Avaliação
O engenheiro carioca Thiago Pessoa viu jogos em Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Brasília, Recife, Fortaleza, além do Rio de Janeiro. Assim, esteve em mais estádios do que muito jornalista envolvido na cobertura do evento. E conseguiu avaliar as diferenças em cada cidade:
Sinalização
"Achei mal sinalizado no Recife e em Salvador. Um gringo poderia ter dificuldade. Já em São Paulo a evacuação depois do jogo é muito lenta. No jogo Bélgica e Argélia, em Belo Horizonte, o número do assento não existia. Mas a equipe foi rápida e conseguiu outros para a gente. Na maioria dos locais, os voluntários realmente querem ajudar, mas às vezes estão mais perdidos que o torcedor."
Comida
"A oferta de comida foi melhorando durante a Copa. Nos primeiros dias faltou em vários lugares e no final dos jogos quase sempre acaba. Teve um dia em Salvador que só tinha pipoca. A parte legal é que algumas sedes têm comidas regionais, como o tropeiro, em Belo Horizonte, e a tapioca, no Recife. Valem a pena. Outra ideia que pegou foi a dos copos gravados com a data do jogo. Todo mundo entra no estádio e corre para comprar."
Segurança
"No começo, a tal área de exclusão estava muito frouxa. Entramos até com comida. Depois da invasão dos chilenos no Maracanã, o cerco se fechou em todos os estádios. Teve uma vez que eu não consegui passar nem com uma caixinha de chicletes. E eu cheguei a contar que pediram para eu mostrar o ingresso oito vezes antes de entrar no estádio. Mas não tive nenhum problema com segurança, não."
Estádios
"Vou ser bairrista e dizer que o Maracanã é o mais legal. O de Brasília foi uma revelação positiva e o de São Paulo vai ficar o mais luxuoso quando estiver 100% pronto. A acústica é muito ruim."
Visitantes
"Os gringos estão gostando. Ouço pouca reclamação. Tem muito sul-americano, o que superou as minhas expectativas. Na hora que vou para o aeroporto, é que vejo que está tendo Copa. Aliás, nenhum voo atrasou, ao contrário do que todo mundo achava. Outra coisa que não vi foi maquiagem para ocultar as nossas mazelas."
Torcida
"Depois de ver os torcedores dos outros países, percebi como os brasileiros não empolgam. O único momento mais marcante era o hino. O Brasil não tem música. Não inspira ninguém. Além disso, é uma torcida muito crítica, não apoia o jogo todo. Vi os argentinos três vezes e eles são demais, cantam o jogo inteiro, provocam a gente. Eles realmente estão se divertindo com a Copa."
81 gols foram marcados nas 22 partidas da Copa a que Thiago Pessoa assistiu. Na conta estão as quatro disputas de pênaltis que presenciou.
22 mil quilômetros foram percorridos pelo engenheiro carioca para acompanhar 23 dos 64 jogos do Mundial. É mais do que a distância entre Curitiba e Tóquio.
Ainda dentro do Maracanã, depois de viver a emoção de ver a seleção brasileira derrotar a Espanha na empolgante final da Copa das Confederações no ano passado, o engenheiro carioca Thiago Pessoa decidiu que não queria assistir pela tevê aos jogos de uma Copa do Mundo no Brasil. A partir de então, ele montou uma estratégia para ir ao maior número possível de partidas. O primeiro passo foi descolar os ingressos. E para espanto das pessoas que não conseguiram comprar um mísero tíquete no site da Fifa, Thiago adquiriu 23 entradas inclusive para a abertura e para a final.
SLIDESHOW: Confira em imagens o caminho percorrido pelo torcedor
Não dá para dizer que Thiago teve sorte para conseguir os ingressos. Na fase de sorteio, ele não foi contemplado nenhuma vez. Nem recorreu a cambistas. Montou, então, uma força-tarefa, com a ajuda da mãe, da namorada e de amigos. Cada vez que uma nova fase de vendas era aberta, o exército de "aliados do Thiagão" entrava no site. Ele mesmo ia para a lista de espera em três dispositivos: dois computadores e um tablet. Acredita que compreender o funcionamento do sistema de compras ajudou para que tivesse êxito. Milhagens também renderam um par de ingressos.
Thiago programou as férias no trabalho para coincidir com o Mundial da Fifa. Obcecado por grandes eventos esportivos, de dois em dois anos, o flamenguista de 32 anos já prevê o mês de descanso para o período de Copa do Mundo e Olimpíada. Mas ficava restrito ao sofá. Não tinha tido a oportunidade de viver a emoção de presenciar as disputas.
As faturas gordas do cartão de crédito começaram a chegar, mês a mês. A "brincadeira" custou R$ 25 mil só com ingressos e passagens. Para diminuir gastos com hotéis (mais caros durante o Mundial) e usando o Rio de Janeiro como ponto de partida para os voos, ele tentava voltar para casa após cada partida. Com receio de se atrasar para o jogo do dia seguinte, Thiago nem tentou comprar entradas para as sedes mais distantes, como Manaus e Porto Alegre. Também nem pensou em Curitiba, temendo que o aeroporto ficasse sem teto (o que acabou não ocorrendo). Mesmo assim, a logística incluiu passar por sete das 12 cidades-sede. A empreitada contou com a companhia do amigo Marcio Ferreira, que foi colega de faculdade.
Cansado depois de tanta correria, Thiago acredita que valeu a pena e garante que faria tudo de novo. "É um sonho. O principal motivador é viver esse momento, ter uma história para contar, passar pela experiência de um grande evento no Brasil", resume. Ele viu 23 das 32 seleções participantes da Copa. Sabe o 5 a 1 da Holanda na Espanha? Thiago estava lá. Lembra o sofrimento da seleção brasileira nos pênaltis contra o Chile? Assistiu direto da arquibancada. E o massacre alemão de 7 a 1 no Brasil no Mineirão? Foi testemunha desse momento histórico. E quando Alemanha e Argentina entrarem em campo, no domingo, para ver quem ergue a taça da Copa do Mundo no Brasil, o engenheiro também estará lá, juntamente com milhares de brasileiros que esperavam ver a "final das finais" dentro do próprio país.
Logística maluca
Desde o dia 12 de junho, quando começou a Copa, Thiago Pessoa vive uma maratona constante. As passagens aéreas acabaram custando um pouco mais do que as entradas nos jogos. E mesmo comprando com antecedência de mais de dois meses, teve dificuldade para encontrar voos. "Às vezes não tem nem ônibus para o horário em que precisava estar em outra cidade", diz. Foi o que aconteceu na saída do Recife, rumo a Brasília. Sem voo direto de Pernambuco, ele comprou passagem saindo de João Pessoa, a 120 quilômetros de distância. Com o jogo Costa Rica e Grécia indo para a prorrogação e para os pênaltis, ele perdeu o último ônibus rumo à capital paraibana. Precisou pegar uma van para chegar até lá e garantir presença no dia seguinte, na disputa entre França e Nigéria.