Durante este mês, todas as atenções do mundo estão voltadas para a China. A Olimpíada de Pequim mobilizou mais de 11 mil atletas de 205 países. O Brasil conseguiu levar uma delegação com 277 competidores em 32 modalidades. É dentro desse contexto que surge um esportista paranaense sem nenhuma pretensão de ganhar medalhas, vestir a camisa do Brasil ou bater recordes.
Sérgio Laus é recordista em uma modalidade que não figura no calendário olímpico: o surfe de maré, praticado em ondas de rio, como a famosa pororoca na Amazônia. Ele não esteve na Vila Olímpica, mas passou pela China, na semana que antecedeu o início dos Jogos, para desafiar um gigante uma batalha tão difícil quanto a façanha do americano Michael Phelps.
Em uma expedição formada por outras quatro pessoas, incluindo piloto de jet -ski (usado para lançar o surfista na onda) e fotógrafo, Lau visitou a cidade de Hangzhou, nordeste da China, para encarar a Black Dragon (Dragão Negro), um fenômeno de maré com as mesmas características da pororoca brasileira e que chega a nove metros de altura. "Nesta viagem fomos com o objetivo de mapear o rio e fazer uma avaliação para a prática do surfe", conta.
A negociação para chegar até a muralha de água da China foi difícil. Laus conta que desde 2005 vinha tentando uma aproximação com o governo chinês para conseguir a liberação permitindo a entrada no rio Quintang. Um acordo só veio no fim de 2007, com a visita de representantes de órgãos esportivos da China ao Brasil para conhecer o trabalho realizado por Laus nos últimos 10 anos.
"Eles têm um culto místico para o fenômeno e acreditam que a onda pode matar. Não imaginam ser possível surfar em ondas como aquela." A prática de qualquer esporte é totalmente proibida no rio. Mesmo com a adversidade, Laus insistiu em provar a viabilidade da aventura. Após a visita ele foi convidado para conhecer as ondas de Hangzhou.
"Provei que é possível dominar o Dragão Negro. O temor que a onda provoca é tamanho que quando saí da água os chineses que estavam observando comemoraram a minha sobrevivência", conta o surfista afirmando que a pororoca chinesa é bastante parecida com a brasileira. A diferença fica por conta da paisagem, que em nada lembra a Floresta Amazônica. "Em volta do rio há prédios e indústrias e a água é um pouco poluída."
A onda proibida já teve duas visitas frustradas. Segundo Laus, um surfista inglês pagou para o governo, entrou no rio, mas naufragou e desistiu. Outra equipe francesa entrou ilegalmente e acabou detida.
Como o brasileiro foi com consentimento e determinado a provar que o esporte pode ser praticado, recebeu um convite para participar de um festival que acontece em setembro. "É a época em que a Black Dragon atinge seu ápice, e como o dragão faz parte da cultura chinesa, eles preparam uma grande festa."
Mesmo havendo o convite, Laus não tem certeza se conseguirá viajar, pois a primeira expedição foi custeada pelos chineses e agora ele depende de patrocínio. O surfista está confiante e tem certeza de que o trabalho apresentado surpreendeu os anfitriões olímpicos. "Mesmo acontecendo antes e à parte da Olimpíada, esta foi a aventura esportiva mais radical e audaciosa na China em 2008", vangloria-se.
Embora focado na segunda aventura na terra de Mao, Laus já pensa em conhecer novas ondas. "Depois que desbravei todas as pororocas no Brasil, meu objetivo agora é conhecer e surfar em outras quatro grandes pororocas no mundo." O atleta se refere à chinesa; à francesa do rio Dordogne, em Bordeaux (já conquistada em 2004); à inglesa do rio Severn e ao seu próximo alvo, a do Alasca, no afluente Turganain. "Pretendo ir para lá em 2009 e deixar a Inglaterra para fechar o ciclo, em 2010. Acho que essas iniciativas fazem com que o esporte se torne mais forte mundo afora."
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