Rio O paulista Magno Gomes deixou o fair-play de lado e disparou acusações contra o cubano Victor Ramos, que o derrotou na final até 66 quilos no primeiro dia de disputas do judô nos Jogos Parapan-Americanos do Rio, no Centro de Convenções Riocentro, em Jacarepaguá. Ao término dos combates de ontem, o país totalizou uma medalha de ouro, com a judoca Carla Cardoso, até 48 quilos, uma de prata e duas de bronze, com Roberto Paixão, até 60 quilos, e Ana Luiza Farias, até 48 quilos.
Gomes acusou o adversário de trapaceiro e desleal por ter durante o confronto chutado suas pernas "maldosamente" golpe não permitido pelas regras. E, sem poupar palavras, afirmou que todos os atletas cubanos utilizam a tática.
"Os cubanos são pessoas maldosas. Fazem isso para ganhar fácil. Só eles sabem esse segredinho maldoso. São arrogantes e prepotentes", protestou Gomes, que perdeu o combate por ippon. "Isso não é desculpa para a derrota. Respeito meu adversário, mas sou franco e falo o que penso." Indagado sobre a cumplicidade dos árbitros com a maneira de os cubanos se portarem no tatame, o judoca brasileiro ressaltou que há necessidade de maior rigor nos julgamentos.
Natural de Franca, Gomes tem 24 anos e treina de segunda a segunda, cinco horas por dia, em São Bernardo do Campo e em São Paulo, ao lado de atletas olímpicos como Edinanci Silva, Thiago Camilo e Carlos Honorato. E apesar da vontade em crescer no esporte, por pouco não encerrou a carreira há três anos.
Cego do olho direito e com 30% de visão na esquerda, Gomes se submeteu a uma cirurgia em 2000 para obter melhora, sem sucesso. Ficou longe dos tatames, mas um encontro com o judoca Antônio Tenório, atual tricampeão paraolímpico, o trouxe de volta ao esporte.
"No final de 2004, nos encontramos em um shopping de Santo André e ele me deu força para voltar. Hoje, é um dos meus treinadores" recordou Gomes. Acostumado a superar desafios, o objetivo agora é participar da Paraolimpíada de Pequim, em 2008.
Feliz por exibir uma medalha no peito, Gomes recordou que, a exemplo de muitos atletas paraolímpicos, já sofreu diversas discriminações. Principalmente ao começar a prática do judô. "As pessoas me chamavam de louco, deficiente mental ao me ver treinar junto a atletas convencionais. Mas nem ligava. Meu apelido é fênix, porque derrotei a morte", frisou Gomes. "Nasci de cinco meses e passei seis na incubadora. Venci."