Coração alviverde

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A uma semana de se aposentar como jogador, os dias de Alex estão corridos. A imprensa do Brasil inteiro quer pegar uma última palavra antes do adeus dos gramados, no próximo domingo, no Couto Pereira, na última rodada do Brasileiro, diante do Bahia.

A convite da Gazeta do Povo, o craque topou responder perguntas de torcedores, selecionadas entre 65 enviadas entre quarta e sexta-feira. O craque não fugiu de nenhum tema. Dos atritos com a diretoria à emoção de jogar a última partida pelo clube de coração, falou de tudo. E, apesar das dificuldades, sustenta: "Voltar ao Coritiba valeu mais do que um título brasileiro".

Pensa em ser presidente do Coritiba?

Marcelo Leonart, gerente distrital Administrativamente, não tenho conhecimento. Minha intenção é de ajudar naquilo que conheço que é o futebol. Ano que vem vou buscar as credenciais para ser treinador. A única decisão que tomei foi de parar de jogar. O que vier depois, penso lá na frente.

Não se sente frustrado por ter conseguido suas maiores conquistas por outros times, não pelo Coritiba?

João Eloi Olenike, executivo Nem um pouco. O fato de eu não conquistar títulos no Coritiba só mostra que o clube não se preparou para ganhar qualquer coisa. Não só comigo, mas ao longo da história. O Atlético-MG hoje é um exemplo. Quando joguei no Cruzeiro o Atlético-MG era bem confuso, parecido com o o Coritiba hoje. O Galo começou a fazer atividades no centro de treinamento, fazer bons times e hoje é um dos clubes mais vencedores do país. As pessoas que dirigiram o Coritiba nunca imaginaram onde querem ir. Às vezes briga pela Libertadores, às vezes briga para não cair. Não tem uma regularidade porque nunca se sabe a grandeza daquilo que o clube pode alcançar.

O que o Coritiba precisa fazer para formar um time que dispute títulos nacionais ao invés de brigar para não cair?

Cleverson de Freitas, engenheiro civil, e José Valdir De Meo, auditor Tem de criar uma filosofia, entender o Coritiba. Entender se tem potencial para comprar jogadores, se tem condições de criar jogadores. Não tem isso. Se você perguntar hoje quais as intenções para 2015, quem dirige o clube não sabe. Que tipo de formação de atleta a gente tem? Ninguém sabe. Você não pode iniciar um trabalho com o Marquinhos Santos, passar para o Chamusca, entrar o Dado, chegar ao Roth e voltar ao Marquinhos. São quatro treinadores que pensam totalmente diferente.

Qual a vitória e a derrota que mais marcaram sua carreira no Coxa?

Luana K. Batista, analista de logística A vitória foi o Atletiba de 95 [3 a 0, com gol do meia no clássico], quando conseguimos o acesso e era meu primeiro ano como profissional. Se o Coritiba não tivesse subido, demoraria mais para retornar, porque vinha da pior crise de sua história. A pior derrota foi contra o Paraná em 96, na decisão do Paranaense. O Paraná sempre foi melhor naquele período, mas a gente acreditava que tinha condições de quebrar o jejum de títulos que vinha desde 89.

J O que acha de um jogo de despedida Coritiba x Fenerbahçe?

Laercio Dias Dantas, contador

Não parei para pensar nisso. Até porque não tem de partir de mim. Se algum dos clubes nos quais joguei achar que mereço uma despedida e quiser fazer, serei o cara mais feliz do mundo. Quanto aos times, também não posso eliminar clubes importantíssimos na minha carreira, como o Cruzeiro e o Palmeiras, dessa possibilidade.

Você disse que os dirigentes do Coritiba não cumpriram 80% do prometido na sua volta. Pode detalhar as promessas?

Rudy Neves, consultor de marketing

Passaram para mim que a intenção era ter 70% do time formado na base e infelizmente não tivemos. A intenção era montar um time para brigar entre os oito primeiros [no Brasileiro] e não aconteceu. A intenção era de que eu fosse usado em várias ações de marketing, e também não aconteceu. O que mais me chateou foram as categorias de base. Em dois anos não vi interligação profissional-base. Vi vários jogadores vindo passar tempo no Coritiba, tipo "vou ali cumprir meu contrato e vou embora". Esse tipo de jogador o Coritiba não pode ter, porque queima dinheiro. Administrativamente me mostraram um bom clube quando assinei o contrato. Me sinto enganado como torcedor.

Pretende ingressar na política?

Landes Parciúncula, advogado Não. Até fui convidado na última eleição pelo PSDB, mas não tenho interesse. Adoro discutir política, mas não me vejo como político.

Se fosse presidente, como melhoraria o Coxa?

Felipe Weirich, diagramador Tem de deixar as coisas mais claras, mostrar para o torcedor "esse é o nosso clube, que tem essas condições e é atrás disso que vamos correr atrás". Deveria ser assim, com o entendimento geral das pessoas que vão tocar o clube, da imprensa, e, principalmente, do poder maior, que é o torcedor saber o que o Coritiba pode e deseja.

Você admitiu ter buscado terapia para lidar com a decisão de parar. Qual sua opinião sobre o auxílio psicológico a atletas?

Ana Carolina Mainetti, psicóloga A importância é total. Muito mais do que qualidade técnica, do que preparação física, a preparação mental em vários momentos acaba decidindo. Já vi vários jogadores perderem por ter um poder mental fragilizado. Tem jogador com qualidade técnica menor, mas mentalmente é muito forte e acaba tendo sucesso. Todos os clubes que passei, exceto o Coritiba na primeira vez, tinham psicólogos e eu sempre os procurei.

Houve algum tipo de arrependimento em encerrar a carreira no Coritiba por o time ter lutando contra o rebaixamento nos dois últimos anos?

Wesley de Carvalho, corretor de imóveis Nenhum. Pude comemorar o título paranaense em cima do Atlético, perto do meu filho, que está se tornando coxa-branca, com as minhas filhas, com a minha mulher. Terminar minha carreira jogando no meu clube é fantástico. Poderia ter ido para o Cruzeiro e seria tricampeão brasileiro, ficaria mais eternizado lá do que já estou pelo ano de 2003, mas não teria essa satisfação. Encerrar a carreira no Couto com a camisa do Coritiba, diante da minha torcida, vale mais do que um título.

Como capitão, que postura você adotou diante dos outros jogadores?

Guilherme Setim, estudante De ser exemplo, de acreditar, trabalhar, colocar o Coritiba acima das coisas, de não ter vaidade. Como capitão, comprei briga do meu vestiário, mesmo quando não era minha. O clube já esteve para explodir várias vezes e não explodiu porque com a minha mão e de mais alguns acabamos segurando. A única coisa que talvez eu não tenha conseguido fazer, que a gente foi perdendo ao longo do tempo, é de acreditar que você pode ganhar. O Deivid me ajudava muito nisso, porque tinha um peso, uma história espetacular, foi campeão e artilheiro em todo lugar. O Lincoln, que era deus na Alemanha, mesmo com o torcedor questionando ele aqui, internamente ajudava demais também. Além daquela coisa de sentimento de torcedor, do atleta forjado na base, em que o Willian [atualmente no Cruzeiro] valia por cinco, seis jogadores. Hoje temos jogadores que fazem isso, mas são caras sem história. O Robinho, por exemplo. Ele ajuda muito, mas não tem história no futebol. O Júlio César é dos que mais ajuda, mas sem o peso da história.

Qual futuro você enxerga para o Coritiba no cenário nacional?

Caio de Miranda O Coritiba tem de entender que quando começam as disputas em nível nacional, seja a Copa do Brasil ou o Brasileiro, o Coxa já começa para baixo de décimo por ene razões. A principal é financeira, porque a divisão de cotas [de TV] joga o Coritiba lá para baixo. Não dá pra imaginar o que vai ser lá na frente sem saber quem vai ser a nova diretoria e como vai se posicionar.

Após o Brasileiro, vai se posicionar sobre as eleições ?

Lucas Rangel, estudante Não tenho nada a ver com a eleição do Coritiba. Apenas vou votar como . Espero que quem assumir deixe algo para o Coritiba mais longo, que ninguém fez até o momento. Todos os presidentes vieram preocupados com o seus mandatos. O perigo disso é deixar para o presidente seguinte uma conta a pagar.

Há possibilidade de seu filho jogar no Coritiba?

Gabriel Zanardini Martins, engenheiro mecânico É muito cedo, ele tem quatro anos, não sei se vai querer jogar bola. Se quando começar a jogar demonstrar alguma aptidão, se eu enxergar algo para ele como jogador, vou procurar uma opção boa para que jogue. Se essa opção for o Coritiba, não vejo problema.