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A realização da penúltima rodada das Eliminatórias da Euro 2008, ontem, deu um respiro providencial ao futebol italiano. Sete dias depois da morte do torcedor Gabrielle Sandri, que desencadeou uma onda de violência em toda a Itália e resultou no cancelamento de três jogos, governo e Federação de Futebol estudam maneiras de como controlar os ultra – os hooligans da Bota.

Zagueiro da Lazio, Emílson Cribari, de 26 anos, paranaense de Cambará há dez anos na Itália, acompanhou de dentro a trágica rodada do domingo passado. Na sexta-feira, conversou com a Gazeta do Povo por telefone sobre a delicada situação do futebol italiano.

Haveria condições de se disputar uma partida de futebol na Itália neste fim de semana?A nossa profissão é jogar futebol e a gente ia a campo para vencer. Mas me preocupa qual seria o clima entre torcida e policiais. Se tivesse rodada nesse fim de semana, a Federação provavelmente não deixaria a torcida entrar.

Qual era o clima entre os torcedores no funeral do Sandri?Foi uma coisa positiva na tragédia. Ultra da Lazio, da Roma e de outras cidades se misturaram para homenageá-lo. Os pais do Gabrielle pediram que fosse um dia de luto, mas sem violência. O Totti e treinador da Roma (Luciano Spaletti) foram ao enterro, uma coisa muito bonita. Deram a demonstração de que a rivalidade deve ser apenas dentro de campo.

Como foi a reação entre vocês, jogadores, à morte do Sandri? Estávamos reunidos almoçando antes de ir para o San Siro. Gabrielle era amigo do De Silvestre (lateral da Lazio) e logo a gente entendeu que tinha sido algo grave. Pensamos que era erro do policial, mas depois descobrimos que não foi erro casual. O policial mirou no carro do Gabrielle, se tratou de algo muito grave. Por respeito à torcida não entramos em campo, muitos dos nossos fãs já tinham voltado para Roma. Toda a rodada deveria ter sido adiada. Foi um erro do governo e da Federação (manter a rodada).

A revolta dos torcedores foi realmente porque parou-se o campeonato pela morte de um policial e não parou pela morte de um fã?Houve falta de respeito por um torcedor morto, a atitude foi diferente de quando morreu o policial. Em fevereiro, a morte dele parou o campeonato, então por que não parar com a morte do torcedor? Por isso a rebelião contra polícia.

É possível jogar tranqüilo sabendo que a arquibancada pode explodir a qualquer momento?Se a gente souber que tem briga ou guerra entre polícia e torcida, é normal que o futebol fique em segundo plano. Mas esperamos que isso não aconteça.

O que deve ser feito pelo governo?Na Itália como no Brasil precisa existir leis e que elas sejam cumpridas. É necessário haver punições graves. O torcedor tem que ter medo de enfrentar um policial, de fazer bagunça no estádio. É o que acontece na Inglaterra. Se o torcedor arrumar confusão, é preso e até banido dos estádios. Estou percebendo que, na Itália, o governo prefere promover a reeducação dos torcedores, a partir dos mais novos, na escola. Não são todos violentos. Não é justo punir todos pela atitude de poucos.

A Itália ainda pode ser vista como um modelo de futebol organizado?Perdeu muita credibilidade nos últimos anos e temos consciência disso. A Federação é consciente disso, tem muita coisa para melhorar. Os estádios são muito velhos, antigos. É como se tivesse parado no tempo.

O Kaká disse que pensa em deixar a Itália se a violência não diminuir. A violência faz a Itália deixar de ser um mercado atraente?Não se pode pensar que aqui é o inferno, o fim do mundo. Existe algo para melhorar, mas também há muitas coisas positivas. Kaká não deveria usar a violência como desculpa para sair do Milan. Muita gente aqui na Itália pensa que ele pretende usar (a violência) como meio de fuga. Ele falou que está preocupado com a família, mas a preocupação no Brasil é maior.

Como é a sua relação com os ultra da Lazio, que são apontados como de extrema direita? Já teve algum problema por ser estrangeiro?Não tenho relacionamento muito íntimo. Só mesmo no domingo nos jogos. Domingo eles me aplaudem, me dão força, um carinho que foi crescendo com o tempo. Nunca tive nenhum problema por ser estrangeiro.

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