Os novos campeões mundiais têm a aprovação de quase todo mundo. O técnico Joachim Löw declarou que talvez o ápice de sua carreira tenha sido a viagem de ônibus até o aeroporto de Belo Horizonte depois da vitória por 7 a 1 sobre o Brasil: ele e sua equipe foram aplaudidos por milhares de brasileiros que estavam nas ruas.
A Alemanha não é o time perfeito, mas é o melhor do mundo neste momento. É a referência para todo o mundo do futebol. As pessoas estão estudando o time de Löw para tirar lições, esperando poder copiar sua estratégia. O problema é que provavelmente só países da Europa ocidental poderiam fazer o que a Alemanha fez.
O projeto de reinventar o futebol alemão começou devagarzinho, depois do Euro-2000, quando a Alemanha fracassou. Os alemães viram que suas "virtudes alemãs" trabalho duro, velocidade, espírito de luta etc. tinham sido assimilados por outros países. E mais: esses países jogavam melhor que eles. O projeto alemão acelerou em 2004, quando Jürgen Klinsmann assumiu o cargo de técnico. Ele definiu uma meta: produzir um grupo de atacantes capazes de fazer passes rápidos. Não era só um desejo. A DFB, federação alemã de futebol, com 6,85 milhões de membros, é a maior associação do tipo no mundo. Rapidamente, crianças de todas as cidades alemães estavam aprendendo o futebol modelo Klinsmann nos clubes locais.
Em outras palavras, é preciso um país inteiro para criar um time como esse. E raros são os países que conseguiriam administrar um projeto dessa envergadura. O técnico da Argentina, Alejandro Sabella, comentou antes da final: "Claramente, este é um país de primeiro mundo que sabe que está tocando um projeto de médio ou longo prazo". O Brasil, que agora precisa reinventar seu futebol, não tem esse tipo de poder organizador ao mesmo tempo centralizado e paciente.
Para criar a seleção alemã que venceu no Maracanã também foi preciso um clube. Não apenas metade da equipe joga para o Bayern Munique, mas Philipp Lahm, Bastian Schweinsteiger, Thomas Müller e Toni Kroos surgiram no juvenil do clube. A campeã mundial de 2014 foi fabricado em Munique. E foi produzida em partes por estrangeiros. Louis van Gaal, o holandês que treinou o Bayern para a final da Liga dos Campeões em 2010, resgatou o adolescente Müller do banco de reservas e convenceu Schweinsteiger que os alemães entendiam ser um atacante que ele era um meia importante para a defesa.
Van Gaal e o atual treinador do Bayern, Josep Guardiola, levaram o know how dos dois países que eram os líderes em velocidade de jogo naquele momento, Holanda e Espanha. A Alemanha completou 3.754 passes no Brasil, um recorde em Copa do Mundo desde que a medição começou em 1966, segundo a Opta, uma agência especializada em dados e estatísticas; os espanhóis foram campeões em 2010 com 3.753. Guardiola, que ajudou a desenvolver o "tiki taka" que fez a glória da Espanha, pode dizer que teve influência em dois títulos mundiais.
Criar a atual seleção alemã foi trabalho para um continente. Os alemães passaram uma década aprendendo com os melhores da Europa. Eles tomaram os passes rápidos da Premier League inglesa. Copiaram dos franceses o recrutamento de jogadores vindos das minorias étnicas e triunfaram no Brasil com o turco-alemão Mesut Özil e o ganense-alemão Jerome Boateng. Manuel Neuer encarnou o sonho holandês dos anos 70 de ver goleiros que são jogadores como qualquer outro em campo, apenas usando luvas. No Rio, na véspera da final, um ex-goleiro alemão me disse que hoje qualquer um pode fazer defesas e que isso não é mais suficiente. Neuer completou 244 passes durante a Copa, dois a mais que Lionel Messi. Ele pode até driblar. Johan Cruijff, pai do futebol holandês, adora Neuer.
Os alemães redescobriram o espírito de luta, mas também gols de escanteio e pênaltis, que a seleção de Löw antes desdenhava. O treinador orientou seus jogadores antes da final: "Vocês têm que se entregar como nunca fizeram antes". E os jogadores fizeram mesmo, no velho estilo alemão.
O momento de mais brilho do grupo, o 7 a 1 contra o Brasil, foi um pastiche de futebol alemão, holandês e espanhol e ao mesmo tempo prestou tributo ao velho "jogo bonito" brasileiro. Aquilo que se viu nesta Copa não foi futebol alemão. Foi o futebol da Europa Ocidental em 2014.
Apenas 6% da população mundial vive na Europa ocidental. Mas em grande parte porque os países da Europa ocidental são interconectados e aprendem uns com os outros, eles venceram três Copas seguidas. Nenhum continente havia conseguido isso antes.
Dos nove lugares no pódio nesses três últimos Mundiais, os países europeus ficaram com oito. Depois da implosão do futebol brasileiro, os outros 94% da humanidade têm apenas uma seleção que rivaliza com os melhores europeus: a Argentina. Com a próxima Copa acontecendo na Europa, pode-se apostar que os europeus vão vencer sua quarta Copa seguida.
Simon Kuper é jornalista do britânico Financial Times, onde trabalha desde 1994. É autor de diversos livros sobre futebol, incluindo o Soccernomics (2009). Foi colunista da Gazeta do Povo durante a Copa.
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