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Ludimar Pocai é o responsável pelo bandeirão da Espanha em prédio na Lourenço Pinto | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Ludimar Pocai é o responsável pelo bandeirão da Espanha em prédio na Lourenço Pinto| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Crise afetou presença espanhola no Brasil

Apesar da melhora de 0,4% no Produto Interno Bruto espanhol no primeiro trimestre deste ano, a crise que assola a Europa desde 2008 – especialmente a Espanha – ainda pode ser uma das explicações para a baixa procura dos campeões do mundo pelos ingressos da Copa do Mundo. Em menos de cinco anos, o país viu seu PIB cair de US$ 13,5 trilhões para US$ 12,1 trilhões.

"A questão econômica na Espanha afeta [a vinda de turistas para Curitiba] e muitos optaram por Salvador e Rio de Janeiro. Mas a vinda da seleção por si só acrescentou para Curitiba. O Paraná era conhecido por eles pelas Cataratas de Foz e agora Curitiba é um ponto importante", explica a vice-cônsul da Espanha no Brasil, Blanca Hernando Barco.

A crise, inclusive, ajudou a espanhola Ana Maria Rego Vilar, 36, a não convencer amigos espanhóis a visitá-la em Curitiba durante a Copa. "Alguns virão para destinos mais turísticos do país e tentaram comprar passagens para cá, mas os preços estão abusivos", diz Vilar, coordenadora acadêmica do Instituto Cervantes e moradora de Curitiba há quatro anos.

  • Restaurante Gonzales y Garcia aposta em decoração metade brasileira e metade espanhola

Os holofotes da Copa do Mundo se voltam para Curitiba a partir da noite de hoje, quando a Espanha desembarca no Aeroporto Afonso Pena às 21 horas e segue para o CT do Caju, no Sítio Cercado, sua base pelo menos durante a primeira fase. O impacto gerado pela transmissão da imagem da cidade, porém, tem tudo para extrapolar os 18 dias mínimos de estadia dos atuais campeões mundiais.

Segundo estimativas do Instituto Municipal do Turismo de Curitiba, cerca de 600 jornalistas devem acompanhar Xavi, Iniesta e companhia. O número é plausível. A seleção brasileira, por exemplo, tem 1,5 mil credenciados na Granja Comary. E a expectativa é que, além de conteúdos sobre a equipe, esse exército da comunicação envie matérias diárias para o mundo sobre a capital paranaense.

A produtora Supersports, por exemplo, já solicitou autorização da prefeitura para instalar um link na Boca Maldita na véspera do jogo entre Espanha e Austrália, no dia 23 – o único em Curitiba, pois antes La Roja visita Salvador para enfrentar a Holanda (dia 13) e o Rio para duelar com o Chile (18). Chegou-se a cogitar links diários da TVE espanhola da Praça Espanha, mas isso não se confirmou por causa da dificuldade na locação da estrutura de transmissão.

Para estimar o quanto Curitiba deve ganhar com a Copa, o presidente do Instituto, Paulo Roberto Colnaghi Ribeiro, cita a Cidade do Cabo, na África do Sul. "Naquele Mundial [2010], era a mais diferente das demais pelo fato de ter praia. Aqui, é Curitiba. Não temos areia, mar e nem sol como outras sedes, mas somos uma cidade inteligente no sentido tecnológico e com 40 parques", afirma. Colnaghi diz que o município sul-africano teve ganho de 35% na quantidade de turistas em 2011 e Curitiba espera um incremento de 35% a 40% em quatro anos.

Se a expectativa com a exposição da imagem é grande, o panorama não é tão otimista quando se fala da vinda de turistas espanhóis durante a Copa – assim como para todo o país.

Após o fechamento da terceira fase de venda de ingressos – a quarta e última segue em andamento –, os torcedores do país ocupavam apenas a 16.ª posição na relação dos que mais compraram entradas para a Copa, com 13.470 tíquetes.

De acordo com o Ministério do Turismo, até 15 de abril 3,3% dos bilhetes disponíveis para o jogo dos campeões mundiais em Curitiba haviam sido adquiridos por espanhóis – pouco mais de 1,3 mil da capacidade da Arena da Baixada. Para se ter ideia, os adversários australianos já haviam adquirido 17,4% da carga. Entre as quatro partidas agendadas para o estádio curitibano, essa foi a que mais mobilizou torcedores.

Os números, porém, não assustam Colnaghi. "Esperamos de 5 a 6 mil espanhóis porque somos a sede deles. Muitos viajam sem ingressos para comprar na hora ou só pela festa", projeta.

Baixa procura

As reservas de hotéis também não indicam muitos espanhóis em Curitiba. O Fórum de Operadores Hoteleiros do País (Fohp) divulgou recentemente que 43% dos quartos da cidade estavam vagos para o período de Copa – a segunda menor ocupação entre as sedes. Não há dados específicos sobre visitantes do país, mas a rede Deville Rayon, por exemplo, tem três reservas confirmadas entre os dias 22 e 26.

Há, porém, a possibilidade de mais hospedes serem espanhóis na lista da rede. Isso porque a nacionalidade não é uma informação obrigatória na reserva – justificativa que foi utilizada por outros hotéis para não informar quantos turistas de lá reservaram quartos. Nos hostels curitibanos também é difícil encontrar reservas de espanhóis. Australianos são sempre citados como os que mais devem marcar presença.

Bandeirão para avião ver

O escudo que representa as casas de Castela, Leo, Aragão, Navarra, Granada e Bourbon, as duas faixas vermelhas e a larga faixa em amarelo-ouro tremulam a quase cem metros de altura no Centro de Curitiba. A bandeira da Espanha ganhou o topo de um edifício em construção na Rua Lourenço Pinto e desde maio pode ser vista à distância, intrigando curitibanos.

"Como a Espanha vai ficar em Curitiba, decidimos prestar essa homenagem. Algo para dar as boas-vindas", explica o diretor da construtora responsável pela obra em que a bandeira foi hasteada, Ludimar Pocai. A decisão foi tomada por ele e seus três irmãos e sócios.

Foi uma estratégia para chamar a atenção para seu negócio? Não, ele garante. "Mais uma forma de prestigiar os atuais campeões do mundo", fala. "Já reparou que tem rotas de avião que passam por cima do prédio?", emenda.

A dúvida é se os comandados de Vicente del Bosque verão a bandeira de 5 x 3,5 metros, que custou R$ 950 e levou cerca de 20 dias para chegar, encomendada de uma empresa em Rondônia. A Fúria vai passar a maior parte do tempo da estadia em Curitiba enclausurada no CT do Caju. Mas, além da chegada e da última partida, fará mais duas viagens de avião para jogos em Salvador e no Rio.

Quem pretende ter ganhos reais e imediatos com a presença de La Roja são os bares e restaurantes temáticos, apesar de não arriscarem estimativas sobre a movimentação de turistas. "Contamos com o cardápio típico, tapas, montaditos, paella, e acreditamos que isso vá atrair o público hispânico. Decoramos um dos nossos ambientes em que vai predominar o verde e amarelo para os jogos do Brasil e outro bem espanhol. Também temos uma funcionária recém-contratada que morou desde os 10 anos na Espanha e vai nos ajudar com a comunicação", fala o gerente do restaurante Gonzales y Garcia, Ivan de Lima Nalevaiko.

O bar temático catalão Txapela vai colocar cervejas espanholas em promoção e estender o horário de atendimento nos dias de jogos da Furia. "Como estamos em uma localização central, próximo aos hotéis, temos a expectativa bem grande de ter esses turistas como um público a mais", diz o gerente financeiro Diego Alessandro Sommer Guedes.

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