Imagine uma propriedade que custa ao seu proprietário cerca de meio milhão por mês para manutenção, não gera nenhuma receita e não tem nenhum projeto definido para seu futuro. Esta é a situação do antigo Complexo Poliesportivo Pinheirão, arrematado em leilão no mês de junho de 2012 pelo empresário João Destro por R$ 57,5 milhões.
“Nada a declarar”, reage Destro, em tom bem-humorado, ao ser questionado sobre o futuro do estádio que pertenceu à Federação Paranaense de Futebol e foi leiloado para o pagamento de dívidas. O empresário, de 73 anos e dono de um dos maiores grupos atacadistas do Brasil, revela não ter pressa para definir o que vai fazer com a área de 125 mil metros quadrados no bairro Tarumã, em Curitiba, com arquibancadas que comportariam 45 mil espectadores.
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“Somando IPTU, segurança e limpeza, eu gasto cerca de R$ 500 mil por mês, ou seja, em torno de R$ 6 milhões por ano”, revela Destro. Traduzindo, desde que comprou o estádio o empresário de Cascavel, no Oeste do Paraná, já ‘torrou’ pelo menos R$ 30 milhões.
Mas para quem arrematou o Pinheirão “por impulso”, como ele mesmo revelou na época, esse gasto parece ser um problema secundário. No momento, João Destro diz não ter data para transformar o que hoje é chamado de ‘cemitério do futebol paranaense’. “Por enquanto, o estádio vai ficar de pé”, afirma. Na realidade, esse ‘por enquanto’ evidencia que o empresário tem planos sim para a área.
“É uma questão de estratégia empresarial. Os investimentos nem sempre dão retorno a curto prazo, você tem que ter uma visão de longo prazo. E fazer o investimento na hora certa. No caso do Pinheirão é um investimento de longo prazo”, argumenta.
Acostumado a empreitadas de sucesso desde quando sua família saiu de Erechim, no Rio Grande do Sul, e se instalou em Cascavel, Destro deixa transparecer que o plano para a área do Pinheirão está guardado a sete chaves.
“Para fazer um investimento na área do Pinheirão eu tenho de demolir todo o estádio. Provavelmente será um investimento imobiliário, é uma área grande em uma região nobre de Curitiba”, prevê, para logo em seguida despistar. “Mas não está nada definido, se será ou não um projeto imobiliário. Estamos estudando. Tem um estudo do Jaime Lerner que está sendo avaliado.”
O projeto a que João Destro se refere foi esboçado há cinco anos pela empresa Jaime Lerner Arquitetos Associados, fundada em 2003 e presidida pelo arquiteto e ex-governador Jaime Lerner.
Pela proposta original, na área do Pinheirão seria levantado um bairro misto, com residências, serviços, comércio e escritórios. Mas a Jaime Lerner Arquitetos Associados não confirma que a proposta continua de pé.
“Antes de tudo é preciso ter um entendimento com o proprietário. Fizemos o estudo há vários anos e ficou parado”, diz Paulo Kawahara, arquiteto que integra o grupo de profissionais da empresa do ex-governador.
Independentemente de projeto, a avaliação de especialistas em mercado imobiliário é que João Destro já está no lucro com o investimento que fez. Com a valorização do imóvel nos últimos anos, especialmente pelo avanço das obras do Jockey Plaza Shopping, localizado praticamente em frente do Pinheirão, a área hoje tem um valor que pode chegar aos R$ 250 milhões.
“Não existe mais terreno urbano deste tamanho na cidade de Curitiba”, diz Marcelo Pimentel, perito judicial e corretor de imóveis especializado em grandes áreas. Na avaliação de Pimentel, que participou do leilão do Pinheirão em 2012, a valorização da área pode ser maior ainda com uma eventual mudança na lei de zoneamento do município. “Se for permitido construções de vários andares lá, o imóvel do Pinheirão pode chegar a valer R$ 500 milhões”, avalia.
Enquanto o futuro não se define, a única certeza é que o estádio projetado inicialmente para ser um dos maiores do mundo não terá mais futebol. É o que garante João Destro. “Futebol lá não vai ter mais. Futebol não dá dinheiro”, sentencia. Será?
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Projetos para salvar o Pinheirão viraram bola furada
Desde a longínqua data de 15 de junho de 1985, quando o Pinheirão foi inaugurado, em um jogo entre as seleções dos estados do Paraná e de Santa Catarina, foram muitas as propostas para transformar o estádio numa das maiores praças esportivas do país.
Um dos planos fracassados previa o Pinheirão como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. Para tanto, no início de 2007 o então presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Onaireves Moura, apresentou projeto do novo estádio. Com livre trânsito na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Moura articulou um plano grandioso, com investimento estimado em R$ 640 milhões.
Para construção do novo estádio, o Pinheirão seria demolido. O projeto incluía um shopping center com 200 lojas, cinemas, praças de alimentação, hipermercado, hotéis, estacionamentos e uma nova sede da Federação Paranaense de Futebol (FPF), totalizando 235 mil metros quadrados construídos. A empresa responsável pela obra seria a Tecnosolo, que venceu em concorrência Andrade Gutierrez e Odebrecht, ambas envolvidas atualmente na Operação Lava Jato.
Poucos dias depois do anúncio, no entanto, Moura – na época investigado por falsidade ideológica sonegação fiscal e formação de quadrilha – renunciou ao cargo. Dois anos depois Curitiba foi escolhida como uma das sedes do Mundial de Futebol, mas o palco dos jogos acabou sendo a Arena da Baixada.
A ideia de um novo Pinheirão voltou à tona mais tarde, desta vez até com discussão na Câmara de Vereadores de Curitiba. Em 2015, o então vereador Jorge Bernardi (Rede Sustentabilidade) apresentou um projeto para o empreendimento reaproveitando a proposta anterior, de 2007.
Bernardi defendia que o montante a ser investido na obra deveria ser bancado pelo poder público, com a liberação pela prefeitura de Curitiba de R$ 400 milhões em potencial construtivo para a obra. O novo estádio seria batizado de Arena Paratiba e passaria a ser a sede dos jogos do Coritiba e do Panará Clube. O plano não teve a mínima chance de ir em frente.
Mais recentemente, depois que a área do estádio já havia sido arrematada pelo empresário João Destro, foi a vez do Coritiba jogar alto. Em 2016, o Coxa tomou uma série de iniciativas voltadas a erguer no local o novo estádio do clube. Alceni Guerra, vice-presidente na época e amigo do empresário João Destro, liderou as conversas. Mas as negociações também não decolaram.
Projeto original tem mais de 50 anos
O Pinheirão surgiu da ideia de construção do Estádio Olímpico do Paraná, em 1953. O projeto original saiu da prancheta de Lolô Cornelsen, um dos maiores nomes da arquitetura e da engenharia civil do Brasil, hoje com 96 anos de idade. Na época, Cornelsen escolheu o Tarumã como sede do grande palco por ser um bairro que já concentrava várias instalações esportivas, como o Jóquei Clube, a hípica paranaense, o estádio do Palestra Itália e o ginásio do Tarumã.
A nova praça esportiva previa capacidade para mais de 100 mil torcedores e áreas para a prestação de serviços e comércio. Lolô Cornelsen planejou em seu entorno espaços para atividades que abrangiam desde um parqueamento de automóveis até a unificação de todas as atividades administrativas do governo estadual em um centro com três pavimentos.
A proposta dependia da prefeitura de Curitiba para ir em frente. Responsável na época pela criação e estruturação do Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Jaime Lerner se mostrou interessado. Mas após estudos, o aval foi negado.
Em 1968, o então presidente Federação Paranaense de Futebol (FPF), Jose Milani, conseguiu aprovar na Câmara Municipal a doação do terreno no Tarumã e o sonho do estádio reviveu. A partir daí, com a assinada de Omar Sabag, prefeito na época, a obra começou a virar realidade. A construção das primeiras arquibancadas iniciou em 1972, na gestão de Milani na FPF.
Paralisada em seguida por mais de uma década, devido à falta de recursos, a obra foi retomada na gestão de Onaireves Moura, que inaugurou o estádio em 1985. Nos anos seguintes o estádio passou por outras transformações, ganhou uma pista de atletismo e um novo setor de sociais coberto, mas nunca chegou a ser o que foi previsto.
A obra hoje é renegada por seu criador, Lolô Cornelsen, que considera a construção “um horror”. Na última vez em que falou sobre o Pinheirão, ao repórter André Pugliesi, Cornelsen disse ter vergonha do que foi transformado seu projeto. “Não teve forma, não teve estilo. Foi feito todo remendado. Cada diretor que aparecia modificava o estádio. Tenho de ficar dizendo sempre que não fui eu que fiz aquilo, apenas comecei. Tenho vergonha. Nunca pisei lá”, lamentou o idealizador.
Grandes jogos
O Pinheirão não só foi objeto de grandes projetos. O estádio também foi a casa de dois dos três grandes clubes da capital. A partir de 1985 e durante boa parte dos anos de 1990 o Atlético aposentou a antiga Baixada e passou a mandar seus jogos no campo da Federação Paranaense de Futebol.
Uma das partidas históricas do rubro-negro no Pinheirão aconteceu em 1998, época em que o estádio estava para ser cedido ao Paraná Clube. O Atlético não era campeão estadual havia oito anos. O Coxa, há nove. No primeiro clássico Atletiba da final do Paranaense daquele ano deu 1 a 1 no Couto Pereira. No segundo, o Furacão goleou o alviverde por 4 a 1 no Pinheirão. Mas o campeão só saiu na terceira partida, quando o palco novamente foi o Pinheirão e o Atlético ergueu a taça ao vencer por 2 a 1.
No final dos anos 1990 quem adotou o Pinheirão foi o Paraná Clube. Durante a ‘era Paraná’ o estádio passou por uma série de reformas e as arquibancadas ganharam as cores do Tricolor. No Pinheirão o Paraná teve grandes conquistas. Em 1995, antes de ter adotado o estádio como sua casa, o Tricolor garantiu o tricampeonato paranaense ao vencer o Coritiba por 1 a 0. Quase 30 mil torcedores lotaram as arquibancadas para ver a decisão.
Na época em que o Pinheirão era considerado um projeto de futuro para o futebol brasileiro e Moura estava em ascensão, a FPF conseguiu trazer até jogos de eliminatórias da Copa do Mundo. Em 2003, a Seleção Brasileira enfrentou o Uruguai eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2006. Torcedores de todo o Paraná e de outros estados vieram a Curitiba para ver a partida.
Diante de um público de mais de 23 mil torcedores, o jogo terminou empatado em 3 a 3. Kaká fez um dos gols do Brasil e Ronaldo Fenômeno marcou dois.
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