Último pedido
A esposa do jornalista, Eliane Strobel, disse que, há três dias, Coelho pediu a ela guardar na memória a foto que gostaria de publicar quando morresse. A imagem é de 1994, quando o cronista participava de um congresso nos jogos da amizade, em Seattle (ver foto). Emocionada, ela falou à reportagem que estava com dificuldades de organizar as frases que gostaria de dizer para homenagear o marido. "Ele foi um grande companheiro, um grande pai, um excelente esposo, é difícil até mesmo falar algo", compartilhou.
O corpo do jornalista Vinícius Coelho foi enterrado no fim da tarde desta quinta-feira (28), às 17h, no Cemitério Municipal São Francisco de Paula, no bairro São Francisco, em Curitiba.
Cerca de 300 pessoas participaram de um breve culto e se despediram do jornalista, que tinha 80 anos e morreu ana quarta-feira (27) após ser atropelado por um carro ao tentar atravessar a Linha Verde. O acidente foi registrado perto do Auto Shopping Curitiba, na região do Tarumã.
Na manhã desta quinta, o corpo de Coelho foi velado no estádio do Coritiba, o Couto Pereira, no bairro Alto da Glória, em Curitiba. O velório reuniu familiares, além de amigos e ex-companheiros de trabalho de Coelho. O clima foi de muita lamentação pela perda que ocorreu de uma forma inesperada. "Perdi um grande amigo e foi um grande impacto quando soube desta notícia triste. Costumávamos nos encontrar com frequência", contou Dirceu Lamoglia, que conhecia o jornalista desde a década de 1950.
"O Vinícius foi uma bandeira. Assim como o Coritiba tem jogadores ídolos, a imprensa também tem e ele é um deles", declarou o ex-jogador coxa-branca Dirceu Krüger. "A história do Vinícius se confunde com a história do Coritiba. Ele representou muito bem nosso estado e vamos homenageá-lo com a conquista da Copa do Brasil", disse o presidente do clube, Vilson Ribeiro de Andrade.
Coelho tinha 80 anos e era um fã incondicional do Coritiba. O jornalista foi o autor do segundo hino do Alviverde, "Eterno Campeão", composto na década de 70. Além disso, foi o responsável pela narração televisiva para o estado do título de campeão brasileiro do clube, em 1985.
Livros também estão no currículo de Vinícius Coelho. Ele escreveu três obras que têm o Coxa como tema: a biografia do ex-presidente do clube, Aryon Cornelsen; Atle-Tiba Paixão de Multidões; e Evangelino: Campeoníssimo. Os dois últimos foram feitos em parceria com o jornalista e colunista da Gazeta do Povo, Carneiro Neto.
Um dos advogados da família, René Dotti, diz que o jornalista não era o mesmo desde a morte de um de seus filhos, Bruno, em 2007."Essa perda impactou muito a vida dele. Na verdade, ele não morreu, ele parou de sofrer", falou.
A última entrevista dele foi ao ar na Rádio 98 FM na manhã de terça-feira (26), na qual revelou um de seus principais desejos. "Queria muito voltar a escrever colunas em jornal. A coisa que mais gosto de fazer é escrever", ressaltou.
Por volta das 15h, foi realizado um culto no local do velório. Depois, o corpo de Vinícius Coelho foi encaminhado para o sepultamento no Cemitério Municipal de Curitiba.Veja alguns depoimentos sobre Vinícius Coelho
Confira a participação de Vinícius Coelho no ÓTV Esporte que foi ao ar em junho do ano passado
Confira o hino do Coritiba composto por Vinícius Coelho
História
Nascido em 1932, em Curitiba, Vinícius Coelho ingressou na crônica esportiva duas décadas mais tarde, no Diário do Paraná, em 1953. Em 1962, foi contratado pelo Canal 6, aonde viria a ser locutor esportivo.
Coelho trabalhou no jornal e na televisão até 1969, quando se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi repórter do jornal O Globo. Nesse ano, conseguiu em primeira mão a informação de que Zagallo seria escolhido para dirigir a seleção brasileira na Copa de 1970.
Retornou a Curitiba em 1974 para ser chefe da editoria de esportes da Gazeta do Povo, onde trabalhou por dez anos. Simultaneamente, trabalhou na TV Paranaense (hoje RPC TV), empresa que deixou em 1986. Vinícius Coelho também acumulou várias passagens por rádios da cidade. Trabalhou nas rádios Colombo, Independência, Universo e Cidade.
Com nove Copas do Mundo e duas Olimpíadas currículo, ele acumulou carimbos em seus passaportes. A primeira cobertura internacional do jornalista foi em 1959, no extinto Campeonato Sul-Americano de futebol (atual Copa América), na Argentina. O curitibano também foi presidente da Associação Brasileira de Cronistas Esportivos. Seu último trabalho foi como colunista do jornal Tribuna no Paraná, em 2009.
Filho assassinado
Vinícius Coelho vivia um drama pessoal desde 2007, quando seu filho Bruno Strobel Coelho foi morto após ser agredido por agentes de uma empresa de segurança. O jovem teria sido flagrado pichando um muro e executado por vigias após ter revelado que era filho de um jornalista. Vinícius tinha outros três filhos.
Confira alguns depoimentos sobre Vinícius Coelho.
Carneiro Neto, colunista da Gazeta do Povo
"Meu parceiro em dois livros: Atletiba Paixão das Multidões de 1994 e Evangelino: o Campeoníssimo, de 2002. Eu conheço ele desde 1964, quando comecei na crônica esportiva. Ele veio desde 1956. Eu comecei a trabalhar com ele no Diário do Paraná em 1969 por indicação dele e assumi por indicação dele o lugar de editor quando ele foi para O Globo em 1969. Ele me prestigiou muito e me apoiou no começo da carreira. Depois, eu retribuí sempre o chamando para ser comentarista nas minhas equipes de rádio. Estávamos em conversa para fazer uma nova edição atualizada do Atletiba Paixão de Multidões. Um grande companheiro, deixou uma marca muito forte no jornalismo esportivo. Em 1974, ele voltou para Curitiba, para a TV Paranaense (atual RPC) e era apresentador e narrador. Saiu de lá em 1984 para o retorno da Paraná Esportivo. Ele estava também na Gazeta do Povo. Eu estou na Gazeta do Povo desde 1984, quando ele me indicou para o substituir"
Gil Rocha, gerente de Esportes da RPC TV"Ele sempre foi um grande nome do jornalismo paranaense e um grande líder. Eu tinha um carinho profissional muito grande, além de tudo era um grande amigo. Eu sempre viajei muito e vi o respeito e admiração que os jornalistas de outros estados têm por ele. Ele sempre representou o Paraná. Ele tinha um grande nome e poderia ter ficado na imprensa no Rio de Janeiro, mas preferiu voltar e ficar aqui no Paraná. Ele sempre foi um cara muito bacana, uma pessoa muito boa de se conviver. O momento mais marcante foi a cobertura da Copa do Mundo de 1986, porque era a minha primeira cobertura e ele já era experiente. Ele sempre muito atencioso ensinando todo mundo. Além de um colega, eu perdi um amigo."
Edson Militão, colunista da Gazeta do Povo
"Eu posso dizer que o Vinícius colocava a paixão em tudo, principalmente no texto e na voz. Sempre foi atual e saudosista, ele tinha uma memória muito boa do passado e acompanhava como ninguém o universo do esporte. Perdemos um talento extraordinário, tanto de texto como depoimento. Eu lamento muito"
Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba
"Foi um acidente lamentável, estamos decretando luto oficial. Vamos fazer todas as homenagens a esse grande coxa-branca. Foi uma figura de destaque, importante em tudo o que o clube representa hoje"
Aírton Cordeiro, colunista da Gazeta do Povo
Dono de um texto brilhante, assinou colunas e descreveu muitos jogos em linguagem tática e técnica. Em emissoras de rádio, foi comentarista dos mais ouvidos. Na televisão, foi narrador e apresentador, tendo o orgulho de transmitir a final do Campeonato Brasileiro de 1985. Não exagero ao dizer que o Vivi foi um dos meus mestres, passando-me conhecimentos e experiências que os anos de vida permitiram que buscássemos o melhor para os torcedores. Obrigado Vinícius Coelho. Leve com Você as alegrias da vida e o amor de reencontrar o filho Bruno. "Tiau."
Luiz Augusto Xavier, colunista da Gazeta do Povo
"Foi um grande amigo, um dos meus professores no jornalismo esportivo. Vinícius Coelho tinha um texto admirável e, não de graça, foi um dos nomes mais importantes da imprensa paranaense. Pioneiro da televisão, transmitiu o título do Coritiba em 85 pela RPC (então TV Paranaense). Brilhou como repórter e redator de O Globo e sempre teve as portas abertas na CBF, onde fez muitos amigos, antes de voltar para o nosso convívio. Uma perda irreparável para todos nós, paranaenses"
Guilherme Straube, pesquisador do Grupo Helênicos, especializado na história do Coritiba
"A primeira parte mais importante para mim, acima da importância profissional dele, era a amizade que a gente tinha. Semana passada, antes de desligar o telefone, ele disse para eu ligar mais vezes porque gostava muito de mim. Conhecia ele desde 2004, quando o Coritiba levantou o memorial das taças. Desde então houve uma grande sintonia entre nós, porque ele gostava de quem gostava da história do clube"
Cristian Toledo, jornalista da Rádio 98FM
"Nós convivemos durante 10 anos juntos e ele sempre foi um cara muito gentil e educado. Ele chegou a um patamar muito alto no jornalismo brasileiro e, mesmo assim, nunca deixou de ser uma pessoa muito gentil, sempre ajudando todo mundo. Ele foi uma figura símbolo no jornalismo brasileiro, mas sempre teve uma relação muito forte com o estado. Além de tudo, de ter sido uma pessoa muito educada e atenciosa, ele foi um dos pioneiros em multimídia, muito antes de todo mundo"
Veja a letra de um dos hinos do Coritiba, composto na década de 70 por Vinicius Coelho e Sebastião Lima.
Eterno Campeão
Cori, Cori, CoriCori, Cori, CoriCoritibaCoritiba, meu esquadrãoSempre presente no meu coraçãoVencer é o seu lemaTrabalhar é tradiçãoSalve, Salve, CoritibaEterno CampeãoSuas cores Verde e BrancaNo mastro da vitóriaHão sempre de tremularA uma voz vamos todos cantarVencer é o seu lemaTrabalhar é tradiçãoSalve, Salve, CoritibaEterno Campeão
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Deixe sua opinião