O técnico René Simões, ex-Coritiba, é um dos poucos casos divulgados de personalidades do futebol no Brasil que contraiu o novo coronavírus e se curou. Ele passou os 14 dias da quarentena confinado em seu quarto, em sua casa no Rio de Janeiro, onde sofreu com dores, receios e hoje lembra com alívio tudo que passou. René conta que ao sentir os sintomas da covid-19, como "uma dor de cabeça quase enlouquecedora", febre, dor de garganta e dores no corpo, ele preferiu ficar sozinho, longe da esposa e filha, antes mesmo de saber o resultado do exame. O teste deu positivo e o técnico e empresário só voltou a conviver com a sua família depois do dia 30 de março.
O maior desafio de René durante a fase em que teve de se isolar foi cuidar da saúde mental. Nesses dias, ele se manteve atento ao noticiário sobre a doença e também passou o tempo vendo jogos de basquete, futebol e de outros esportes. Além disso, "joguei sudoku, fiz leituras e aprendi tudo o que podia sobre política internacional".
"Estamos vivendo um problema global. Temos que ter cuidado com a saúde do corpo e também mental. Tenhamos medo, o vírus nos deixa alerta e precavidos, mas não tenhamos pânico porque ele tira nosso controle", alertou. "A vantagem disso é que estamos tendo um aprendizado de muitas coisas que não tínhamos como sociedade".
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René também é empresário e já voltou a ocupar as suas funções na rede de restaurantes especializados em frutos do mar da qual é proprietário. São seis unidades espalhadas no Rio de Janeiro e, que, neste período de afastamento social, estão com as portas abertas apenas para realizar entregas.
O treinador usou os dias em que ficou isolado, em "cativeiro" como disse, para fazer algumas reflexões. Umas delas se refere ao esporte, para o qual, em sua avaliação, haverá uma nova realidade, bem como em outros segmentos da sociedade assim que o surto da doença for controlado.
René fez essa projeção ao falar sobre as finanças do clubes durante e depois da pandemia. Vários times, em todo o mundo, anunciaram reduções salariais de jogadores, comissão técnica e diretores como forma de mitigar o impacto econômico em decorrência da paralisação das competições pelo surto do coronavírus. Alguns aceitaram as medidas de boa-fé, outros, a contragosto, e ainda há várias equipes que não mexeram nos vencimentos.
"Vamos viver um outro mundo, uma outra realidade. Quem vai comprar jogadores, por exemplo? O mundo inteiro vai estar detonado", analisou o empresário, que atualmente está fora do futebol. "Contratos, preço dos ingressos, planos de sócio-torcedor, tudo terá que ter redução. O Flamengo, por exemplo, não pode pagar mais o que o Jorge Jesus queria para renovar. E ele não pode pedir a mesma quantia nesse cenário", continuou.
Dentro da "nova realidade" do futebol, o ex-comandante da seleção feminina apresentou modificações que farão bem à modalidade, em sua opinião. Ele citou a possibilidade de fazer mais substituições e a exclusão de um jogador de campo depois de cometer um determinado número de faltas. Além disso, o ex-treinador se mostrou favorável ao projeto clube-empresa no Brasil.
O treinador tem um longa carreira no futebol. Entre várias equipes, o carioca de 67 anos dirigiu Portuguesa, Fluminense, Coritiba, Bahia e Botafogo, além de ter comandado as seleções da Jamaica e Costa Rica. Seu último trabalho foi no Macaé, em 2017. Atualmente, ele faz parte ao lado de Joel Santana do reality show "Uma Vida, Um Sonho", apresentado pela jornalista Glenda Koslowski, no SBT. O programa busca revelar novos talentos do futebol.