Quando o Brasil foi escolhido sede da Copa do Mundo de 2014, a Arena da Baixada era o estádio mais pronto. Na semana do sorteio dos grupos, em dezembro do ano passado, assumiu o posto de mais atrasado. E nos últimos dias, tornou-se na maior incógnita para a principal competição do futebol mundial.
A visita do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, na terça-feira, expôs ao mundo a morosidade do projeto paranaense, situação traduzida em uma data: 18 de fevereiro. É quando Curitiba precisa dar garantias de que terá um estádio pronto para a Copa. E, para chegar até lá, foi desencadeada uma força-tarefa entre estado, município e Atlético.
A Gazeta do Povo levantou sete questões que ajudam a explicar esse processo, mostram o caminho que precisa ser percorrido e até mesmo as pedras que vão surgir pelo caminho.
1 -Por que a Fifa elegeu 18 de fevereiro como dia D?
É quando começa um workshop de treinadores, no Costão do Santinho, em Florianópolis. Dali, os técnicos das 32 seleções saem em viagem pelas sedes onde vão jogar, para definir questões de logística. Ou seja: quando deixarem Santa Catarina, os treinadores precisam ter 100% do seu roteiro na primeira fase da Copa. Em caso de exclusão da sede, a Fifa teria pouco mais de dois meses e meio para fazer os devidos ajustes de logística.
2 - O que Curitiba precisa apresentar em 18 de fevereiro?
Pela projeção do comitê paranaense, ter no mínimo 10 mil assentos instalados, gramado aplicado, cobertura, iluminação e acessos ao vestiário concluídos. Além de um canteiro de obras funcionando a pleno vapor, com fluxo eficiente de dinheiro para as frentes corretas. Se encontrar essas condições, a Fifa mantém Curitiba na Copa e programa os testes de logística e a construção de instalações de infraestrutura de transmissão e hospitalidade no entorno do estádio. Ao contrário do que disse Mario Celso Petraglia, não estão descartados evento-teste e jogo de inauguração. A Fifa só não quer ouvir falar disso enquanto não tiver segurança de que o estádio estará pronto.
3 -O que já foi feito para manter Curitiba na Copa?
Da reunião de terça-feira saiu um plano emergencial com três pontos: criação de um comitê gestor da obra, ajuste do cronograma e do fluxo financeiro e aumento da força de trabalho. O comitê começou a trabalhar sexta-feira no estádio, com técnicos indicados pela prefeitura, pelo governo do estado e pelo Atlético. Um dia antes, a Fomento Paraná depositou na conta da CAP S/A os R$ 39 milhões ainda retidos do empréstimo. Nos próximos dias, devem entrar os R$ 6,5 milhões que faltam do BNDES. Na quarta-feira sai um relatório do comitê indicando prioridades de investimento e de incremento na força de trabalho dentro da obra. "Estamos levantando tudo, o que tem para pagar, onde precisa entrar dinheiro, apagar incêndio onde precisa para dar fluxo à obra", explica o secretário municipal de Copa, Reginaldo Cordeiro.
4 -Quem perde mais se Curitiba ficar fora da Copa?
Em termos de imagem, o prejuízo já existente só aumenta para todos: Atlético, município, estado, União e Fifa. "Tentaremos esse fôlego final para que Curitiba não saia da Copa, não tenhamos essa vergonha nacional", admitiu Petraglia. Do ponto de vista legal e financeiro, a Fifa está blindada. A Lei Geral da Copa transfere para a União a responsabilidade por prejuízos que a entidade internacional tenha em decorrência da Copa, como os causados pela exclusão de uma sede com ingressos e pacotes de viagem vendidos. E o contrato de sede permite à União buscar ressarcimento com estado e município. Essa teia legal justifica o empenho do governo federal em dar nova chance a Curitiba.
5 -A Fifa tem onde acomodar os jogos de Curitiba?
Não. E esse é o grande motivo para a Fifa ter dado uma sobrevida a Curitiba. A tabela foi montada para garantir um intervalo entre dois jogos no mesmo estádio que dê tempo para ajustes nas arenas e a "troca" no fluxo de torcedores e jornalistas dos países envolvidos. Apenas o primeiro jogo, Irã x Nigéria, poderia ser encaixado com tranquilidade em Natal ou São Paulo. Os outros três ficariam encavalados com partidas já marcadas ou forçariam mais mudanças. Buscar outro estádio significaria abrir mão do padrão Fifa.
6 -Como as seleções estão reagindo à indefinição da sede curitibana?
Por enquanto, poucas manifestações. O porta-voz da Federação Australiana, David Mason, disse estar preocupado com os torcedores que já compraram ingresso e passagem para o jogo com a Espanha (23/6). Dirigentes da Real Federação Espanhola têm evitado declarações oficiais. O técnico Vicente Del Bosque disse confiar na conclusão da Arena e já avisou que com ou sem jogos na cidade, os campeões mundiais farão sua preparação no CT do Caju.
7 -O que ainda pode atrapalhar o projeto de Curitiba?
A discussão sobre quem pagará a diferença de R$ 53,6 milhões entre o orçamento antigo e o atual, de R$ 319 milhões. Município e estado se fiam na promessa feita em agosto, por Petraglia, de que qualquer conta extra seria paga pelo Atlético. O dirigente já falou em manter a divisão tripartite para a conta inteira. Uma divergência que, se virar impasse, pode interromper o fluxo de dinheiro em um momento em que não há mais tempo a perder.
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