“Apesar de alguns erros, o saldo ainda é positivo”. Assim Rogério Bacellar avalia seu triênio à frente do futebol no Coritiba . Com o time em situação dramática no Brasileirão, o dirigente se apega ao trabalho financeiro para exaltar sua contestada gestão.“A tia Lurdes e o Dirceu Krüger trabalham há mais de 30 anos no clube e disseram que eu fui o primeiro presidente a pagar tudo em dia”, conta ele, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo.
Não há queixas de jogadores e integrantes do departamento de futebol sobre atrasos nos pagamentos. O presidente também se orgulha de poder passar o bastão, em dezembro, sem cotas de tevê da próxima temporada adiantadas e com uma dívida bem menor do que os mais de R$ 200 milhões de déficit com os quais diz ter assumido em 2015.
As contas equilibradas, no entanto, não ofuscam a falta de resultados dentro das quatro linhas. O título estadual deste ano foi o único troféu no período da gestão. No Brasileirão, o time quase nunca esteve na parte de cima da tabela. As seis primeiras rodadas do atual Brasileirão foram uma rara exceção. Tempo em que a empolgação com o elenco causou previsões demasiadamente otimistas. “Temos um elenco recheado de craques”, disse o presidente, antes mesmo do início da disputa. Agora, na reta final da campanha, o discurso é outro: “Eu, como presidente, tinha de acreditar e ser otimista mesmo”.
No dia 9 de dezembro, uma semana após o fim do Campeonato Brasileiro, cerca de 6,7 mil sócios aptos a votar decidirão quem comandará o Coritiba pelos próximos três anos. As inscrições das chapas se encerrarão no dia 9 de novembro. A tendência é que três candidatos disputem o pleito. O médico João Carlos Vialle, de 73 anos, e o advogado Samir Namur, de 34 anos, foram os primeiros nomes lançados. Na última quarta (25) uma terceira via lançou o nome do engenheiro civil Pedro Guilherme de Castro encabeçando chapa
>> Bacellar explica a gestão Bacellar
A melhora da situação financeira do clube é a grande cartada de Bacellar para defender a gestão. Alega que, quando assumiu, o cenário era de salários atrasados e as cotas de televisão já estavam adiantadas quase na totalidade para 2015 e em uma parte para 2016. A dívida alegada passava de R$ 200 milhões. “Não dava nem pra entrar dinheiro na conta. O que entrava era penhorado”, afirma.
Aos poucos, o dirigente diz que colocou a casa em ordem. O Profut, programa do governo federal, serviu para que o déficit fiscal fosse renegociado. O contrato assinado no início do ano passado com o Esporte Interativo (EI) – para transmissão de jogos do Brasileirão a partir de 2019 – foi fundamental para quitar as contas de curto prazo.
O Coritiba recebeu R$ 38 milhões (descontados os juros) de luvas do EI. O valor foi usado, entre outras coisas, para quitar várias ações trabalhistas de jogadores e técnicos contratados por administrações anteriores. Pela estimativa do clube, na base de acordos, mesmo com uma quantia inferior, foi pago o equivalente a R$ 60 milhões. “Botinelli, Zé Love, Escudero, Deivid...”, enumera o presidente, sem esquecer dos treinadores. “Dorival Júnior, Celso Roth, Marcelo Oliveira (recontratado em 2017) e até o diretor Felipe Ximenes”, revela.
Alegando ter hoje uma integração total entre os departamentos financeiro e jurídico, Bacellar prepara um raio-x geral das finanças para o fim do mandato. Garante ter reduzido consideravelmente o valor da dívida, mas espera esse levantamento para revelar o número do déficit atual.
É uma rotina para o Coritiba desde 2012 lutar contra o rebaixamento no Brasileirão. Com Bacellar no comando do clube, não foi diferente. A combinação de troca de técnicos e contratações de jogadores com qualidade discutível fez pouca coisa boa acontecer dentro das quatro linhas.
No período da gestão, são três técnicos por ano. Em 2015, Marquinhos Santos, Ney Franco e Pachequinho. Em 16, Gilson Kleina, Pachequinho e Paulo César Carpegiani. E, na atual temporada, Carpegiani, Pachequinho e Marcelo Oliveira.
As contratações de jogadores seguiram avaliações de toda a diretoria, da comissão técnica e também do departamento de observação do clube, o Unific. Nomes indiscutíveis como o atacante Kléber e o goleiro Wilson foram contratados no período, mas os erros também foram marcantes. Peças como o turco Kazim (que por incrível que pareça deu retorno financeiro na venda ao Corinthians) e o volante Edinho são nomes que simbolizam os equívocos. “Apesar de alguns erros, o saldo ainda é positivo”, avalia Bacellar. “Meu dever só estará cumprido deixando o Coritiba na primeira divisão”, completa.
As vagas explicações de falta de sorte, arbitragem e até mesmo a diferença de investimento para times de outros centros pouco valem para uma torcida cansada de ver o time à beira do rebaixamento.
Colocado em vários grupos de torcedores no WhatsApp, Bacellar nem consegue acompanhar as milhares de mensagens diárias que discutem o Coritiba. A maneira aberta de receber sugestões e atender torcedores também serve para dialogar com as organizadas.
Após vivenciar uma tentativa de invasão ao vestiário após uma derrota para o São Paulo, em 2015, o dirigente resolveu agir de maneira diferente nos dois anos seguintes. Na temporada passada, recebeu junto aos jogadores os organizados para uma reunião na capela do CT da Graciosa. A cena ocorreu, inclusive, com a imprensa presente no centro de treinamento.
Agora, com a nova má campanha, um encontro com o time foi novamente solicitado. Desta vez, ocorreu sem a imprensa saber. “Faz uns 15 dias a Império me procurou e abri, sim, as portas para conversarem com os jogadores. Cobrar resultados em campo e dedicação eu também cobro. Também sou torcedor, mas preciso ser mais frio por ser o presidente”, avalia.
Ex-lateral-direito com passagens por clubes como Chelsea e Barcelona, e pentacampeão mundial com a seleção brasileira em 2002, Juliano Belletti foi contratado para ser o diretor de Relações Internacionais do Coritiba e pediu demissão na semana passada, já sem clima no Alto da Glória. Desde o início do ano, conseguiu acordos de cooperação com clubes como o Barça e o Villareal, também da Espanha.
Graças à influência do ex-camisa 2, o Coxa participou do Mundial sub-17, na Espanha, após a desistência do Corinthians. “Ele foi importante para internacionalização da marca Coritiba”, comenta o presidente. “A questão é que não temos tanto tempo para os projetos. A árvore foi plantada, mas temos de esperar para colhermos os frutos”, diz Bacellar.
O dirigente mais empolgado do Coritiba para a construção de um novo estádio é o vice-presidente Alceni Guerra. Segundo ele, continuar com um estádio antigo vai “eternizar o atraso em relação ao Atlético”. Apesar da opinião forte, Guerra não convence a todos dentro do Alto da Glória.
O assunto “novo estádio” tem, nitidamente, duas correntes no Coritiba. Há quem defenda uma nova praça de esportes, mesmo que longe do Alto da Glória; e há os que pretendem apenas uma reforma no Couto Pereira. O presidente Rogério Bacellar está na segunda leva.
Apesar da opinião do mandatário, Guerra e Beletti foram ao mercado atrás de investidores para o projeto. Mais de uma dezena de maquetes já foram apresentadas à diretoria. Segundo os envolvidos, tudo sem custo para o clube.
No entanto, de realmente concreto, um empréstimo de 100 milhões de euros foi o que a dupla trouxe. A operação foi imediatamente vetada pelo departamento financeiro coritibano. O temor é que com a variação do valor da moeda internacional, a dívida do empréstimo possa ficar fora de controle. “Não podemos querer construir um patrimônio e depois acabar construindo apenas uma dívida”, diz o presidente.
Em busca de patrocínios e de negociações em conjunto para os contratos de televisão, Coritiba e Atlético criaram uma relação de parceria desde 2015. O conceito de que são clubes intermediários para o mercado nacional fez com que agissem lado a lado.
Os dois rivais passaram a expor a mesma marca na camisa (Caixa Econômica Federal). Outros patrocínios foram fechados em conjunto e os mais recentes vínculos com emissoras de televisão (Globo e Esporte Interativo) também saíram em parceria.
No entanto, a lua de mel acabou em 2017. Com a Arena da Baixada comprometida com o Liga Mundial de Vôlei, a diretoria atleticana solicitou o aluguel do Couto Pereira para receber o Santos pela Libertadores. Após a recusa do Coritiba, um contrato firmado pelas partes em 2015 foi apresentado pelo Rubro-Negro.
“Era um contrato de reciprocidade. Eles usaram o Couto em 2015 (contra o Grêmio) e nós nunca usamos a nossa opção de jogar na Arena. Agora, em 2017, eles pediram o estádio de volta, mas não tínhamos como alugar por causa do plantio da grama de inverno”, afirma Bacellar.
A negativa coxa-branca revoltou o presidente do conselho deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia. Em notas oficiais, o Atlético afirmou que Bacellar não havia honrado a palavra. “Nunca dei minha palavra. Se tivesse dado, teria cumprido. O Coritiba não tem medo de ameaças e nem de ações”, dispara Bacellar. “Eles já perderam em duas instâncias”, revela, sobre o processo movido pelo Furacão.
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