Dose dupla de sofrimento para o Flecha Loira

Prestes a completar 40 anos de Coritiba, Dirceu Krüger não encontra palavras para definir o atual momento do time pelo qual dedicou a vida e se diz apaixonado. Jogador brilhante, técnico dos momentos difíceis e hoje coordenador das categorias de base, ele se reserva ao direito de torcer e rezar por uma reviravolta. "O clube não merece isso", lamenta.

O Flecha Loira, como era conhecido nos gramados, tornou-se o melhor sinônimo para o termo coxa-branca. Em um determinado momento da carreira de jogador, rompeu a alça do intestino e chegou a receber a extrema unção com o unifome alviverde. Após pendurar as chuteiras, calcula ter comandado a equipe em mais de 200 partidas. Agora, é o responsável pelos garotos formados no CT da Graciosa.

"Por tudo isso, estou sofrendo duas vezes. Primeiro, devido à minha condição de funcionário dos mais antigos na casa. Depois, claro, por ser um torcedor. É uma fase complicada...", destaca Krüger, enquanto acompanha com atenção o treinamento da equipe de Márcio Araújo.

Católico praticante, ele garante ter colocado nas suas orações um apelo especial pela permanência da equipe na Série A. Mas avisa. "Se realmente ocorrer a queda, não será algo de outro mundo. Grandes do futebol passaram por isso e deram a volta por cima. Não considero uma coisa anormal o rebaixamento", comenta, sem convencer.

O exemplo está tão próximo quanto na ponta da língua. "Veja o caso do Grêmio. Ninguém acreditava, ninguém... Pois bem, o goleiro defendeu um pênalti e os gaúchos – com três jogadores a menos – venceram por 1 a 0 o Náutico. Essa passagem deve servir de alento para os nossos atletas. Temos de lutar até o fim", diz.

Desde fevereiro de 1966 no Alto da Glória, esse senhor de 60 anos também se vale da experiência para defender o presidente Giovani Gionédis – seu atual patrão. "A diretoria está fazendo um trabalho sensacional. O que está acontecendo é uma fatalidade. Não se pode colocar a culpa em alguém", avalia.

Na segunda-feira, os conselheiros vão às urnas para escolher qual chapa estará no comando durante o biênio 2006/07. A situação enfrentará a chapa do empresário Tico Fontoura. Assunto que Krüger quer distância (foi orientado pela assessoria de imprensa do Coritiba a não falar do tema).

Em meio à crise que assola os coritibanos, ele prefere falar do passado glorioso – alegrias guardadas exclusivamente na memória. "Eu tinha uma mala com jornais, fotos e revistas e tudo mais sobre a minha carreira. Em 1980, aconteceu algo triste. Fiz uma viagem e acabei ‘premiado’: minha casa foi assaltada. Levaram tudo. É uma pena", conta.

Como já reza a tradição, Dirceu Krüger estará amanhã, às 16 horas, nas arquibancadas do Couto Pereira. Vai acompanhar de perto o decisivo duelo com o Internacional. E dá um palpite. "Vamos sair dessa!"