Ex-jogador argentino comanda programa com tons políticos na tevê venezuelana| Foto: Reuters

Em fevereiro deste ano, ao assinar contrato para fazer um programa de televisão para a Telesur durante a Copa do Mundo, Diego Maradona não fez a menor questão de mostrar imparcialidade. "Creio na Venezuela. Viva Chávez! Viva Maduro! Viva a Venezuela! Avante!", bradou o maior nome da história do futebol argentino, em vídeo divulgado pela emissora.

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Telesur é o canal estatal do governo venezuelano comandado por Nicolás Maduro, discípulo de Hugo Chávez.

O programa "De Zurda" estreou na noite desta segunda (9). Feito ao vivo no IBC (International Broadcast Center) no Rio de Janeiro, é transmitido para a Venezuela e retransmitido pela TV Pública argentina. É diário, das 22h às 23h.

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"Meu candidato [ao título] é o Brasil, tendo em conta de que os candidatos sempre caem", disse Maradona, meio brincando, meio a sério, logo nos primeiros minutos.Ele divide a bancada com o radialista uruguaio Victor Hugo Morales. Radicado na Argentina desde 1981, é um dos narradores mais famosos da história do país. A narração mais famosa de Morales é a do segundo gol de Maradona sobre a Inglaterra, na Copa de 1986. Áudio que está na abertura do programa feito pelos dois no Rio.

Morales, defensor ferrenho do governo Cristina Kirchner, é apenas escada para Maradona. Levanta as bolas para o ex-camisa 10 chutar. E Diego não se faz de rogado. Fala sobre futebol, política, ataca adversários e conta histórias antigas, que são quase de domínio público, mas antes começando com "acho que eu nunca falei isso antes..."

"A Fifa leva US$ 4 bilhões [com a Copa]. O país campeão leva US$ 35 milhões. Está errado isso. A multinacional está acabando com a bola. Você, [Joseph] Blatter [presidente da Fifa], não faz nada e está rico. Não é como Bill Gates [dono da Microsoft], que trabalha. Você não faz nada!", disparou contra a entidade que organiza o torneio e contra quem viveu boa parte da carreira às turras.

Como seria esperado em programa produzido por emissora estatal da Venezuela, o show de Maradona tem tons políticos. A começar pelo trocadilho no nome. "De Zurda" significa "de canhota". De esquerda, a ideologia do ex-craque, que não revela o cachê pelas participações televisivas. A Telesur também não toca no assunto.

Maradona mandou beijo para o "comandante" [Fidel Castro] que estaria assistindo ao programa "na ilha" [Cuba]. Ele e Morales citaram que a segunda-feira marcou aniversário da única vitória de Cuba em Copas do Mundo: 2 a 1 sobre a Romênia, em 1938. Uma estatística que não costuma ser lembrada. Até porque, o país não está no torneio deste ano.

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Apostando em boas campanhas para todas as equipes sul-americanas no Mundial, ele também comentou sobre futebol. E falou de si mesmo. Citou que em 1990 chegou para a competição na Itália com uma unha encravada. Quando foram tirá-la, arrancaram também a pele do dedo. Foi nessas condições que enfrentou o Brasil nas oitavas de final e liderou sua seleção à vitória.

"Na Copa de 1982, eu queria dar uma pancada no Falcão mas errei e peguei no Luisinho", se recorda, falando sobre a expulsão no jogo entre os dois países na Espanha. Maradona se enganou no nome. Ele acertou o volante Batista.

Com a condição de dono do microfone e estrela solitária no "De Zurda", Maradona foi ficando cada vez mais à vontade com o passar dos minutos. Avisou que Ronaldinho Gaúcho estará presente nos próximos dias (assim como Falcão), contou como fez o gol de mão contra os ingleses em 1986 e opinou que o grande problema do torneio deste ano no Brasil é a Fifa.

"Não tenho dúvidas que o Brasil fará uma grande Copa. Mas não nos esqueçamos das pessoas da Fifa. Que poder... Que poder feio! A verdade é que não há clima para o Mundial. Torço por Dilma [Rousseff], mas este evento chegou aqui trazido por pessoas ruins", atacou, mais uma vez.

Não é a primeira experiência de Maradona na televisão. Ele havia comentado o Mundial da Alemanha, em 2006, pela Cadeia Quatro, da Espanha. Um ano antes, havia sido co-apresentador de uma série de episódios do programa "A Noite do Dez" na Argentina. Entrevistou Pelé, Mike Tyson e Fidel Castro.

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