A discussão sobre a qualidade dos técnicos brasileiros explodiu com o 7 a 1 aplicado pela Alemanha na Copa do Mundo. E foi em busca da experiência dos treinadores europeus que Pachequinho, hoje técnico do Coritiba, partiu para uma visita a cinco clubes do continente, em 33 dias.
TABELA: veja a classificação da Série A do Brasileiro
Durante outubro e novembro do ano passado, quando era auxiliar do então treinador Paulo César Carpegiani, o ex-atacante conheceu os métodos de três clubes alemães. O Bayern de Munique, do consagrado técnico italiano Carlo Ancelotti, e as equipes de segundo escalão Wolfsburg e Eintracht Braunschweig. Já na Itália, visitou as gigantes Inter de Milão, de Stefano Pioli, e Roma, comandada por Luciano Spalletti.
Veja a entrevista exclusiva à Gazeta do Povo do que pensa o técnico coxa-branca, efetivado após o título estadual, sobre o conhecimento adquirido na Europa e as pretensões do Coxa no Brasileirão:
O que você viu durante a sua viagem para a Europa que não é feito aqui?
A primeira coisa que tem que ser colocada é a cultura. Você tem que saber adaptar as coisas. Nem tudo que se aplica na Europa, dá certo aqui. Por exemplo, lá é comum os jogadores terem folga durante a semana de treinamentos, como em uma quinta-feira. Aqui não é possível fazer isso. Se eu faço isso aqui, na primeira derrota, você [imprensa], diretoria do clube, torcida e conselheiros já vão dizer: ‘é por isso que não ganha’.
Mas você já colocou em prática treinamentos que você viu na Europa no dia a dia do Coritiba? Dê algum exemplo.
Já, várias coisas. Treinos intensos, dinâmicos e com poucos toques na bola. Um treino que eu faço que aprendi é com o mini campo. Antes eu trabalhava com um espaço muito maior. Agora é um treino em um espaço curtíssimo, muito curto mesmo. Outros métodos são os treinos de pressão. Pressão na saída de bola, pressão na marcação, pressão na bola. Se você perde a bola você tem que pressionar. Mas por causa do calendário nós temos que segurar algumas coisas. Lá não existe aquele rachão tradicional igual aqui. E eu já não tenho feito mais com tanta frequência. Mas tem horas que tem que ter. É aí que entra a questão cultural. Quando você tem a semana cheia de trabalho você precisa soltar um pouco os caras no treino com o rachão.
Como foi acompanhar os treinos do Carlo Ancelotti na Alemanha e qual o estilo de jogo que você mais aprecia? Tem algum treinador especifico que seja uma referência para você?
Não tem como não gostar dos treinos do Ancelotti [risos]. Todos os jogadores são de seleção. Então os caras são muito profissionais,é um treino de altíssimo nível. Eu não consigo me comparar a nenhum desses treinadores. Mas uma referência que eu tenho é a seleção brasileira de 1982 [treinada por Telê Santana]. Eu por ter sido atacante, gosto de equipes que atacam mais do que defendem. Ter a bola é uma forma de se defender.
Quando foi cogitada a ideia para você viajar e como você vê esse investimento que o presidente Rogério Bacellar fez no seu trabalho?
Foi importante. Depois que nós conseguimos se manter na Série A, em 2015, quando eu assumi na reta final, o presidente conversou comigo e disse que queria investir em mim. O clube fez o investimento e agora está tendo o resultado com a continuidade do trabalho, com o título estadual. Era para eu ter ido antes, mas teve o nascimento da minha filha e no meio disso eu ainda assumi interinamente no ano passado. Não é fácil assumir como interino, ter que comandar toda a comissão, atletas e ainda ter que apresentar os resultados.
Quem intermediou as negociações para você visitar os clubes?
No Bayern quem ajudou minha estadia foi o [lateral-direito] Rafinha. Na Inter de Milão foi o [zagueiro] Miranda. Ambos trabalharam comigo na base do Coritiba. E nos outros clubes quem negociou foi o Alex Brasil. Eu conheci os clubes de ponta, mas também pedi para ver como era o sistema em equipes menores, como o Eintracht Braunschweig e o Wolfsburg. No Braunschweig, o técnico Torsten Lieberknecht está lá há oito anos para você ter uma ideia.
Fez muita diferença no seu trabalho mesmo sendo apenas um mês de viagem?
Nossa, muita diferença. Eu adaptei algumas coisas para o nosso mundo. Mas o que pega muito é a condição dos jogadores aceitaram e executarem. Você trabalha e treina, mas e ai? Os jogadores tem que ter a certeza de que isso vai dar certo.
E os jogadores estão assimilando?
Bastante. Eles já entenderam muita coisa. Os resultados mostram isso. Eu sempre falo que nós estamos construindo um time ao longo da temporada. E isso leva tempo. Então ainda nós precisamos de ajustes. Por exemplo, nós não deixamos mais o treino de véspera de jogo ser lento. É um treino curtíssimo, mas com intensidade muito forte. É o que se faz lá. Por outro lado você corre o risco de ter uma lesão e o desgaste físico, por isso temos que saber dosar.
Quais são esses ajustes que você citou e o que mais te preocupa na equipe atualmente?
É o equilíbrio. Em alguns jogos do Brasileiro nós vamos ter que defender baixo porque vamos enfrentar adversários que tem qualidade técnica alta. É isso que mais me preocupa. A quantidade de ações ofensivas que nós estamos tendo, às vezes precisamos de mais calma. Se não corremos o risco de ficarmos muito expostos. Talvez você não precise agredir 200 vezes. Se você chegar 10 vezes, bem certinho e encaixado, é o suficiente.
Você precisa de mais quantos reforços e de quanto tempo para atingir o nível que deseja?
Pode ser com esse grupo mesmo. A ideia de jogo pronta leva um tempo para conseguir ter essa regularidade. Pode ser que seja até o final do primeiro turno para ter as peças bem encaixadas, cada um sabendo bem o que fazer. Mas aí falam, ‘poxa, até o final do primeiro turno?’. Para conseguir isso, nós precisamos manter a mesma equipe em uma sequência. O problema são as lesões.
O que mudou para o clube alterar radicalmente o discurso de evitar a queda para lutar pela Libertadores no Brasileirão?
Primeiro nós tínhamos a desconfiança nossa porque nós não pegamos a Sul-Americana [no Brasileirão do ano passado] e depois saímos na Copa do Brasil e ficamos só com o Estadual. Nós tínhamos que ver o nível que nós se encontrávamos. E com a conquista do Paranaense aumentou a confiança do torcedor e a nossa. Eu acho que é muito cedo nós fazermos o diagnostico e uma análise do que nós podemos. Estamos indo em um caminho bom. Mas o futebol é muito dinâmico, se muda de opinião muito rápido. Não posso dizer que nós vamos brigar lá em cima porque não sou vidente. O que eu acho é que nós vamos crescer muito o nível da equipe.
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