antecipou sua volta para Campinas justamente por não ter onde ficar depois de enfrentar o Paraná. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do Bugre. O Flamengo, que jogou com o Coritiba no dia seguinte, viveu drama semelhante.
"Essa lotação só ocorre em alguns dias de outubro e novembro, quando temos vários congressos e eventos na cidade. No restante do ano, a ocupação dos quartos é baixa. Em junho, para se ter uma ideia, só 30% dos quartos são alugados", defende o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Paraná (ABIH-PR), Henrique Lenz César Filho.
Para ele, apesar dos problemas pontuais do setor, é claramente inviável construir e manter novos hotéis, por pura falta de demanda na maior parte do ano.
A opinião é compartilhada pelo presidente da HotelInvest, Diogo Canteras. "Tudo que Curitiba não precisa hoje é voltar a ter uma superoferta de quartos. Acabou de sair desse quadro", afirmou.
O estudo divulgado pela consultoria (3.ª edição do Placar da Hotelaria 2015) indica inclusive que a capital paranaense vive um momento de saudável equilíbrio no setor. Ao lado de São Paulo e Rio, é uma das poucas cidades com baixo risco de excesso de quartos em todas as faixas de preço após o Mundial.
Para 2015, a taxa de ocupação prevista é de 76%. Já Belo Horizonte, uma das subsedes que mais tem investido em novos hotéis, tende a ver uma queda brusca e perigosa para o setor nessa estatística. Da média de 74% dos leitos com hóspedes em 2010, passaria para 52% no ano posterior ao da Copa.
Assim, no entendimento de Canteras, reforçar a estrutura hoteleira em Curitiba causaria mais transtornos desnecessários do que benefícios ao mercado local. "Não haverá problema de hospedagem. Nesse período, tudo para. Não tem salão do automóvel, congressos... Boa parte dos quartos é reservada só para a Copa", complementou.
Um certo pessimismo também contribuiu para a aposta em manter a atual estrutura do setor. Como Curitiba só receberá uma partida de uma seleção cabeça de chave e três de equipes teoricamente menos expressivas, a expectativa de Canteras e César Filho é de movimento apenas regular durante o torneio.
O relativo fracasso do setor no Mundial de 2010 é outro argumento favorável à cautela nos investimentos. "Na África do Sul, o aumento da movimentação na hotelaria foi de apenas 10% em relação ao ano anterior", finaliza Diogo Canteras.
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