O sujeito entra na banca de revista e pede, sem pudor, vários pacotes de uma só vez. A apreensão é tanta que mal espera para abri-los em casa. Rasga o envelope com uma dose de cuidado e, ao mesmo tempo, outra ainda maior de esperança. O resultado varia, mas quase sempre o desfecho é mais um punhado de repetidas.
Que atire a primeira figurinha quem nunca passou por uma cena como essa. Desde 31 de março, para muita gente, ela virou rotina. O lançamento do álbum da Copa do Mundo foi o pontapé extraoficial para os torcedores entrarem no clima da Copa. Sem distinções.
A aposentada Ana Maria Assumpção, 61 anos, por exemplo, entrou na brincadeira por dois motivos. Em primeiro lugar, para deixar a coleção de lembrança para os netos. Depois, vem um ar de nostalgia.
"Quando era criança existia álbum de tudo que é tipo, hoje é mais difícil. Colecionava figurinhas de artista de cinema, da bala Zequinha, de futebol... Aquela lembrança boa a gente acaba recordando hoje", conta a aposentada, que transformou o tradicional almoço de domingo com a família em um verdadeiro ponto de trocas.
Entre filhos, sobrinhos, primos, irmãos e netos, a troca de cromos se sobrepõe a qualquer assunto. Na camaradagem, um ajuda o outro a conseguir as 649 figurinhas.
Em outros ambientes, contudo, o escambo nem sempre é justo. As más línguas dizem que na Praça da Ucrânia, em Curitiba, existem alguns mercenários de figurinhas entre as centenas de pessoas que vão lá todos os sábados para tentar conseguir a derradeira.
Graças a um deles, o veterinário Jeancarlo Rumor, 37, completou seu álbum há um mês. Neymar, o número 48, era a que faltava. "Custou mais de 30 figurinhas, incluindo brasões e times quase completos. Mas faz parte da brincadeira", consola-se o rapaz, que apelou para grupos no WhatsApp e no Facebook para finalizar a coleção.
O veterinário, que já terminou o primeiro álbum, iniciou outro, de capa dura, vendido em livrarias e em algumas bancas. Coisa de criança? É claro que não. "Os amigos tiraram sarro no começo, mas no fim toda a turma da pelada está fazendo o álbum também", explica.
"Na verdade comecei pelo meu filho, mas virou uma febre. Cada um está com um álbum", enfatiza o administrador Ricardo Santiago, 33.
Até quem é muito jovem para entender de futebol, acaba se divertindo. A coleção do professor de educação física Ericson Pereira, 33, na verdade, virou o xodó do filho Antônio, de 2 anos e meio. "Ele adora colar, já sabe identificar as cores dos países e chega até a dormir com as figurinhas na mão", conta.
Para quem começou sem pretensão, o professor foi totalmente contagiado pela febre da Copa. Ele nunca havia feito coleção de figurinhas antes, mas já descobriu que formar uma rede de contatos é a melhor forma para não deixar nenhum espaço sobrando. Família, amigos, alunos e colegas de trabalho viraram parceiros de trocas, assim como desconhecidos em bancas e praças.
Por cerca de R$ 250, é possível encontrar em sites de vendas online o álbum completo, com todas as figurinhas soltas para colar. Valor até menor do que muita gente gasta para concluir. "Mas o gostoso do negócio é você interagir com as pessoas para terminar. A emoção é esta, mesmo que se gaste um pouco a mais", afirma Pereira, que investiu aproximadamente R$ 300 até obter o valioso número 223, que tem a foto posada do time da Costa do Marfim.
"O gostoso é poder trocar. Até debaixo de chuva você troca. Se molha inteiro, mas não molha as figurinhas", completa Rumor.
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