Hospitalidade é alternativa para cativar turistas
Empresários e órgãos ligados ao turismo de Curitiba pretendem reverter qualquer imagem negativa deixada pelo atraso na conclusão da Arena e nas obras de mobilidade oferecendo hospitalidade e serviços de qualidade ao longo dos 11 dias de torneio na cidade.
As apostas podem ter alcance limitado, mas são as únicas alternativas restantes a duas semanas da competição. "O que nos resta é uma unidade nas mensagens, com setor público e privado com bons materiais de divulgação, falando a mesma língua, e um serviço de referência", explica o coordenador do mestrado de turismo da Universidade Federal do Paraná, José Gândara. Segundo ele, uma boa recepção pode reverter qualquer gargalo na organização do evento. "Estamos preparados para isso", afirma.
Para o presidente do CCVB, Dario Paixão, a cidade poderia ter se articulado melhor nos últimos anos para tentar atrair mais turistas, mas os serviços serão bem prestados e vão ser úteis para um legado positivo para a cidade.
"O poder público se preocupou muito com a infraestrutura do evento e deixou de lado a promoção de Curitiba, que ficou a cargo da iniciativa privada", explica.
Bem avaliada
Apesar de não ser um dos destinos mais frequentes dos turistas estrangeiros, a cidade é bem percebida pelos visitantes. Segundo estudos do Núcleo de Turismo da UFPR, hotéis e bares são muito bem avaliados, e a cidade ainda é uma referência incontestável como cidade ecologicamente sustentável e com alta qualidade de vida. "Nós nos questionamos muitas vezes, mas o turista vê a cidade deste jeito", explica Gândara.
Segundo os estudos, a avaliação da cidade fica ainda melhor se comparada a Belo Horizonte ou Porto Alegre destinos do mesmo porte da capital paranaense. "Agora é manter a boa imagem para seduzir turistas que passarão por estas cidades", completa o professor.
A boa notícia para a cidade é que, mesmo com um público abaixo do esperado para a Copa, o turismo tem uma agenda cheia para o segundo semestre. "Ano passado já tivemos uma segunda metade de ano muito boa e neste ano devemos recuperar a morosidade do início do ano com um número de eventos corporativos e turismo de negócio recorde", finaliza Paixão.
Dentre os grandes legados da Copa, um deles seria usar o torneio para mostrar o Brasil como um destino turístico mais atraente e um ambiente propício para investimentos e negócios. O plano era interessante, mas com os sucessivos atrasos de obras, o cancelamento de projetos de infraestrutura e o fluxo de turistas abaixo do esperado, a oportunidade de criar uma nova imagem para o resto do mundo parece estar sendo perdida.
INFOGRÁFICO: Veja os maiores destinos turísticos do mundo
Com a proximidade do torneio, os olhos do mundo se voltam para o Brasil e algumas das mazelas na organização do Mundial tomam o noticiário internacional. "As notícias ruins como desorganização, superfaturamento e morosidade nos investimentos estão muito mais presentes nas capas dos jornais estrangeiros do que as novidades positivas", diz o professor de economia especialista em turismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), Silvano Matias. Segundo ele, a imagem do Brasil como um país interessante para negócios melhorou na última década, "mas aquela que poderia ser a confirmação do desenvolvimento do país pode virar um revés", opina.
De acordo com uma pesquisa preparatória do Ministério do Turismo, 60% dos estrangeiros que visitam o Brasil vêm a lazer e outros 21%, a negócios. "Este segundo público tem um grande potencial de crescimento, mas deve ser aquele que mais vai ser afetado pela desorganização da Copa", afirma Matias.
A pesquisa do ministério aponta que 90% dos visitantes têm suas expectativas correspondidas e pretendem voltar ao país. Metade dos visitantes afirma que a receptividade do povo brasileiro é o que o país tem de melhor.
De acordo com Antônio Ribeiro, gerente de marketing e imagem da consultoria de mercado do turismo QualiTur, a hospitalidade ainda é, de fato, o componente mais determinante para fazer um turista voltar para um país após a primeira visita. "A facilidade de mobilidade, preços e opções de lazer são muito importantes, mas a hospitalidade é fundamental", afirma.
Para Ribeiro, o país conta com um bom prestígio internacional no setor de turismo. "O Brasil tem pontos turísticos dos mais chamativos do mundo e os profissionais do setor são bem preparados, independentemente da Copa. Se não vamos capitalizar como imaginávamos, a imagem deve pelo menos se manter", explica.
Grandes eventos
O turismo que mais perde, nesta situação, é o ligado a grandes eventos, como megafestivais e grandes competições esportivas. "Os eventos de médio porte vão continuar acontecendo, mas o país dá mostras de que não está preparado para receber os maiores eventos do planeta", diz o presidente do Curitiba Convention & Visitors Bureau (CCVB), Dario Paixão.
Negócios - Empresários planejam criar laços comerciais com estrangeiros
Pelo menos 700 empresas brasileiras querem aproveitar a Copa do Mundo para fechar negócios e estreitar relações com compradores e empresários estrangeiros. A ideia, organizada pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), é que o torneio seja um pano de fundo para que empreendedores estrangeiros conheçam o país e potenciais fornecedores.
Ao todo, cerca de 2,3 mil empresários de 104 países virão ao Brasil para visitar fábricas, conhecer empreendedores e fechar negócios. Além da programação comercial, os empresários, brasileiros e estrangeiros, vão assistir a jogos do Mundial. "É uma fórmula que deu certo na Copa das Confederações e agora vamos ampliar para a Copa do Mundo", explica o gerente de marketing e imagem da Apex, Jacy Braga.
Na competição do ano passado, US$ 3 bilhões em contratos foram gerados imediatamente ao término da viagem, com um grupo de 900 estrangeiros e 400 brasileiros.
Pesquisa
A percepção dos empresários estrangeiros sobre os negócios brasileiros também mudou, segundo pesquisa aplicada para aqueles que vieram ao Brasil no ano passado.
Em uma questão sobre a qualidade dos profissionais brasileiros, apenas 48% deles receberam nota máxima antes da ação. Depois da visita, a avaliação subiu para 87%. Sobre a qualidade dos produtos, o salto também foi notável: antes da visita, 56% dos empresários avaliavam como ótimo e depois a proporção saltou para 87%.
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