Reação
Preocupado com atos, governo federal cria medidas polêmicas
Os protestos contra a realização da Copa já tiveram reflexos no governo federal. A presidente Dilma Rousseff pretende reunir-se logo que retornar de Cuba com os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Celso Amorim (Defesa) e Aldo Rebelo (Esportes) para tratar de uma estratégia unificada. Há uma série de demandas envolvendo a segurança da Copa para serem discutidas, desde maneiras de evitar que os tumultos se espalhem até formas de conter a ação violenta contra as manifestações por parte das polícias estaduais.
Uma das ações já anunciada pelo Ministério da Defesa é o aquartelamento de tropas das Forças Armadas durante o mundial. As "reservas estratégicas" agiriam em caso de perda de controle na segurança, hipótese extrema em que assumirão o comando e substituirão as polícias estaduais, até na contenção de manifestações.
A medida é bastante discutível. Para o professor de Direito da UFPR André Giamberardino, isso expressa a mesma lógica da militarização, que pode, em casos extremos, violar direitos fundamentais do cidadão. Para o coronel da reserva José Vicente da Silva Filho, as Forças Armadas não têm o preparo da polícia e só podem ser acionadas em casos extremos. "É uma escalada maior de força por parte do Estado e, a partir daí, as coisas ficam graves. Se as Forças Armadas entram, sai de um contexto policial e entra em um terreno de ordem pública e política", avalia.
Na avaliação de Silva, o tempo para uma preparação especial no que diz respeito à segurança é curto. "É preciso refinar o planejamento e a inteligência das polícias", diz.
Os primeiros protestos contra a realização da Copa do Mundo no Brasil começaram violentos em 2014. Em algumas capitais que sediarão jogos do mundial, foram registrados casos de depredação e violência. Em São Paulo, um jovem foi baleado por policiais militares no fim de semana, após ter tentado atingir um agente com um canivete, e 128 manifestantes foram detidos. Em Curitiba, a caminhada da Boca Maldita até o Centro Cívico, no sábado, foi pacífica, mas alguns dos manifestantes atiraram pedras contra a prefeitura e quebraram uma vidraça. Não houve confronto com os policiais, mas duas pessoas foram detidas e indiciadas.
O "Não vai ter Copa" parece ser um movimento que dá continuidade ao "Não é só Por R$ 0,20", cujos atos marcaram o país a partir de junho do ano passado. Da mesma forma, a presença de mascarados, os "black blocs", tende a aumentar. Grande parte desses protestos é marcado pelas redes sociais, e a reação de governo e polícia a eles não indica grandes mudanças.
Na avaliação do professor do curso de Direito da UFPR e defensor público André Giamberardino, a fama de "acomodado" do brasileiro, que muitos acreditam que só mudou em junho, é injusta. "Desde a década de 1970, uma grande massa de pessoas luta por direitos básicos nas periferias. A participação ativa das periferias somada à consciência adquirida pela classe média é positiva", analisa.
Essa junção de forças de diferentes reivindicações, mas que são válidas esbarra no que Giamberardino considera um problema: a cultura da militarização da segurança pública. "A militarização de um serviço público, que é prestar segurança ao cidadão, não é compatível com uma lógica de proteção", pondera.
Por outro lado, a adesão de "black blocs", que muitas vezes portam coquetéis molotov e objetos para quebrar vidraças, também é vista com preocupação por especialistas. Para o coronel da reserva da PM de São Paulo e consultor em segurança pública, José Vicente da Silva Filho, a disposição agressiva e criminosa desse grupo é bastante significativa. Para evitá-los, ele sugere que os manifestantes pacíficos se afastem desses grupos, para que a polícia possa identificá-los com mais rapidez.
Jovem baleado
O estoquista Fabrício Proteus Chaves, de 22 anos, levou tiros de policiais durante uma abordagem na região central de São Paulo no último sábado. Chaves foi baleado no peito e nas genitais e está internado em estado grave. Segundo o comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, Coronel Benedito Roberto Meira, os disparos da polícia foram em legítima defesa.
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