A seleção do Irã chegou a Curitiba no início da noite deste sábado (14) para disputar a primeira partida do Mundial na cidade, contra os nigerianos, na segunda-feira (16). Recebidos por dezenas de simpatizantes, os iranianos desembarcaram no aeroporto Afonso Pena sob forte aparato de segurança. Eles estavam em São Paulo, onde treinam durante a estadia no Brasil.
Ao chegarem ao hotel, os jogadores foram surpreendidos pelos torcedores, muitos deles iranianos, que gritaram o nome do país e levantavam bandeiras do Irã. Em respeito a calorosa recepção, os jogadores deixaram as malas no hotel rapidamente e voltaram para saudar os torcedores.
O trânsito na Rua Comendador Araújo, onde estão hospedados, ficou bloqueado durante quase uma hora para que a delegação pudesse entrar no hotel. Apesar do tráfego lento, o ônibus chegou ao hotel uma hora depois de desembarcar no aeroporto Afonso Pena. O Irã fará um treino de reconhecimento no gramado da Arena da Baixada neste domingo, às 14h30.
Recepção
A chegada do Irã a Curitiba trouxe o otimismo e o bom humor dos torcedores. Longe das disputas políticas do oriente médio, eles puderam se expressar mais livremente sobre política e esporte.
O comerciante Vahid Saatsaz, 33 anos, é iraniano, mas mora em Curitiba já há seis meses. Com sotaque carregado e português razoável, ele está otimista com a presença da seleção do Irã na cidade. "Vamos ganhar por 2 a 1", afirma, carregando sua filha Linda, de dois anos.
Saatsaz está ainda tentando conseguir ingressos para ele e a família. O comerciante não tem boas lembranças do retrospecto iraniano em Copas, mas uma recordação ninguém consegue lhe tirar. "Em 1998, na França, ganhamos dos Estados Unidos. Estou feliz com a seleção aqui, mesmo sem ingressos", conta, gargalhando.
Ao lado dele, está outro iraniano, Aresh Memari, 44, que mora no México e veio para o Brasil assistir todos os jogos do Irã. Em Guadalajara, torce pelo mexicano Chivas.
"Vou ver todos da primeira fase e vamos passar para as oitavas", comenta. Orgulhoso, mostra as fotos os ingressos dos jogos do Irã contra Nigéria, Bósnia e Argentina.
"Obama is not coming"
Dezenas de policiais e quase dez viaturas policiais, além de soldados do Exército e agentes da Polícia Federal acompanharam todo trajeto da seleção iraniana, desde o desembarque do Aeroporto Afonso Pena até o Hotel Pestana, na Rua Comendador Araújo, no Batel.
O excesso de zelo em torno dos iranianos acabou motivo de piada entre os torcedores que esperavam. "Obama não está vindo", ironizou Memari, em inglês, ao ficar surpreso com as barreiras policiais que fecharam a rua e dividiram os torcedores da entrada do hotel.
Palestina e Israel em paz na cidade
Entre as dezenas de torcedores que acompanhavam a chegada da seleção persa em Curitiba estavam muitos árabes, de origem libanesa, palestina e síria. Muitos deles carregavam bandeira pedindo libertação de líderes palestinos presos em Israel.
A manifestação provocou a curiosidade do jornalista israelense Ori Cooper, do diário de Tel Aviv Yedioth Ahronoth, que está em Curitiba acompanhando a seleção da Nigéria e do Irã. Ele conseguiu entrevistar alguns árabes e iranianos depois de algumas caras feias ao dizer seu país de origem. Cooper acabou abordado pelo presidente da Sociedade Árabe Brasileira Moutih Ibrahim, após falar em hebraico durante a reportagem.
"Aqui no Brasil judeus e árabes estão em paz. É o único país do mundo que é assim", disse Ibrahim a Cooper. Os dois apertaram as mãos cordialmente. "É como se fôssemos primos. Eles são nossos vizinhos. No futebol somos amigos". Sobre política, os dois foram reticentes, mas Cooper resumiu. "Em política é diferente", diz.