Haja coração. O famoso bordão dos narradores esportivos não poderia ser mais apropriado nos jogos do Brasil na ala de pacientes cardíacos da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Nos quartos da unidade, os pacientes sofrem, xingam e comemoram, enquanto as enfermeiras ficam com um olho na tevê e outro na pressão arterial dos pacientes.

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O radialista Alcione Machado, 56 anos, conseguiu ontem assistir à primeira partida da seleção na Copa. Há duas semanas internado, após passar por cinco cirurgias de ponte de safena, ele tinha a expectativa de acompanhar o jogo das oitavas-de-final contra Gana como se fosse a estréia na competição.

"Fiquei sabendo pelos parentes que o Brasil não jogou bem os outros jogos. Mas esse time é bom, tem qualidade", diz o tranqüilo radialista, que tomou uma dose extra de medicamento antes do jogo.

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Graças a Machado, os outros três companheiros de quarto puderam ver a partida. Isso porque a tevê ligada na enfermaria foi levada pelo radialista.

O aposentado Ingo Krueger, 64 anos, um dos companheiros de quarto, era um dos mais nervosos. Aos três minutos de jogo, ao ter a pressão arterial medida, a preocupação. Alta já antes do jogo, a pressão chegou a um nível preocupante.

"Nós sabemos que a pressão subiu bastante justamente por causa da ansiedade do jogo", afirmou a enfermeira Letícia Salamunes. Segundo ela, caso a pressão de Krueger continuasse alta até o final do primeiro tempo, a medicação seria antecipada.

Krueger justificou que a ansiedade era dupla: pela partida e por aguardar uma angioplastia, marcada para hoje. "Se eu já estivesse feito a operação, garanto que estaria mais tranquilo", disse.

Enquanto a seleção sofria para não sofrer o empate no primeiro tempo, o aposentado demonstrava nervosismo. Com os olhos grudados na têve de 14 polegadas, as mãos não conseguiam ficar paradas. "O negócio é não perder a calma", afirmou. Krueger teve a pressão arterial medida três vezes durante o jogo – o normal é de quatro em quatro horas. Para seu alívio, ela diminuiu e não foi necessário tomar mais remédios.

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Sem TV

Enquanto Krueger sofria com o time de Parreira, o auxiliar de manutenção Sebastião Silva, 42 anos, folheava uma revista na cama do quarto ao lado. Sem televisão, tentava se distrair e ouvir a narração do jogo.

"Aqui é ruim, meio vazio, sem alegria", disse. Se recuperando de um cateterismo realizado na segunda-feira, Silva imaginava como estava a comemoração no Iate Clube de Guaratuba, local onde trabalha e assistiu aos outros jogos. "A festa deve estar grande lá", afirmou.

Após o finm do jogo, Machado ficou satisfeito com o resultado. "Com os jogadores que tem, esse time sempre vai ser favorito", disse. Para Krueger, a seleção brasileira precisa melhorar. "Gostei, mas falta pouco para o time ficar bom", afirmou, lembrando que demoraria um pouco para o nervosismo do jogo baixar.