O mundo do futebol vive hoje, como nunca, uma trajetória cigana, sem fixação, sem identidade. Nas minhas primeiras leituras esportivas, no Esporte Ilustrado, relatos sobre jogadores brasileiros contratados por clubes do exterior rendiam matérias especiais. O primeiro talvez tenha sido Yeso Amalfi, um atacante que carregava a fama de sedutor de luxo – namorou Sophia Loren, Brigitte Bardot, era amigo de Grace Kelly, e por aí vai. Yeso foi o protótipo do galã da época, boêmio, e com aquela postura fidalga dentro e fora do gramado. Um goleador, em todos os sentidos. Nada que lembre os chamados bad boys, ou, como se fala hoje, os marrentinhos.

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Depois foram para a Itália Dino Costa e Vinícius, dois atacantes do Botafogo. Mais tarde, Julinho, Mazzola e outros seguiram o processo nômade que hoje é interminável no futebol brasileiro. Se antes qualquer transferência virava manchete, alguns casos hoje se tornam assunto descartável, tamanha a quantidade de transferências para fora do país. O produto jogador made in Brazil é colocado em contêiner e vendido por atacado. A Copinha de São Paulo, ou este Sub-20 do Uruguai, é uma feira de amostras, apenas um balcão de ofertas de jogadores para o mundo do futebol.

Há o outro lado, porém, que envolve o menino talentoso, que pretende sair daqui para o exterior, livre da exploração de clubes e/ou empresários, sem deslumbre, focado numa carreira séria e com propósito de vida. Como é possível? Ontem, encontrei a resposta positiva, conversando com o jovem Alex Vinícius. A família, de classe média, incentivou o curitibano a tentar a vida profissional no futebol da Polônia.

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Avante de bom porte físico, com experiência no futsal – portanto hábil no drible e domínio da bola –, Alex emplacou no desconhecido Zamek Kamieniec, da segunda divisão da Polônia. Disse-me que está feliz e que sua meta é o Bayern de Munique, ou qualquer outro clube alemão. Quando perguntei o que há de melhor no lugar onde vive, ele foi direto: "Qualidade de vida, respeito e segurança". Aqui, aos 15 anos, Alex Vinícius foi dispensado pelo treinador Milton do Ó, ex-Paraná, e não teve chances no Coritiba nem no Atlético. É um atleta com perfil diferenciado. Alex Vinícius é exceção. Um bom exemplo.

Vejo neste início do Regional, uma série de ótimos jogadores prêt-à-porter. Feitos para a venda.

Para o lucro imediato de clubes e empresários.

Sem mais aquele frisson da transferência para o exterior, pois não há mais nenhuma identidade com os clubes. São jogadores alienados. Patéticos. Nômades. Com exceções, claro. Raras, porém.

O craque

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Perguntei ao Alex Vinícius qual o jogador brasileiro mais badalado atualmente na Polônia. Resposta: "Giba, do vôlei".

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