Berlim Hora de encarar a realidade. O principal trunfo italiano para conseguir um time coeso, determinado e forte o suficiente para chegar à quarta conquista da Copa da Alemanha será agora o inimigo número 1 a ser enfrentado na festiva volta para casa. O escândalo de manipulação de resultados no Campeonato Italiano, muito bem usado pelo técnico Marcello Lippi para motivar o elenco a exemplo do que fez Enzo Bearzot, em polêmica semelhante vivida pelo país em 1982, ano do tricampeonato deve mudar o destino de pelo menos 13 dos 23 vice-campeões mundiais.
Os clubes pelos quais jogam esses atletas estão sob investigação pela maracutaia que envolvia também a arbitragem e 26 dirigentes. A sentença pode ser divulgada hoje no máximo até o fim desta semana e o país é conhecido pela rigidez com a qual combate esse tipo de denúncia. A pena deve ser o rebaixamento da Juventus para a Série C, com a perda dos títulos dos dois últimos anos, e de Milan, Fiorentina e Lazio para a Série B. Atitude que tornaria praticamente inviável para as equipes manter suas peças mais valiosas. Além de combinação de resultados, o escândalo incluiu adulteração de balanços e apostas ilegais.
Do elenco campeão ontem, em Berlim, os ameaçados estão divididos entre os quatro times acusados de participação no esquema: cinco jogadores são do Rubro-Negro de Milão (Gattuso, Inzaghi, Nesta, Pirlo e Gilardino), cinco são da bicampeã Juventus (Buffon, Cannavaro, Zambrotta, Del Piero e Camoranesi), dois da Lazio (Oddo e Peruzzi) e um da Fiorentina (Luca Toni).
Uma debandada geral que já movimenta o mercado europeu. Fábio Capello, por exemplo, quer levar para o Real Madrid Cannavaro e Zambrotta, além do brasileiro Emerson, todos seus ex-pupilos na Juventus.
O sucesso nos gramados germânicos chegou a fazer com que o problema no tribunal de esportes organizado pela federação italiana fosse esquecido momentaneamente. No dia da vitória sobre a Alemanha, terça-feira passada, valendo a classificação para a final, o promotor que cuida do caso pediu punição severa a todos os envolvidos.
Uma posição bem oposto a do ministro da Justiça italiano, Clemente Mastella, que, na sexta-feira, pediu anistia aos clubes em caso de título. "É justo que jogdores como Fabio Cannavaro e Del Piero disputem as divisões inferiores depois do que estão fazendo na seleção?", justificou.