O longo depoimento de Onaireves Moura, ex-presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), na noite de ontem, serviu para os investigadores do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) esclarecerem mais algumas dúvidas sobre o esquema de desvio de recursos da entidade durante a gestão do dirigente.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Robson Barreto, a série de documentos apreendidos na FPF juntamente com o relato dos outros oito suspeitos de participar da fraude todos presos no Centro de Triagem, em Piraquara, região metropolitana de Curitiba, desde terça-feira já comprovou que pelo menos R$ 5 milhões saíram dos cofres da Federação de maneira irregular. O dinheiro era desviado pelas três empresas fantasmas criadas por Moura (com a anuência da maioria dos clubes do estado) para driblar o bloqueio de contas da entidade: Comfiar, Colégio Técnico de Futebol Pinheirão e Comissão de Construção do Estádio do Paraná (Cocep).
"Isso já está bem claro. A Comfiar era uma das rotas de fuga do dinheiro da Federação. Ela e outras entidades que descobrimos agora acabou sendo usada para desviar o dinheiro que entrava na FPF. Mas não para o benefício da entidade, e sim dos dirigentes que a controlavam", afirmou Barreto.
A ratificação das irregularidades pode atingir o atual presidente da organizadora do futebol no estado, Aluízio José Ferreira. "Iremos cruzar os dados para saber se a prática continuava sendo aplicada pela atual diretoria", explicou o policial. Até a rodada passada da Copa Paraná, competição que vale uma vaga na Série C do ano que vem e na Copa do Brasil de 2009, os times seguiam repassando 5% da renda bruta à Comfiar. Por determinação de Ferreira, o órgão foi "praticamente extinto".
O Nurce investigará na próxima semana se os valores depositados na conta da empresa laranja eram usados apenas para quitar os débitos da Federação. Caso contrário, o atual mandatário poderá também ser indiciado.
Durante as mais de seis horas de espera para conversar com o delegado, Moura aparentou bastante tranqüilidade. Isolado numa pequena sala na sede do Nurce, no centro de Curitiba, ele aproveitou o tempo para montar a estratégia de defesa ao lado de seu advogado, que assumiu o caso somente na noite de quinta-feira. O ex-dirigente pediu apenas para não falar com a imprensa e não ser fotografado com o uniforme laranja de detento do Centro de Triagem. "O seu Moura dará uma satisfação oportunamente. São todos fatos explicáveis", comentou Eliézer Castro de Queiroz, responsável pelo réu.
Em nenhum instante o ex-manda-chuva do futebol paranaense demonstrou preocupação. Em alguns momentos chegou a rir e a contar "causos" para os policiais. Moura só mudou o "estado de espírito" quando sua filha entrou na abafada sala do Nurce para lhe entregar o óculos, um par de tênis e um caderno. O tênis foi dispensado. "Boa sorte, pai", disse a menina, de uns 20 e poucos anos aparentemente. Ela não concedeu entrevista.
Para ajudar na investigação, a polícia aprendeu na manhã de ontem novos documentos na sede da FPF. Uma sala com outros documentos das empresas fantasmas foi lacrada. Dois carros (uma Parati e uma Pajero), penhorados pela Justiça, e um notebook do Departamento Financeiro da entidade também estão com o Nurce. O delegado conseguiu ainda a prorrogação da prisão temporária dos nove envolvidos. O novo prazo expira na próxima quinta-feira.
Caso Bruxo
Com certa discrição, o 1.º Distrito Policial de Curitiba apura o possível esquema de corrupção em jogos de futebol no estado o caso Bruxo. O delegado Alex Olguerd Danielewicz está à frente do caso, mas se nega a falar sobre o andamento do trabalho, que tem como base o inquérito do auditor Paulo César Gradella, do TJD-PR. "A polícia tem melhores condições de levantar as provas necessárias. Espero que vá mais longe que a Justiça esportiva", diz Gradella.
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