Na opinião do diretor da área de consultoria esportiva da BDO RCS, Amir Somoggi, o Brasil se atrasou no planejamento para a Copa do Mundo. Isso fez o país perder a chance de captar investimentos para o futebol. Nesse cenário, Somoggi, que fez uma auditoria sobre a viabilidade financeira da Arena da Baixada, garante que o estádio atleticano está um passo a frente dos demais apesar de ter as obras mais atrasadas, de acordo com o TCU.
Será difícil os estádios brasileiros terem retorno do que foi investido?
O Brasil tem vários problemas centrais na questão da construção das arenas. A primeira é a megalomania do brasileiro. Nós não colocamos na ponta do lápis o que deveríamos ter feito em planejamento de estádio. A segunda questão é que a parte política é mais importante que a técnica. Já que é para investir R$ 1 bilhão em um estádio, que ele receba abertura e encerramento. Mas isso poderia ferir acordos entre governadores, CBF, governo federal e Comitê Organizador Local. Tem uma terceira questão importante: grande parte dos clubes não vai se beneficiar tanto do novo ambiente dos estádios. Mas boa parte das praças esportivas não são dos clubes e os R$ 150 milhões que o estádio pode gerar não vão ficar para o time. Os clubes tinham de ser sócios nos projetos. O que vemos hoje são empreiteiras construindo obras gigantescas, caríssimas, via BNDES, e que de alguma maneira não vão colher benefícios diretos.
Então investir em estádios é uma operação de alto risco?
Aqui no Brasil se estipulou que estádio tem de custar R$ 600 milhões. Isso é um total absurdo. No mercado brasileiro talvez um ou dois clubes consigam aumentar sua receita ao ponto de ter valido a pena um projeto desses. Só que para nossa realidade gastar R$ 300 milhões já estava de bom tamanho e o retorno seria mais fácil. Agora estamos falando de estádio que não vai ter retorno, fora o valor a ser gasto com manutenção. Tem de ter um controle efetivo do que vai gastar para que isso não impacte negativamente nas finanças.
O Atlético pode ficar mais tranquilo quanto ao retorno do investimento na Arena da Baixada?
Com certeza. Falo isso pelos estudos que fizemos e pelo que tenho acompanhado. Até porque existe a participação do setor público. O clube é dono do estádio e o padrão de negociação é diferente. Na Alemanha quase 70% dos investimentos em estádios foi privado e aqui nós invertemos a lógica. O Atlético, por já ter uma experiência anterior em diversificar as receitas e trabalhar o estádio, contribuiu muito para que evoluísse. Por conta dos sócios, fatura muito mais que outros clubes como o Flamengo, por exemplo, que vive só de bilheteria. É um potencial muito grande para os clubes e esse é o grande desafio para o futuro.
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