O jogo
Brasil fracassa nos pênaltis
Folhapress
Cairo - A seleção não foi capaz de vencer Gana mesmo atuando com um atleta a mais por 83 minutos na final do Mundial sub-20, no Egito. Nos pênaltis, os brasileiros desperdiçaram três cobranças em seis. Resultado: a equipe africana foi campeã mundial pela primeira vez. O Brasil viu frustrada a sua tentativa de obter o tetracampeonato na competição. Juntos, os dois times tinham feito 30 gols no Mundial. Mas não conseguiram marcar por 120 minutos no jogo decisivo. De início, parecia que o Brasil ganharia a disputa de penalidades. Acertou as três primeiras cobranças, e o goleiro Rafael pegou chutes de Mensah e Addae. Mas Souza, Maicon e Alex Teixeira desperdiçaram três pênaltis seguidos.
No fim da tarde de ontem, por alguns instantes, o silêncio tomou conta do salão de festas da igreja evangélica Água da Vida, na Vila Lindoia. A comemoração preparada por familiares e amigos de Giuliano, capitão da seleção brasileira sub-20, foi substituída por lágrimas e frustração. Longe dali, no Cairo, capital do Egito, Gana derrotou os garotos que vestiam a amarelinha. O resultado dramático (0 a 0 no tempo normal e 4 a 3 nos pênaltis) impediu o sonho do pentacampeonato na competição, além de ser um grande baque para quem pretendia festejar.
"Não esperava por isso", revelou dona Tarsília de Jesus Lima, mãe do camisa 10, sem esconder o choro. "Ele (Giuliano) estava muito confiante. Mas a vida continua, existe uma enorme carreira pela frente e outros títulos virão", garantiu, ao mesmo tempo em que era consolada pelos amigos.
"Meu coração está chorando", disse Andressa, a noiva do jogador revelado pelo Paraná. "Eles mereciam ganhar. Fizeram um ótimo campeonato, foram bem durante toda a competição. Deus sabe o que faz. Se não foi agora, com certeza coisas melhores estão guardadas", completou a adolescente.
Decorado com bandeiras nacionais nas paredes e troféus e camisas na mesa, o simples salão paroquial não estava preparado para o dramático revés. Boa parte das cerca de 30 pessoas que assistiram ao jogo pela televisão vestiam camisetas da seleção com a inscrição de Giuliano nas costas. Também havia quem usasse o uniforme do Tricolor repleto de autógrafos.
Além da mãe e da futura esposa, cinco dos sete irmãos de "Giu", como o meia é conhecido, torciam apreensivos desde o início. "Se o Giuliano fizer um gol e o Brasil ganhar já está bom", dizia o irmão, Giovani, de traços muito semelhantes aos do jogador do Internacional.
Com as mãos entrelaçadas, como em uma oração, Tarsília permanecia estática em frente da tevê. Se manifestava, assim como o restante da torcida, apenas quando as imagens focalizavam o filho famoso. A angústia em ver o domínio brasileiro não se converter em gol era demais para o coração da mãe e se agravou a partir dos 36 minutos, quando o ganês Addo foi expulso e a equipe brasileira, mesmo em vantagem numérica, insistia na ineficiência.
No intervalo, em meio a docinhos e salgadinhos, um momento de descontração. "Gostaria de expressar a minha alegria", falou a matriarca. "É que a minha filha, Elisângela, passou para a segunda fase do concurso Garota Caiobá", revelou, deixando a menina de 16 anos com as bochechas vermelhas de vergonha.
Após inúmeras outras oportunidades desperdiçadas, o segundo tempo se foi. A decisão iria para a prorrogação. "Vai, Giu", esbravejavam os amigos de infância jogador. "Tira, tira, tira", gritavam as tias do jovem capitão em qualquer bola que os Estrelas Negras lançavam para a área verde e amarela.
Nem mesmo quando o goleiro Rafael defendeu dois pênaltis e tudo indicava que a festa iria acontecer, a torcida pôde extravasar. O gol de Giuliano não bastou. Além do volante Souza, o atacante Maicon não converteu sua cobrança e colocou os africanos que já haviam perdido dois tiros de volta na disputa.
No momento em que Alex Teixeira bateu nas mãos do arqueiro Agyei, a esperança estava indo embora. Às 17h44, Badu balançou a rede e calou, por um momento, o salão de festas da igreja da Vila Lindoia.
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