Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, deixou bem claro em evento na Rússia que a entidade está preocupada com a morosidade brasileira.| Foto: Denis Sinyako/ Reuters

"Parece que o Brasil está mais preocupado em ganhar a Copa do Mundo do que em organizá-la. O Brasil não tem estádios, não tem aeroportos, nem um sistema de transporte nacional em funcionamento". A avaliação nada positiva da sede da próxima Copa do Mundo é a nova mensagem do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, ao Brasil. O diretor da entidade já se acostumou a criticar a organização daquele que é considerado o país do futebol. Ontem (24/06), fez as observações durante o seminário Inside World Football, na Rússia, sede da Copa de 2018.

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"Não diria que o trabalho começou atrasado, mas acho que não avançou muito até agora", completou Valcke, mostrando ainda outro lado de sua personalidade, o político. Depois do tapa na cara, ele sempre dá um jeito de amenizar o discurso. Tem feito isso desde que ficou evidente a lentidão brasileira na preparação para o Mundial 2014.

Nem sempre, porém, a fala áspera e os panos quentes andam juntos. Mais de uma vez, o secretário-geral da Fifa se viu obrigado a medir as palavras depois de causar desconforto. Atitude contraditória também exibida pelo presidente da entidade, Joseph Blatter.

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Em maio de 2010, por exemplo, Valcke reclamou do estado dos estádios para o torneio na América do Sul. "Recebi um relatório sobre a situação dos estádios brasileiros e preciso dizer que não é muito boa. É impressionante como o Brasil já está atrasado. A maioria dos prazos já foi desrespeitado e nós precisaremos trabalhar com novos prazos", comentou.

Não era a primeira vez que ele reclamava. Antes mesmo dessa oportunidade, o dirigente sabia que estava ficando chato nas insistentes cobranças por maior agilidade das autoridades brasileiras. "Já estou sendo criticado no Brasil, é um grande início. Me encanta esse país. Gostaria de não ser o menino mau, mas a verdade é que há muito para fazer e não se pode perder tempo", falou, em fevereiro do ano passado.

A bronca da Fifa com o aparente pouco empenho nacional em acelerar as obras tirou até o presidente Blatter do sério. Em março de 2011, soltou o verbo. "Gostaria de dizer para os brasileiros que a Copa é amanhã e eles estão pensando que é depois de amanhã. Comparando Brasil e a África do Sul três anos antes do Mundial, o Brasil não está tão adiantado quanto a África estava", disparou o suíço.

A rispidez durou pouco mais de duas semanas. Tempo suficiente para as indignadas reações brasileiras a seu discurso forçarem Blatter a mudar radicalmente de opinião. "Recebi relatórios muito positivos sobre o andamento dos preparativos para o Mundial, especialmente na construção de estádios, mas também de aeroportos e hotéis em diferentes regiões do Brasil. Eles tomaram minha questão como uma crítica e começaram a trabalhar como grandes. Neste momento, não temos nenhum problema", disse, em abril, para não mais tocar no assunto.

A missão de espezinhar a futura sede da Copa do Mundo passou a ser exclusividade do francês Valcke. Além de afirmar que o país hoje não tem infraestrutura para receber o torneio, ele ainda mirou especificamente a capital paulista, onde o Itaquerão nem começou a ser erguido. "[O estádio de] São Paulo pode ficar pronto a poucas semanas do Mundial. Terminar os estádios é a parte mais importante. O de São Paulo não pode ficar pronto no último minuto", criticou.

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