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Os quatro jogos da Copa do Mundo em Curitiba foram realizados em clima de festa e tranquilidade. Mas o prometido legado do evento não veio em sua totalidade. Pelo menos é o que se vê quando analisadas todas as promessas feitas desde 2010. Apesar de a cidade ter recebido mais de R$ 400 milhões em obras de mobilidade, além de um moderno centro integrado de segurança, projetos foram abandonados e outros diminuídos durante a preparação do estado para o Mundial. Curitiba entregou melhorias em vias de acesso ao Afonso Pena, na Rodoferroviária e no entorno da arena, mas obras distantes do cinturão por onde circularam torcedores não tiveram a mesma sorte. Além disso, projetos como o Corredor Metropolitano – que ligaria sete municípios da RMC – acabaram não saindo do papel. Antes da Copa, o Aeroporto ganhou duas novas posições para aeronaves e uma pista remodelada, mas intervenções como o novo terminal de passageiros e a terceira pista não foram concluídas. No turismo, 500 mil torcedores passaram por Curitiba – confirmando estimativa de uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, encomendada em 2011 pelo Ministério do Turismo. Mas os pontos turísticos da cidade deixaram de receber R$ 18 milhões em investimentos. As promessas de legado não pararam por aí. Em busca de apoio para o megaevento, políticos vincularam a Copa a melhorias na área de saúde, cultura e meio ambiente. Veja ao lado o que deu certo e o que ficou no discurso.

Gastos Públicos

A reforma da Arena da Baixada custaria R$ 135 milhões, valor que seria dividido em partes iguais por Estado, Prefeitura e Atlético. Esse custo saltou para R$ 330 milhões – sendo R$ 131 milhões via empréstimo do BNDES e R$ 160 milhões financiados pela Fomento Paraná. O restante será pago com recursos do próprio clube. Mas para pagar parte dos empréstimos, o clube ainda receberá R$ 123 milhões em títulos de potencial construtivo. Somado a esse valor, a administração municipal ainda investiu mais R$ 27,9 milhões em instalações temporárias no entorno do estádio. Se por um lado houve investimento público indireto na arena atleticana, o mesmo ainda não ocorreu com os projetos que não entraram ou foram excluídos da matriz de responsabilidade. Puxados pelo Corredor Metropolitano, orçado hoje em R$ 700 milhões, eles somam quase R$ 1 bilhão. Nessa lista, também entra a requalificação da Cândido de Abreu, a alça da Avenida Salgado Filho, o Anel Viário Norte e a Requalificação da Avenida Visconde de Guarapuava.

Mobilidade

A Prefeitura investiu R$ 343,3 milhões e entregou cinco das seis obras de mobilidade urbana previstas no PAC da Copa. O Terminal Santa Cândida ficou para o fim do ano. Já o Governo do Estado está responsável por cinco ações – ao custo de R$ 147,6 milhões – e entregou apenas a Rua da Pedreira. Obras como as trincheiras da Avenida Rui Barbosa e da Comandante Aviador Paulo José Lepinsk não foram concluídas. Segundo o governo, o Ministério das Cidades está aprovando um aditivo contratual para conclusão de todas as intervenções até 30 de novembro. Essas obras seriam realizadas independentemente do Mundial, mas foram aceleradas em razão do evento. Por estarem no plano da Copa, também ficaram à margem do limite do endividamento. Na comparação com as demais cidades-sede, Curitiba se destacou por ter um número menor de projetos abandonados e ter concluído a maioria (prefeitura encerrou cinco de seis; governo do estado terminou um de cinco). Das 70 obras de mobilidade, aeroportos e portos prometidas em todo o país, apenas 24 foram concluídas. Juntas, elas somam R$ 3,2 bilhões – um quarto do prometido.

Turismo

O Instituto Municipal do Turismo informou que 500 mil turistas passaram por Curitiba durante a Copa – sendo 150 mil estrangeiros. Norte-americanos, australianos e equatorianos foram maioria. Esse número impulsionou a ocupação nos hotéis da cidade, que ficou em 58,5% entre 13 e 30 de junho. O dado é da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira Paraná (ABIH-PR) e se refere a 34 membros da instituição. Segundo o Ministério do Turismo, Curitiba e região têm 200 hotéis. Na área de Infraestrutura, foram colocados dez postos de informação turística à disposição dos torcedores, mas nenhuma das três ações turísticas previstas na Matriz de Responsabilidade da Copa foi concluída. Os R$ 18 milhões, agora, serão investidos até o ano que vem, quando deverão ser concluídas a revitalização de metade dos 25 pontos da Linha Turismo, melhorias na Praça Espanha e a instalação de um Centro de Atendimento ao Turista no Jardim Botânico.

Segurança Pública

É uma das áreas que mais se beneficiou com a Copa. Houve um investimento de R$ 82,4 milhões do governo federal e R$ 17,6 milhões do estadual para aquisição, especialmente, de dois caminhões de monitoramento com alta tecnologia e construção do Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR). Este último consegue integrar todas as forças de segurança e fará, em 60 dias, que o trabalho de investigação seja mais ágil e eficaz. Todos os agentes de segurança estadual trabalharão no mesmo ambiente. Atualmente, o trabalho feito nos locais de crime demora em torno de quatro horas. A previsão da Sesp é que esse tempo caia para uma hora e meia entre a chegada da PM, polícia civil e peritos. Por outro lado, a promessa que a Copa traria a comunicação digital para PM ainda não foi cumprida – segundo o Governo do Estado porque a União não repassou os recursos solicitados. Os agentes usaram telefone celular nas ruas no evento.

Imagem

A previsão, segundo Mario Celso Cunha, era de ficar entre 3 e 5 bilhões de espectadores do Mundial. Ele contava com as transmissões dos jogos na cidade para 230 países. Não há dado oficial sobre isso. A prefeitura esperava que 600 profissionais de imprensa cobrissem a seleção da Espanha na cidade, mas apenas cerca de 1/3 disso acompanhou "La Roja". Algumas informações também foram veiculadas pelos espanhóis, principalmente sobre o gramado da Arena. O jornal espanhol Marca classificou o gramado como uma plantação de batata. Já o El País considerou o campo impróprio para a partida entre Austrália e Espanha. Entradas ao vivo pela produtora Supersports, por exemplo, que solicitou autorização da prefeitura para instalar um link na Boca Maldita, não ocorreram. Ao todo, nos 11 dias de evento, o centro de mídia da Baixada diz ter atendido 1,5 mil jornalistas. O lado positivo foi o elogio feito por muitos torcedores que passaram pela capital. A impressão foi de que muitos turistas/torcedores curtiram Curitiba.

Outros

Aeroporto: uma das principais obras esperadas para Copa era a construção da terceira pista do Aeroporto Afonso Pena. A obra, no entanto, não chegou nem a começar. A reforma do terminal de passageiros também ainda não acabou. A obra foi dividida em três etapas e apenas a primeira delas foi entregue antes da Copa. A obra completa, orçada em R$ 239 milhões, será concluída apenas em 2016. Saúde: atrás da Baixada, onde era a sede do centro de transmissão de dados, será construída uma unidade especializada em saúde da mulher. De acordo com o governo estadual também foi inaugurada a Unidade de Pronto Atendimento da regional matriz em maio. Para Cunha, resultado da passagem da Copa. Cultura: Entre os legados previstos para copa, em livreto distribuído à imprensa, era construção da imagem de Curitiba como uma referência em música erudita. Talvez, o legado mais verossímil seja a divulgação de bandas locais durante a Fan Fest. Foram 70 bandas do Paraná na Pedreira Paulo Leminski.

Elogio...

Valeu a pena

Reginaldo Cordeiro*

Quando recebemos a missão de preparar Curitiba para Copa do Mundo, sabíamos que nossa capacidade de gestão seria colocada em teste. Nos primeiros seis meses, trabalhamos para readequar os projetos, os orçamentos e licitá-los. Projetos básicos ou inacabados poderiam comprometer o resultado. Precisávamos de agilidade e qualidade. Fizemos então outros sacrifícios: jornadas de trabalho dilatadas, horas de sono reduzidas. Valeu a pena. As obras de legado que inauguradas para a Copa farão toda a diferença para o desenvolvimento da cidade.

Com os recursos do PAC da Copa, o corredor Aeroporto-Rodoviária foi remodelado com o Viaduto Estaiado e a Trincheira Guabirotuba. A Linha Verde Sul teve transformação paisagística. A Avenida Marechal Floriano Peixoto passou por mudança semelhante entre o terminal do Carmo e o do Boqueirão com alargamento do viaduto sobre a linha férrea e da ponte sobre o Rio Iguaçu. A Rodoferroviária agora tem praça de alimentação, ambiente climatizado, elevadores, escadas rolantes e um sistema viário mais adequado em seu entorno. Curitiba ganhou o Sistema Integrado de Monitoramento nos terminais e estações-tubo.

Com recursos próprios, a prefeitura requalificou as vias da região do Rebouças. A Praça Afonso Botelho foi reformada receberá equipamentos de lazer. O Broadcast, um terreno próximo ao estádio onde foram instalados os equipamentos de transmissão das emissoras de tevê, foi preparado para receber uma Unidade de Saúde com Especialização na Mulher. Nesse período, os investimentos em saúde e educação cresceram como nunca. O cidadão curitibano mais uma vez ganhou e a cidade continua sendo referência.

*Secretário municipal de Copa.

Melhor Copa

Mário Celso Cunha*

O Paraná teve uma bela apresentação na Copa do Mundo 2014. Curitiba foi considerada pela imprensa internacional e pela Fifa como a melhor sede, com uma excelente arquitetura e mobilidade urbana acima da média.

E isso só foi possível em virtude do trabalho conjunto na preparação do evento, que resultou nas obras do PAC da Copa, além de muitos investimentos na área de energia elétrica e no Porto de Paranaguá, o qual recebeu vários navios de turistas estrangeiros.

Outro destaque foi a integração das forças de segurança e saúde, o que proporcionou uma estatística positiva ao fim dos jogos em Curitiba.

Tivemos a indicação de vários locais para servirem de centros de treinamento para as seleções. A Espanha, em Curitiba, e Coreia do Sul, em Foz do Iguaçu, movimentaram o setor turístico deram visibilidade ao estado. A Arena da Baixada, bastante criticada antes do evento, recebeu elogios e superou expectativas.

Empresas de cidades do interior como Apucarana e Nova Esperança também lucraram, confeccionando milhares de produtos, todos licenciados pela Fifa.

*Coordenador estadual de Copa.

...E crítica

Depois da Copa

Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski*

Embora entrando agora na fase mais frenética do ponto de vista esportivo, restam apenas quatro jogos em quatro cidades, ainda é cedo para avaliações mais consistentes sobre os resultados no campo das transformações urbanas e da economia.

A agitação dos preparativos deu lugar ao recolhimento das estruturas temporárias, das placas provisórias, dos tapumes, quase não há mais operários nas ruas, as obras foram concluídas total ou parcialmente no mesmo compasso da maioria dos jogos das oitavas de final: nos últimos minutos do segundo tempo ou mesmo na prorrogação.

Que lições tirar para o futuro? A grande expectativa acerca das mobilizações prometidas por distintos segmentos para o período da Copa, não se efetivou, mesmo porque a segurança foi redobrada, inclusive com o exército monitorando as ruas em várias cidades brasileiras.

Novidades na paisagem urbana: novas faixas preferenciais de ônibus surgiram, sinalizadas em verde e amarelo; às vésperas do início dos jogos, o corredor Aeroporto-Rodoviária virou um imenso canteiro de obras, nunca tantos trabalhadores e máquinas foram vistos em ação: asfaltamento de vias, placas de sinalização de trânsito e indicando uso de bicicleta são vistas ao longo de toda sua extensão; caminhões com grama e palmeiras, modificaram a toque de caixa o canteiro central que restou na Av. das Torres.

Não se trata de defender se a cidade ganhou ou se a cidade perdeu. Há ganhos e há perdas, sempre. Talvez o ideal fosse avaliar que segmentos sociais e econômicos ganharam e quais perderam.

No processo de viabilização da Copa no Brasil, ganharam os grupos hegemônicos e perderam os grupos hegemonizados ou, como muito bem afirmou Milton Santos – grande geógrafo brasileiro falecido em 2001 –, ganharam os homens e as firmas do tempo rápido e perderam os homens e as firmas do tempo lento.

Traduzindo, podemos afirmar que ganharam as grandes empresas, que acompanham a Fifa pelo mundo em suas ações, ganharam as empresas nacionais e locais mais bem preparadas para responder às exigências pautadas em padrões internacionais, perderam os pequenos comerciantes e os vendedores ambulantes cuja permanência não foi permitida no entorno da arena; as empresas menores que não conseguem responder às exigências formais de contratação pública.

Resta dimensionar que jogo de forças queremos priorizar em nossa sociedade, quem queremos empoderar e quem queremos refrear. Essa é uma questão que merece ampla reflexão, sobretudo porque, depois da Copa virão as eleições...

*Professora do Departamento de Geografia da UFPR e Coordenadora do Núcleo Curitiba do INCT/Observatório das Metrópoles

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