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O futebol colombiano morreu e renasceu há exatos 20 anos. Foi no estacionamento da boate Pádua, em Medellín, na madrugada de 2 de julho de 1994. Seis tiros derrubaram Andrés Escobar, símbolo da seleção que havia chegado como favorita e saído como decepção da Copa dos EUA. Um gol contra do zagueiro, diante dos donos da casa, selou a eliminação na primeira fase. O traumático marco zero de um processo que culminou na chegada às quartas de final do Mundial do Brasil, em 2014.

"O assassinato de Escobar foi o final de tudo que significou aquela geração. Despertou a Colômbia para a necessidade de uma reflexão sobre toda a sua sociedade e de purificar o futebol do dinheiro quente que vinha do narcotráfico", diz à Gazeta do Povo o jornalista colombiano Victor Rosas Aguilar, autor de El dia que murio el futbol, livro sobre a morte do zagueiro sem tradução para o português.

O dinheiro dos cartéis de Cáli e Medellín jorrou no futebol colombiano a partir do início dos anos 80. Rodríguez Orejuela, chefe do tráfico em Cáli, fez do América seis vezes campeão nacional e tri vice da Libertadores. Pablo Escobar foi além com o Nacional da sua Medellín. Fez o time ganhar o continente e ser base da poderosa seleção colombiana de Higuita, Valderrama, Rincón e Andrés Escobar.

O time que encantou o mundo ao golear a Argentina por 5 a 0, em Buenos Aires, e ganhou de Pelé o rótulo de favorito ao título. Mas que ia escondido até a prisão de La Catedral promover animadas peladas para Escobar, morto em 2 de dezembro de 1993.

A tensão instaurada na Colômbia com a morte do principal criminoso do país teve impacto direto na seleção. Jogadores tinham medo de que seus familiares fossem sequestrados. Francisco Maturana, o técnico, chegou a sofrer uma ameaça de morte anônima, já nos EUA, caso não tirasse do time o volante Gabriel Gómez.

De volta para casa, Escobar saiu com dois amigos. Dentro da danceteria, passou a ser provocado pelos irmãos Pedro e Santiago Gallón, que falavam do gol contra insistentemente. No estacionamento, respondeu a nova provocação. Foi o que bastou para que o motorista dos Gallón, Humberto Muñoz, descarregasse seu revólver calibre 38 no zagueiro.

Muñoz confessou o crime. Cumpriu 11 dos 43 anos da sua condenação e foi libertado em 2005, por bom comportamento. Há, até hoje, fortes indícios que se tratava de uma vingança de apostadores que perderam dinheiro com o fracasso colombiano.

"Andrés amava o futebol e fazia de tudo para que a Colômbia se saísse bem. Até hoje é muito duro para a família lidar com isso, mas nos conforta o respeito com que Andrés é lembrado em toda a parte do mundo quando se fala dele", afirmou Santiago Escobar, técnico de futebol e mais velho dos quatro irmãos do ex-zagueiro.

Hoje, como todo 2 de julho, a família se reunirá na Fundação Andrés Escobar, em Medellín. O Nacional organiza uma missa e entrega uma placa em memória. Em 2014, os 20 anos do assassinato serão lembrados com uma escultura do jogador. E, claro, com muita reverência ao que o time de José Pekerman tem feito no Brasil.

"Todos esses garotos viram o time de 94 jogar, têm aqueles jogadores como grande referência e aprenderam com eles. Hoje formam uma seleção mais madura, com experiência internacional e maior compromisso", compara Santiago Escobar. "Do céu, onde está, Andrés certamente está contente com o que esses garotos estão fazendo. Se ainda fosse vivo, estaria no Brasil como torcedor", complementa, falando pausadamente para controlar a emoção.

Uma transformação não somente técnica, mas especialmente de cabeça e de prioridades. "Antes os jogadores usavam a seleção como plataforma para o futebol internacional, para ganhar dinheiro. Hoje todos atuam desde cedo na Europa, já têm dinheiro. Querem a glória", diz Rosas.

Uma glória nascida de uma das mais tristes páginas do futebol mundial, escrita tragicamente há 20 anos.

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