A derrota histórica no Mineirão abriu o debate a respeito do futuro do futebol brasileiro. Dirigentes, treinadores, o comando da atual comissão técnica da seleção admitiram que a hora é de mudança no conceito de jogo e na formação dos jogadores. Um bom modelo a seguir, diz Carlos Alberto Parreira, é o da Alemanha, finalista da Copa. A CBF, até esta quarta-feira (9) à noite, não havia se manifestado sobre que providências tomar depois do desastre em Minas.
Dirigentes influentes e muito próximos de José Maria Marin, presidente da CBF, concordam que é preciso abrir um fórum de discussão em todo o país para se criar um novo conceito do futebol brasileiro. É consenso na maioria dos segmentos ligados ao esporte que a mudança passa por investimento na formação de jogadores. O primeiro passo seria a valorização das categorias de base dos clubes, com profissionalização em todas as áreas, desde treinadores, preparadores físicos, médicos e psicólogos.
Uma das preocupações é conter o enorme êxodo de jovens jogadores ao futebol da Europa. Como os garotos saem cada vez mais cedo para jogar, a formação da maioria deles é na escola estrangeira. Os meninos são obrigados a assimilar nos clubes os conceitos do jogo europeu, treinados que são por técnicos da Europa. "Hoje é muito difícil fazer um jogador da seleção jogar no nosso estilo. Eles têm saído cada vez mais cedo do Brasil, aprendem o jeito de jogar dos estrangeiros e quando se apresentam à seleção têm dificuldade para jogar como brasileiros", disse Felipão.
A visão de Parreira é mais ampla. "Nesse momento da nossa derrota, que impactou muito, está muito claro que temos uma boa oportunidade de rever algumas coisas. Os alemães se preocuparam em trabalhar a base, melhorar o nível dos treinadores, melhorar os campeonatos em todos os aspectos. Essa é a saída. Temos de nos concentrar naquilo que já fomos muito bons que é o trabalho de formação dos jogadores, melhorar a base dos clubes."
Dirigentes
O presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, defende a criação de uma nova associação para tratar de interesses comuns dos clubes. A partir "desse fórum", algumas prioridades seriam estabelecidas. Uma delas, a de discutir um novo modelo para o futebol. "A CBF tem que cuidar da seleção, os clubes precisam cuidar deles mesmos."
Para o diretor de Futebol do Corinthians, Ronaldo Ximenes, a eliminação da seleção impõe "a obrigação de repensar os rumos do futebol". "O resultado só aflorou uma discussão que está bem atrasada. Investimento na formação de atletas e planejamento a médio e longo prazo são essenciais. Infelizmente estão bastante atrasados", comentou Ximenes.
José Carlos Brunoro, diretor executivo do Palmeiras, analisa o desfecho no Mundial como um alerta. "Temos uma safra de jogadores mais fraca que o normal. A formação do futebol brasileiro é bem falha, pois não estamos dando a estrutura devida aos garotos. Temos uma pressa muito grande de negociá-los." Ele defende ainda mudança na formação de treinadores.
Thiago Scuro, diretor de Futebol do Red Bull, empresa que começa a investir no futebol brasileiro, vê um desnível na comparação dos treinadores brasileiros com outros do exterior. "Estão abaixo do resto do mundo, basta ver que tem treinador chileno e argentino que faz sucesso até na Europa e nós não conseguimos. Brasileiro só vai para terceiro escalão, como Japão e Emirados. Falta humildade para admitir que ficamos para trás nesse sentido."
O presidente da Federação de Futebol do Paraná, Helio Cury, acredita que o país tem a oportunidade de abrir canais de discussão a fim de detectar a queda da qualidade técnica dos jogadores. Para ele, no entanto, é preciso esperar a poeira "assentar". "A Copa ainda não acabou. É preciso criar essa agenda com calma e organização."
Enfático na crítica "ao colapso decretado pela Alemanha no Mineirão", o presidente da Federação de Futebol de Santa Catarina, Delfim Peixoto, vice-presidente eleito da CBF na chapa de Marco Polo del Nero, disse estar convicto de que a própria entidade vai tomar a iniciativa de reunir atletas, dirigentes, treinadores e outros agentes do futebol para se elaborar "uma nova ordem do futebol brasileiro." "Temos de destacar que há realmente um abismo entre muitos de nossos treinadores com vários estrangeiros."
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