Início de qualquer relacionamento é assim mesmo: demora um pouco para que cada parte conheça o melhor e o pior do companheiro. Com Isabel Swan, bronze nas Olimpíadas de Pequim, e Martine Grael, filha de Torben Grael e campeã da classe 420 do Mundial da Juventude, não tem sido diferente. Nova união da vela brasileira, na classe 470, as duas mostram certa intimidade, de quem se conhece há tempos, dos treinos nas águas de São Francisco, em Niterói. No entanto, Bel e Tine, como costumam se chamar, sabem que ainda há um caminho a percorrer para se chegar à sintonia de uma dupla perfeita.
"É mais que um casamento, que um namoro. É quase uma relação de irmãs. Vamos passar muito tempo juntas, vamos ganhar mais intimidade aos poucos", afirmou Martine. "É um casamento sem a parte boa. É só pressão. Mas não é tão ruim assim", emendou Isabel, rindo.
A dupla promete. Afinal, Isabel tem em seu currículo a primeira medalha feminina da vela brasileira em Olimpíadas, ao lado da ex-parceira Fernanda Oliveira. Martine carrega no sobrenome a família mais tradicional do esporte no Brasil, além de já ter mostrado em outras categorias motivos suficientes para ser considerada uma promessa.
A dupla conta que a ideia de se unir surgiu aos poucos, depois de conversas e sugestões de amigos. Ganhou força após Isabel voltar de Porto Alegre, onde estava morando desde o fim da parceria com Fernanda. As duas conversaram e viram que, dos detalhes da personalidade de cada uma, poderia nascer uma boa união.
"A Bel é apaixonada por vela, assim como eu. Era isso o que eu estava procurando. O principal era que não fosse uma pessoa explosiva, que nos déssemos bem tanto dentro dágua quanto fora. Passamos muito tempo juntas, em viagem", disse Martine. Isabel, sete anos mais velha (a medalhista olímpica tem 25 anos, e Martine, 18), lembra da parceira ainda criança, correndo pelo clube. Para ela, a união vai ganhar força aos poucos em busca do maior objetivo: a vaga nas Olimpíadas de Londres, em 2012.
"Eu vi Tine novinha, correndo pelo clube. Agora, estamos juntas. As duas são muito calmas, mas só com o tempo vamos saber. Tenho o biotipo ideal para ser proeira. E tenho muita experiência neste barco. A Tine tem talento, mostrou isso no título mundial. E o 470 é um barco muito parecido com o 420. Temos tudo para evoluir como dupla. Aos poucos, tudo vai fluir. E vamos forte nesses três anos até Londres", disse Isabel.
Logo após a medalha em Pequim, Isabel resolveu arriscar e mudou para a classe laser. No entanto, poucos meses depois, a saudade das origens apertou e ela resolveu retornar ao 470.
"Eu reavaliei minha decisão. Além disso, acredito muito no potencial da Tine. Isso pesou muito na minha escolha também", afirmou a proeira, que ressaltou a necessidade de um patrocínio para a parceria.
No primeiro treino da nova dupla, no clube em Niterói onde as duas começaram na vela, Torben Grael esteve presente. O bicampeão olímpico aprova a parceria e dia que o fato das de as duas treinarem sempre juntas é um facilitador.
"Acho que tem a vantagem de serem do mesmo clube. E a Isabel é experiente, foi bronze em Pequim. Vai ajudar bastante a Martine nesse início. Se vai ser um novo capítulo da vela no Brasil? Aí tem que ver com elas...", brincou.
Isabel e Martine devem fazer sua estreia em regatas nacionais, como a Semana de Vela do Rio de Janeiro. O primeiro grande desafio, porém, será apenas em 2010, no Pré-Olímpico de Brasília, em fevereiro. Lá, vão lutar pelo auxílio que a Confederação Brasileira de Vela e Motor (CBVM) dá para atletas da equipe. Elas apontam a ex-parceira Fernanda Oliveira - que tem a gaúcha Ana Barbachan como parceira - como principal rival na disputa. A confiança na nova parceria, no entanto, é maior. "Ela é experiente, tem treinado bem com a Ana. Mas nós estamos começando, e vamos evoluir", disse Martine.
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