Instantes antes de começar a descida a 95 metros de profundidade nas águas quentes e cristalinas de Bonaire, um dos três arquipélagos que formam as Antilhas Holandesas, a curitibana Carolina Schrappe, 42 anos, aspira, em várias sugadas, o máximo de ar que consegue. Engole, literalmente, todo oxigênio que seus pulmões permitem.
A chamada técnica da carpa, para os leigos, pode parecer uma maneira de suportar os 2 minutos e 22 segundos que Carol permaneceu submersa na quebra do recorde sul-americano de mergulho livre na modalidade lastro variável.
Na disciplina, a atleta tem a ajuda de um sled – espécie de carrinho – para alcançar a marca previamente anunciada antes de retornar, sem auxílio, à superfície.
A impressão, no entanto, é totalmente equivocada. “Esquece respirar [na descida]. O ar é para equalizar a pressão”,explica a mergulhadora de apneia, vencedora do Internacional Deep Sea Challenge no início de setembro, no Caribe.
“Descer é uma maravilha. Vou de olhos fechados, totalmente concentrada. A pressão é tão grande que toda molécula de oxigênio do seu corpo acaba sendo usada para a respiração, você não sente necessidade de respirar. Mas na subida é o contrário”, emenda.
Dona de recordes sul-americanos em outras três modalidades do esporte, Carol respirou aliviada após conseguir descer a 95 metros em Bonaire. Há três anos ela não atingia uma marca expressiva. Praticante regular desde 2006, a paranaense precisou de apenas três treinos na ilha caribenha para voltar à boa fase.
“Foi um alívio pra mim, o começo de uma nova etapa. Me surpreendi porque foi relativamente fácil. Imagine se eu tiver três meses para treinar lá”, diz a fisioterapeuta por formação que se tornou referência como instrutora de mergulho.
A meta agora é chegar ao recorde pan-americano (-120 m), de 2002, e depois pensar no mundial (-130 m). Para isso, Carolina vive rotina de atleta profissional, apesar de ser amadora e ter de se virar na busca por patrocínios. Treina seis vezes por semana, de segunda a sábado, em dois períodos. A preparação tem aulas de musculação, pilates, yoga, treino funcional, além de natação voltada para a apneia. Até taekwondo ela costumava praticar para melhorar a concentração.
Aos domingos, a curitibana mergulha por hobby nas cidades onde ministra cursos.Quando está na capital, desce a -40 m em uma pedreira localizada em uma propriedade privada. Enfrenta uma água escura e gelada (15ºC), ambiente oposto ao das paradisíacas praias onde o mergulho livre é mais conhecido.
A falta de divulgação do esporte também traz dúvidas sobre os riscos à saúde. “Comparo o mergulho livre a qualquer esporte de ponta. Correr uma maratona é saudável? Não, ela exige o máximo do organismo. Aquele ponto não é o ideal, mas toda a preparação feita antes é muito boa para a saúde”, defende.
“Nunca me senti insegura. Claro que tem aquele friozinho na barriga. Se perder isso não tem graça. Mas nunca passei algum risco real”, afirma Carolina, que era amiga da russa Natalia Molchanova, conhecida como a rainha do mergulho, que morreu no ano passado enquanto mergulhava com amigos, sem grandes precauções de segurança, na Espanha.
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