Com alguma dificuldade de locomoção causada por uma lesão no joelho esquerdo durante uma pelada, Carlos Alberto Torres caminha até o centro da roda improvisada com a taça Fifa nas mãos. Estufa o peito como se estivesse na tribuna de honra do Estádio Azteca, na tarde 21 de junho de 1970. Mas, ao contrário da cena final da maior seleção de futebol da história, não levanta o troféu em triunfo.
"Posso segurar e beijar, mas me recuso a erguer a taça. Já levantei uma. Agora vai ser a vez do Thiago Silva erguer", disse o capitão do tri, referindo-se ao capitão do time de Luiz Felipe Scolari.
A brincadeira para descontrair a plateia de quase cem jornalistas, neste sábado (3), em Curitiba, traz consigo uma preocupação. Carlos Alberto teme que a falta de experiência em mundiais atrapalhe o Brasil na missão de conquistar o hexacampeonato dentro de casa.
"O grande adversário do Brasil é a inexperiência. Temos uma seleção, hoje, de boa para grande, que em 2018, quatro anos mais velha e com a experiência de uma Copa, será superfavorita", afirmou.
Carlos Alberto Torres foi o anfitrião da passagem da taça Fifa por Curitiba, ontem. Uma turnê mundial com escala em 89 países e 15 mil quilômetros percorridos, iniciada em setembro e com término marcado para o fim do mês, em São Paulo. Como em todas as paradas, foram convocados ídolos locais para receber a relíquia: no caso, Dirceu Krüger e Nilson Borges. Tocar no troféu, porém, era um privilégio exclusivo do campeão mundial presente, conforme as regras da Fifa.
Uma honra restrita a 94 brasileiros -- 74 deles vivos. Para incluir 23 nomes nesta lista, o capitão do tri vê Neymar como uma peça fundamental em uma batalha quase solitária, que tem Argentina, Alemanha, Itália e Espanha como maiores oponentes. Com brecha para uma única surpresa, a Bélgica.
"Se ele se recuperar bem da contusão, tem de ser ele o jogador a desequilibrar. Não vejo outro nome. O Brasil sempre teve grandes duplas nos títulos mundiais: Pelé e Garrincha, Romário e Bebeto, Ronaldo e Rivaldo. Ainda não vejo um segundo grande nome nesse time", afirmou.
Depois de algum esforço, o capitão do tri cita Willian como um potencial parceiro para Neymar. O meia do Chelsea começará na reserva, mas foi um dos oito nomes antecipados por Felipão há cerca de dez dias, em São Paulo -- Julio Cesar, Thiago Silva, David Luiz, Ramires, Oscar, Paulinho e Fred também estão assegurados. Considerando que Neymar também irá ao Mundial, restam 14 vagas, que Scolari anunciará na próxima quarta-feira, no Rio de Janeiro, provavelmente sem grandes surpresas.
"Não vejo ninguém que possa ser uma surpresa. Não temos, no futebol brasileiro, um jogador fora de série que tenha despontado e possa entrar de uma hora", diz. "Estão falando de um nome que vá espantar todo mundo. O Miranda? Não creio que seja surpresa, embora eu prefira o Dedé nessa vaga", complementou.
Além do desempenho do Brasil em campo, Carlos Alberto Torres também demonstra preocupação com a organização do torneio. A pouco mais de um mês para o início da Copa e com estádios ainda em obra, ele vê que o país perdeu uma grande chance de causar boa impressão.
"Os estádios tinham de estar prontos há um ano, como foi na Alemanha. As pessoas não perceberam a oportunidade de mostrar o país que é uma Copa do Mundo. Não é campeonato estadual", afirmou.
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