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Hugo Harada/Gazeta do PovoCaíque França, de 15 anos, espia a vizinha Fonte Nova
Vizinhos da Fonte Nova verão Copa só na tevê
Caíque França, 15 anos, é vizinho da Fonte Nova. Mora na Ladeira do Pepino, parte do bairro de Brotas, um dos maiores de Salvador. A Copa do Mundo, entretanto, é quase uma miragem pela janela da casa da família do estudante.
O jovem não vai a nenhum das seis partidas programadas para o estádio. "O ingresso é muito caro. Infelizmente, não tenho condições de pagar. O jeito é assistir pela televisão", diz França.
De acordo com ele, ninguém na região comprou entradas para algum jogo do Mundial. Representantes da comunidade no evento, só os que trabalharam na obra e ganharam bilhetes. "Mas a maioria vendeu, acharam que valia mais a pena", comenta.
Apesar de estar tão perto, e ao mesmo tempo, tão longe, não desanimou os moradores. As ruas estão decoradas com bandeirinhas nas cores do Brasil e, ainda ontem, ruas e calçadas eram pintadas. "Tem de aproveitar a Copa, que é de quatro em quatro anos. E a gente faz o nosso camarote aqui mesmo, põe a televisão na rua. A criançada se diverte", declara Jurandir Moreira, segurança, um dos responsáveis pela decoração.
O descontentamento vem das promessas de melhoria da região não cumpridas. "Disseram que iam construir um shopping e melhorar o transporte. Mas, até agora, nada foi feito", reclama Arnaldo Lima, dono de um bar nas redondezas da praça esportiva.
Nas duas vezes em que se enfrentaram em Copas do Mundo, Espanha e Holanda fizeram história. Na primeira, em 2010, La Roja venceu por 1 a 0 e levou a taça na decisão na África do Sul. Ontem à tarde, a Laranja impôs a maior humilhação sofrida por um campeão mundial do torneio anterior.
Confira a nota dos jogadores e quem foi o craque da partida
O revés dos espanhóis por 5 a 1, logo na estreia, encobriu outros dois vexames. Em 1958, a Alemanha foi derrotada por 6 a 3 pela França, no duelo pelo 3.º lugar. Depois, em 1998, o Brasil tombou por 3 a 0, também com os franceses, na finalíssima.
Humilhação de um lado, a goleada foi celebrada como proeza pelos holandeses. "Foi incrível. Um sonho se tornando realidade para nós e é por isso que nós temos que aproveitar o momento", resumiu o atacante Robin Van Persie.
O jogador do Manchester United teve participação fundamental na tarde extraordinária dos laranjas, que ontem trocaram a cor tradicional de seu uniforme pelo azul escuro. Tudo começou com um gol dele que já entrou para a antologia da competição.
O placar exibia 1 a 0 para a Espanha, gol de pênalti de Xabi Alonso, quando Blind fez lançamento longo na direção de Van Persie. O camisa 11 saltou e encobriu de cabeça o goleiro Casillas, que nada pôde fazer. Final de primeiro tempo: 1 a 1.
A etapa derradeira pareceu uma disputa de adultos contra crianças. Nos quatro gols, o time de azul mostrou disposição e categoria, com dribles desconcertantes e arremates impiedosos. Enquanto o de branco falhou e se esparramou pelo gramado, em desespero.
"Eu acredito que o meu equilíbrio veio logo que o Robben fez 2 a 1. Isso nos deu um grande impulso. A chave foi manter a pressão ativa. O que nós conseguimos por estar em grande forma", comentou Van Persie, escolhido pela Fifa o "homem do jogo".
E os 5 a 1 ficaram barato. Robben e Van Persie ainda acertaram dois chutaços. Um explodiu no travessão e o outro foi espalmado por Casillas, quando os gritos de "olé" já ecoavam por toda a Fonte Nova e o constrangimento da seleção líder do ranking da Fifa era visível.
Na saída de campo, Vicente Del Bosque não conseguiu explicar tamanha inferioridade. "Eu me sinto terrível, mas firme o suficiente para receber essa derrota no queixo sem ficar depressivo por causa disso. Não consigo explicar por quê tomamos cinco gols. Temos de olhar para frente com a força de quem quer superar o próximo desafio", comentou o técnico da equipe que está concentrada no CT do Caju, em Curitiba.
Com o triunfo do Chile sobre a Austrália, por 3 a 1, ontem, os sul-americanos pularam para 2.º e a Espanha é apenas a 4.ª colocada do Grupo B, jogada a primeira rodada.
Holanda usa goleada para apagar imagem de time violento
A goleada por 5 a 1 aplicada na Espanha significou um renascimento para a Holanda. Considerada violenta na decisão da Copa do Mundo de 2010, diante do mesmo adversário, a seleção recuperou a aura da antiga Laranja Mecânica, equipe sensação dos anos 70 pelo futebol moderno e vistoso.
"Nós jogamos uma partida fantástica. Fomos compactos na defesa e diretos no ataque. Colocamos pressão neles o tempo todo. E não é preciso dizer o quanto isso é perigoso. O time também é mentalmente forte e nós mostramos isso", declarou o técnico Louis Van Gaal.
A incrível virada apagou um início ruim dos atuais vice-campeões mundiais. Por boa parte do primeiro tempo, os espanhóis controlaram as ações, mesmo sem inspiração alguma. E abriram o placar no pênalti marcado sobre Diego Costa e convertido por Xabi Alonso.
Até que Van Persie empatou com um golaço, aos 43. Na etapa final, aí sim, a Holanda justificou todos os elogios de seu treinador. Foi quando Robben também entrou em ação e ao lado do atacante do Manchester United comandou a virada acachapante.
Embora Sneijeder, o outro destaque da Laranja, tenha sido discreto, a atuação de ontem serviu para Van Gaal sustentar o arranjo tático do trio. "Mostramos que Sneijder, Robben e Van Persie podem atuar próximos", comentou.
Na próxima rodada, dia 18, a Holanda enfrenta a Austrália, no Beira-Rio, em Porto Alegre. Na mesma data, a Espanha tenta a recuperação diante do Chile, no Maracanã, no Rio de Janeiro.
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