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Luiz de Carvalho, gestor de Curitiba para a Copa do Mundo de 2014, admite que será preciso fazer desapropriações | Fotos: Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Luiz de Carvalho, gestor de Curitiba para a Copa do Mundo de 2014, admite que será preciso fazer desapropriações| Foto: Fotos: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Votação

Debate está atrasado na Assembleia Legislativa

Na Câmara Municipal de Curitiba, os debates têm sido acalorados e os vereadores têm mostrado argumentos contra e a favor da engenharia financeira encontrada para a Copa do Mundo em Curitiba. Já na Assembleia Legislativa, tudo parado. Com a transição dos mandatos dos deputados e a troca de governador, as aprovações necessárias para o Mundial no estado (isenção de impostos e liberação do FDE) não têm prazo para ocorrer.

Mesmo assim, os integrantes do comitê da sede curitibana na Copa não demonstram preocupação com o assunto. Com a viabilidade do projeto aprovado pela Fifa e o andamento considerado satisfatório para votação da cessão do potencial construtivo na Câmara, os políticos não vêem problemas.

"As obras só começam após a conclusão do projeto executivo. Então, só no ano que vem. Precisamos entregar tudo até dezembro de 2012 e precisamos de 18 meses de obra", diz o gestor de Curitiba para a Copa, Luiz de Carvalho. "Creio que antes da virada do ano estará tudo aprovado também na Assembleia", opina o secretário especial para a Copa, Algaci Túlio.

  • Claudine Camargo Bettes, procuradora-geral de Curitiba, não quis comentar a engenharia criada para reformar a Arena

Interesse público. Esse é o argumento mais usado por técnicos e políticos do estado e da prefeitura para justificar a saída encontrada para viabilizar economicamente o projeto da Arena da Baixada 2014.Utilizando-se da moeda virtual chamada potencial construtivo, o município cederá R$ 90 milhões em títulos imobiliários ao Atlético, que repassará a benesse à construtora selecionada para o servi ço. Se quiser, a empreiteira pode ainda obter um empréstimo do estado (via Fundo de Desenvolvimento Econômico, o FDE).

Após a assinatura do termo de cooperação entre o clube e o poder público, nenhum envolvido teme mais dizer que o me­­canismo beneficiará mesmo uma entidade particular. No caso, o Rubro-Negro, proprietário do estádio.

A contrapartida direta seria o recebimento de pesado investimento do governo federal. Quantia superior a R$ 1,2 bi­­lhão, aplicada em obras de infraestrutura na cidade – entre as quais destacam-se o corredor aeroporto-centro, me­­lhorias em avenidas importantes, como a Marechal Floriano, e a criação de novas vias de integração. É o que basta para justificar o mecanismo que será utilizado.

"Entendemos que as obras necessárias para a adequação do estádio do Atlético enquadram-se como um programa especial voltado para cultura e esporte. O município e a população têm o interesse em receber isso", justifica Suely Hass, se­­cretária municipal de Urba­­nismo.

Apesar de a explicação passar pelo que seria uma vontade popular, os técnicos e juristas envolvidos rechaçam veementemente que dinheiro público esteja sendo utilizado na manobra. A explicação é de que os títulos imobiliários serão entregues a um particular, que precisará vendê-los no mercado, gerando dinheiro privado.

"O município não participará dessa futura transferência de potencial, nem de valores. Ape­­nas regulará as normas e as quantidades", afirma Suely, re­­ferindo-se à lei de incentivo cons­­trutivo especial, que escalona a utilização da moeda virtual anualmente, e será votada nos dias 26 e 27 deste mês na Câmara Municipal.

A justificativa de "interesse público" também é utilizada para tratar das desapropriações no entorno do estádio. Os moradores só serão procurados para tratar do tema no ano que vem. Ainda é necessário aguardar o novo projeto executivo da obra – gerido pelo Atlético – para se ter certeza do que precisará ser desapropriado.

Certo mesmo, só que o clube da Baixada será beneficiado com áreas "compradas" pelo estado. Ou seja, o que o poder pú­­blico desapropriar ficará pa­­ra uma entidade particular.

"Isso já está sendo feito em Porto Alegre. A prefeitura está re­­passando terrenos ao In­­ter­­na­­cional", compara Cléver de Al­­meida, presidente do Insti­­tuto de Pesquisa e Planejamento Ur­­bano de Curitiba (IPPUC).

Segundo Luiz de Carvalho, gestor de Curitiba para a Copa, "apenas um ou outro imóvel" precisará ser estatizado e a forma legal de se fazer isso vemsendo estudada. "Uma ou outra desapropriação de R$ 500 mil ou R$ 1 milhão é perfeitamente justificável pelos investimentos que estão vindo", comenta.

Há, porém, quem se sinta le­­sado pela trama do poder pú­­blico. "Não é de um dia para o ou­­tro que se constrói uma clien­­tela. Desapropriar para um particular é ilegal. Ninguém me procurou até agora", reclama Sandra Belasco, dona de uma clí­­nica de fisioterapia ao lado da Arena.

Tanto a questão das desapropriações como a cessão do po­­tencial construtivo estão sendo geridas pelas procuradorias jurídicas do estado e do município.

A reportagem da Gazeta do Povo tentou ouvir a procuradora-geral de Curitiba, Claudine Camargo Bettes, na sexta-feira, durante audiência pú­­blica sobre a Copa do Mundo na Câmara Municipal, mas ela não quis dar entrevista.

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