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Carlos Alberto Parreira e o técnico Felipão: coordenador técnico cria o “neozagallismo” na busca pelo hexacampeonato mundial | Albari Rosa, enviado especial/ Gazeta do Povo
Carlos Alberto Parreira e o técnico Felipão: coordenador técnico cria o “neozagallismo” na busca pelo hexacampeonato mundial| Foto: Albari Rosa, enviado especial/ Gazeta do Povo

Estratégia

Sucesso da Copa das Confederações, Felipão ensaia tática do abafa

No primeiro treino coletivo em campo inteiro, ontem pela manhã, a seleção brasileira ensaiou o que será uma das armas da equipe na Copa do Mundo: o "abafa". Foram 10 minutos, cronometrados por Luiz Felipe Scolari, com os titulares sufocando os reservas no campo de defesa. O treinador adiantou todo o time e orientou os avantes Neymar, Hulk e Fred a se aproximarem da linha da grande área inimiga. Estratégia para obrigar o goleiro reserva, Jefferson, "quebrar a bola" – a expressão utilizada pelos boleiros para o chutão em direção do ataque.

A pressão inicial funcionou na conquista da Copa das Confederações, no ano passado. O Brasil anotou três gols antes dos 10 minutos, contra Japão (3 a 0), México (2 a 0) e Espanha (3 a 0). Na finalíssima com os espanhóis, no Maracanã, com pouco mais de 1 minuto Fred inaugurou o placar.

Hoje Felipão define os atletas que serão poupados no amistoso com o Panamá, terça-feira, às 16 horas, em Goiânia. Substituído ontem por Dante no time titular, o zagueiro Thiago Silva será um dos três ou quatro jogadores a permanecer em Teresópolis. "O Thiago está fazendo um trabalho de recuperação e equilíbrio das duas pernas, que tem uma situação de pequeno desnível", justificou o técnico, em entrevista à Fox Sports.

Maicon

No início da preparação da seleção para a Copa, al­­guns jogadores tiveram o nome citado com possíveis problemas físicos. Oscar e Jô se recuperavam de pequenos problemas musculares, mas Maicon também esteve en­volvido numa possibilidade de ser poupado. Ontem, o lateral-direito, reserva de Daniel Alves, desmentiu o boato. "Não tenho problema físico. Estou bem".

Coordenador técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira assumiu também a característica de um antigo camarada. Com discursos em tom ufanista e otimismo inabalável, o ex-treinador é o novo Zagallo.

Semelhança e inspiração confirmadas por Parreira. "A confiança no Brasil eu aprendi com o meu amigo Zagallo", diz, sobre a guinada no comportamento, antes marcado pela discrição.

Assim, à sua maneira, o carioca mantém pulsante o "amor à amarelinha", expressão que o igualmente ex-treinador do Brasil disseminou. Campanha patriótica reforçada durante as disputas de Copa do Mundo.

Ainda na largada da preparação da equipe na Granja Comary, o representante do "neozagallismo" já cunhou uma série de frases de efeito. Disparadas na entrevista coletiva que inaugurou a programação em Teresópolis.

Questionado se repetiria a afirmação "chegou o time campeão", dita em 1994, na jornada do tetra nos Estados Unidos, emendou: "Chegou. E bem chegado". No mesmo dia, soltou: "Já estamos com uma mão na taça".

Ambas causaram impacto dobrado ao serem proferidas após críticas à seleção nacional de 1950. De acordo com Parreira, o revés para o Uruguai, detonador do Maracanazo, foi consequência direta do clima de "já ganhou", do "oba-oba" que infectou os bastidores e desmobilizou os jogadores naquele 16 de julho.

Confrontado se não estava sendo incoerente, Parreira justificou com outra dose de convicção no sucesso da empreitada atual. "É só olhar o time. Temos a zaga mais cara do mundo [Thiago Silva e David Luiz]. Um timaço. Jogadores experientes, respeitados e jogando em casa", rebateu.

Parreira e Zagallo possuem relações de décadas com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Fosse no serviço público, seriam considerados "funcionários de carreira" exemplares.

Na "ativa" aos 71 anos, o atual coordenador começou em 1970, como um dos preparadores físicos do tri no México. Em 1994, foi técnico do conjunto que livrou o Brasil do jejum em território americano. Voltou em 2006 e fracassou no Mundial da Alemanha.

No último retorno, em 2012, ao lado de Luiz Felipe Scolari, substituindo a comissão de Mano Menezes, ouviu o seguinte do presidente da CBF, José Maria Mar[in: "Temos de saudar esses dois patriotas".

Mais tarde, Parreira diria que "a CBF é o Brasil que deu certo". Recentemente, tem menosprezado os protestos populares. "Houve um contratempo, 200 pessoas no máximo, tenho certeza de que a seleção é um patrimônio do povo. Ninguém está contra", comentou, sobre a manifestação dos professores que complicou a apresentação dos atletas no Aeroporto do Galeão (RJ).

Zagallo tem histórico mais longo. É o único tetracampeão da Copa do Mundo. Foi bi como ponta-esquerda em 1958, na Suécia, e 1962, no Chile. Como treinador levantou o tri em 1970 e acabou em quarto em 1974. Em 1994, era o auxiliar. Novamente à beira do gramado, fechou com o vice em 1998. Aos 82 anos, está internado no Rio de Janeiro tratando uma infecção na coluna.

A saga do menino Lucas para ter um dia com a seleção

"Na cara e na coragem" é como Isabel Leite define a saga que levou ela e o filho Lucas, de 15 anos, para dentro da Granja Comary, no primeiro treino coletivo da preparação da seleção brasileira, ontem. Moradora de Teresópolis, ela e o garoto, que teve paralisia cerebral no parto, passaram um dia inteiro na frente da concentração para conseguir entrar. Saíram premiados com autógrafos de cinco jogadores e o meião do atacante Fred.

"Veio um filme na minha cabeça durante o treino, sobre toda a nossa vida. Tirou foto, ganhou autógrafo. Ganhei minha Copa do Mundo", contou Isabel, emocionada.

Após alguns dias de tempo fechado, ela aproveitou a sexta-feira ensolarada para levar o filho, de cadeira de rodas, até a Granja Comary. Alguns jornalistas pararam para conversar com ela, ouviram o desejo de Lucas de conhecer os jogadores e prometeram intervir junto à CBF. A história chegou ao departamento de comunicação da entidade, que disse aos dois que voltassem no sábado.

"Quando deu meia-noite e meia, o Lucas acordou e já queria vir para a Granja. Falei: ‘Calma, filho. Nem raiou o dia, ainda’", conta.

Isabel e Lucas ficaram sentados na arquibancada ao lado do campo principal da Granja Comary, junto com convidados de três patrocinadores da seleção. No fim do treino, o coordenador Carlos Alberto Parreira e o zagueiro Thiago Silva foram os primeiros a atender os torcedores. Depois veio o zagueiro David Luiz, que pegou no colo um garoto que correu para dentro do campo. Então chegaram Luiz Gustavo, Marcelo e, por último, Fred. O atacante já havia tirado o meião e pôs o par no gramado, enquanto atendia os fãs encostado em uma placa de publicidade.

"O David Luiz pegou o meião do chão, deu para o Lucas e falou ‘perdeu, playboy’ para o Fred. Além de pedir pra gente não contar para ninguém", divertia-se Isabel.

Torcedor do Fluminense, Lucas mostrou para os jornalistas os gestos de Neymar e Fred na comemoração de gol. Também cumprimentava todos e exibia com orgulho o seu troféu. Um estímulo na complicada rotina de quatro sessões semanais de fisioterapia, além de fonoaudiologia e hidromassagem, acompanhados de perto pela mãe.

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