Neymar foi vítima de uma nova instrução do Comitê de Arbitragem da Fifa. Para a Copa do Mundo no Brasil, a entidade orientou os árbitros a economizar na aplicação dos cartões, visando evitar desfalques nas seleções durante o transcorrer da disputa.
Na preparação prévia para o Mundial, os apitadores ouviram a determinação para "segurar", especialmente, a advertência com amarelos. A ideia consiste basicamente em evitar suspensões à toa, prejudiciais ao espetáculo.
Seguindo a ordem, o árbitro espanhol Carlos Velasco Carballo acabou permitindo a violência em Brasil e Colômbia, na sexta-feira, em Fortaleza. O triunfo por 2 a 1 dos anfitriões terminou como o encontro mais faltoso da competição, com 54 violações.
Os brasileiros cometeram 31. Os colombianos 23 e, numa das últimas, Zúñiga atingiu Neymar com uma joelhada no meio das costas. O atacante sofreu uma lesão na terceira vértebra da coluna e deixou ontem a Granja Comary para se recuperar em Santos.
Poderia ter sido diferente caso Carballo apenas aplicasse a regra do jogo. Ainda na etapa inicial, o lateral-direito cafetero fez falta pesada em Hulk. Vindo por trás, derrubou o camisa 7 com uma solada no joelho esquerdo. Passou impune.
"Foi um lance para amarelo indiscutível. Tivesse sido advertido, quem sabe o Zúñiga não teria acertado daquela forma o Neymar. O atleta sente quando o juiz afrouxa e aumenta a intensidade de seus atos", afirma Sálvio Spínola, ex-árbitro, comentarista da ESPN Brasil.
Spínola aponta um contrassenso na medida da Fifa. "Ao mesmo tempo em que eles baixaram para dois cartões [a partir de 2006, na Copa da Alemanha] a suspensão automática, pediram para economizar. Não faz sentido. Seria melhor manter em três e continuar com o rigor", diz.
As estatísticas refletem a ordem da Fifa que libera a pancadaria. A média de cartões levantados despencou em solo brasileiro. Até agora, foram 168 em 60 duelos, média de 2,8.
Na Copa da Coreia do Sul e do Japão, em 2002, foram apresentados 283 em 64 confrontos, média de 4,4. Em 2006, na Alemanha, 354 na mesma quantidade de compromissos, com média de 5,5. Por fim, na África do Sul, em 2010, 270 também em 64 combates, média de 4,2.
O volante Fernandinho, do Brasil, endossa a complacência dos apitadores. "Estão evitando dar cartão amarelo nas primeiras faltas. Eu fiz várias faltas e fiquei com medo de levar", disse, depois do triunfo por pênaltis ante o Chile. No total do tempo em que esteve em campo na Copa, o paranaense de Londrina já fez 12 infrações e não recebeu punição.
Personagem
Médico do seleção critica passividade dos árbitros
Por causa da permissividade dos árbitros, o futebol praticado na Copa do Mundo está mais violento do que o normal. Esta é a opinião do chefe do departamento médico da seleção brasileira, José Luiz Runco.
"Tenho observado entradas não compatíveis com jogo, atingindo acima do tornozelo", afirma o médico. Com 36 anos de experiência no esporte, o carioca passou a trabalhar com o Brasil depois do torneio da França, em 1998.
Runco chamou atenção ainda para a quantidade de choques de cabeças entre os atletas. Neste caso, entretanto, consequência natural da disputa. "Os traumas de crânio são compatíveis com o futebol atual, por causa da quantidade de lances de bola aérea", diz.
A lesão de Neymar, de acordo com o profissional, foi causada pela violência da joelhada do colombiano Camilo Zúñiga nas costas do brasileiro: "Ele vai com o joelho dobrado, quase 90 graus, e a batida encaixa na região lombar. A energia de força é muito grande."
A remoção do camisa 10 do gramado do Castelão causou polêmica. Teria sido realizada de forma inadequada e, por causa disso, poderia ter agravado o problema caso a coluna cervical tivesse sido comprometida. Runco negou que o procedimento tenha sido equivocado.
Emiliano Vialle, cirurgião do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, referenda o médico da seleção. "Acompanhei pela televisão e a remoção não levantou qualquer suspeita. Com o tipo do impacto é possível se ter uma noção da lesão. É diferente você ser atropelado por um ônibus e por um colombiano."
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