Seis títulos paranaenses logo na primeira década de vida. A sala de troféus enchendo em boa velocidade entusiasmou a torcida, que se acostumou com as glórias. Após a primeira derrota em uma final, em 1999, na Copa Sul, tudo mudou na Vila Capanema: sofrimento, ameaça de rebaixamento e dificuldades financeiras. As equipes técnicas que embalaram as conquistas da década de 90 deram lugar a times caracterizados pela valentia. Foi assim que o clube se segurou na elite nacional e estadual. É por causa de todo o drama vivido desde 1997 que a possibilidade de voltar a ser o melhor do estado se tornou tão importante para a torcida. Antes do duelo que pode devolver o orgulho à nação paranista, jogadores que participaram dos seis títulos anteriores relembraram, em depoimentos ao repórter Sandro Gabardo, momentos marcantes de seus triunfos.
1991 - Título semeado em casa
A explosão de alegria de um prata da casa é o marco da primeira conquista da história tricolor. O lateral-esquerdo Ednélson recebeu passe de Serginho aos 20 minutos do segundo tempo para empatar o clássico com o Coritiba, no Couto Pereira, e garantir o título com um ponto a mais que o rival Atlético. O Estadual era disputado em pontos corridos.
"Foi uma alegria imensa, extravasei mesmo porque era o único jogador vindo da categoria de base em uma equipe com atletas escolhidos a dedo. Naquela época, o Paraná tinha dinheiro para contratações e a pressão em mim era enorme", comenta, elegendo aquele como o jogo mais marcante de sua carreira.
Atualmente trabalhando no Tricolor com as equipes amadoras, Ednélson recorda do clima envolvendo o duelo.
"Se perdêssemos, teríamos um jogo extra com o Atlético, um time muito forte. Na conversa do vestiário, com 1 a 0 para o Coritiba, concordamos em resolver ali mesmo o título", conta. O empate saiu.
Outra lembrança é de uma determinação do dirigente Ocimar Bolicenho para as entrevistas. "Toda pergunta tinha de ser respondida com três palavras: união, aplicação e determinação."
1993 - Goleada reforça confiança
O dia era 24 de julho de 1993, segunda rodada da fase final do Paranaense. Foi o ponto de arrancada do Paraná rumo ao primeiro dos cinco títulos consecutivos dentro do estado. De acordo com o ex-zagueiro Gralak, a partir dali o grupo teve a certeza de estar com a mão na taça. Jogando no interior, o Tricolor comandado por Levir Culpi atropelou o Matsubara, uma das sensações daquele ano, por 7 a 0. "Foi uma campanha excelente, perdemos apenas duas partidas. O time estava bem entrosado, mudou muito pouco do ano anterior", afirma, destacando os reflexos positivos de a equipe ter sido campeã brasileira da Segunda Divisão em 1992.
"Na pré-temporada, já estávamos muito confiantes", lembra. No quadrangular com Matsubara, Atlético e Londrina, o Paraná esbanjou competência fez 11 pontos em cinco vitórias e um empate. O Tubarão, em segundo, somou somente seis. A superioridade se consolidou em campo. A conquista veio de maneira antecipada, no penúltimo jogo, com o Matsubara. Um dia emocionante para Gralak e seus companheiros.
"Foi uma grande festa, a torcida tentou invadir o vestiário para comemorar com os jogadores e tivemos que atravessar o campo para chegar ao ônibus", revela, sobre os 3 a 1 na Vila Capanema.
1994 - Brincadeira de campeão
O primeiro título paranista festejado na Vila Olímpica do Boqueirão emocionou o zagueiro Edinho Baiano, recém-chegado do futebol paulista. "Foi uma festa bonita, no local onde a gente treinava todo dia. E também foi meu primeiro no clube", conta ele. Sua lembrança mais vívida não se refere a nenhuma partida em especial, mas sim ao ambiente no grupo.
"Daquela época, o que mais me marcou foram as viagens para os jogos. Nós éramos muito unidos. Os caras perguntavam no ônibus de quanto a gente ia ganhar aquela partida, até exageravam. Nosso foco era tanto que ficava fácil jogar", fala ele, destacando a alegria do time. "A gente não jogava, mas brincava, se divertia em campo", conclui.
A campanha não foi irrepreensível, mas os números comprovam a superioridade. Na primeira fase, se manteve na ponta, com 27 pontos um a mais que o Coxa.
Na segunda parte da competição, liderou a chave que tinha ainda Atlético, Cascavel e Batel. Fez nove pontos, contra sete do Furacão. A conquista veio na penúltima rodada do quadrangular final, contra o Londrina, num magro 1 a 0. Na pontuação, nove contra cinco de Atlético, Londrina e Coritiba.
1995 - Tricolor arrasador
Há quem diga que este foi o último ano em que o Paraná sobrou no Estadual. Na primeira fase, que valia vaga direta na decisão, o Tricolor foi soberano. Antes da única derrota, para o Londrina, na 11.ª rodada, só havia perdido pontos em um empate com o Batel. Terminou com 45 pontos, nove à frente do segundo colocado, o Coritiba.
O segundo finalista seria o vencedor de uma semifinal entre o campeão do primeiro turno (Matsubara) e do segundo turno (Coritiba) de um octogonal. Fase em que o Paraná somente cumpriu tabela. No primeiro clássico decisivo, nada de gols no Couto Pereira.
O Pinheirão lotado viria a ser o palco da festa vermelha, azul e branca. Saulo, maior artilheiro da história do clube com 106 gols, participou da campanha. Dos pés acostumados a colocar a bola para dentro, saiu o passe para a bomba desferida pelo lateral-direito Denilson. O gol solitário saiu aos 45 minutos do segundo tempo, depois de uma terrível pressão alviverde.
"Me marcou muito o grupo, que era fechado, consciente", revela o Tigre. "Na final, criou-se uma expectativa sobre se o João Antônio iria ou não jogar. Quem mandava era a gente e decidimos que dava. O Otacílio [Gonçalves, técnico] até comentou que ele estava uma semana parado, mas o João não precisava muito de preparo físico", lembra.
1996 - Mata a cobra e levanta a taça
A festa do tetracampeonato passa diretamente por uma partida pouco badalada, ocorrida no dia 11 de maio de 1996. O tenso confronto com o Cascavel, na casa do adversário, está na lembrança do volante Hélcio, dono de uma memória que ele admite não ser das mais eficientes.
"Foram muitos jogos, é difícil lembrar de detalhes", defende-se. Ele, porém, não esquece da importância daquela partida, válida pela última rodada da segunda fase foram cinco ao todo, contando a final. "Nos classificamos na bacia das almas", afirma. O duelo no interior valia a segunda e última vaga da chave H o Paranavaí garantira a primeira e um empate era o suficiente para o Cascavel. "Podíamos ter sido eliminados ali, por isso foi marcante. Foi duro, no intervalo estava 0 a 0... Acho que ali começamos a ganhar o título", destaca o jogador, que iniciou carreira no rival Coritiba. O 2 a 0 selou a classificação.
Na terceira fase, o Tricolor voou: venceu seis e empatou uma. Chegou embalado no quadrangular final, mas quase deslizou novamente. Ficou em terceiro, enquanto o Coxa vencia o primeiro turno e selava passagem à finalíssima. No segundo turno, o Paraná carimbou vaga na decisão um ponto à frente do Alviverde. A final não teve suspense. Primeiro no Pinheirão (2 a 0) e depois no Couto (1 a 0), o time da Vila Capanema foi superior e levantou o troféu mais uma vez.
1997 - Arrancada em dois atos
O título estadual mais recente do Tricolor foi comemorado em 1997. Pelo regulamento daquele ano, o campeão sairia de um octogonal para o qual Atlético e Coritiba chegaram com bônus de dois e um ponto, respectivamente. Para as 14 partidas decisivas, o Paraná contratou o atacante Caio Júnior, que logo virou ídolo no clube.
Hoje comentarista esportivo e dono de escola de futebol, ele destaca dois jogos como fundamentais. "Depois de um empate com o Apucarana, com gol de pênalti do Ricardinho, a expectativa da imprensa é de que estávamos fora da briga. Nos fechamos naquele momento e estabelecemos como meta vencer todos os jogos que restavam", revelou, referindo-se ao duelo da oitava rodada. Após três sucessos seguidos um contra o Atlético veio o segundo marco.
"Vencemos o Matsubara em Cambará, por 1 a 0, com um gol meu aos 46 do segundo tempo. Foi praticamente o gol do título. Isso nos deu moral para enfrentar o Coritiba na rodada seguinte, quando vencemos por 3 a 0", lembra, comparando com o gol marcado neste campeonato por Goiano, aos 50, no empate por 2 a 2 com o União Bandeirante, no interior.
"Ali o Paraná embalou", explica o ex-goleador. Em 1997, o Tricolor terminou três pontos à frente do Rubro-Negro e quatro do Alviverde.
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