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Flávio Saretta desistiu de tentar voltar a jogar tênis competitivamente. Nesta quarta-feira, o tenista revelou que está pendurando as raquetes definitivamente. Em meio a seguidas lesões, que o incomodam desde o primeiro semestre de 2007, o ex-top 50, atualmente com 28 anos e no 502º posto do ranking mundial, perdeu a alegria e a motivação para tentar um retorno à elite do tênis mundial.

"Parei. Parei por causa do meu braço, da lesão que tive. Até hoje tenho dor, então não consigo uma sequência boa de torneios, de treinamento. É difícil treinar 300 saques por dia, por exemplo. Então, isso foi me desanimando. Acho que desistir não é a palavra, mas acabei tentando seguir outro rumo na minha vida", disse, por telefone, de São Paulo.

O problema vem de longa data. Nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, onde conquistou a medalha de ouro - sua última glória no tênis, Saretta já reclamava de dores no braço direito. As dores aumentaram, e a lesão só foi corretamente diagnosticada dois meses depois: uma fratura por estresse no cotovelo.

O tratamento tirou Saretta das quadras por sete meses, e o retorno, em fevereiro de 2008, não foi nada animador. Além de seguidas derrotas nos qualifyings dos ATPs de Delray Beach e San Jose, a pior notícia de todas: as dores voltaram. Desta vez, tendinite no braço inteiro.

A segunda tentativa de retorno só veio em junho, quando o brasileiro já havia perdido boa parte de seus pontos no ranking e já amargava a 569º colocação no ranking mundial. As vitórias não vieram, e as dores nunca foram embora totalmente. Além disso, um cisto no joelho direito exigiu uma cirurgia. O joelho e o cotovelo ficaram bons, mas o ombro direito não.

"Na época, falaram que era normal porque o braço não estava mais acostumado, mas me deu essa tendinite no ombro e até hoje dói pra caramba quando estico o braço, parado. Joguei o final do ano passado, este ano joguei alguns torneios, sempre com bastante dor. No Sauípe (Brasil Open, em fevereiro), quase não pude jogar. Então, esse probleminha virou um problemão depois de um tempo e isso foi me minando. E também tem que voltar a jogar sem ranking, tendo que jogar qualifying de todos os torneios. Isso foi me cansando. Eu estando 100%, já seria difícil. Não estando, é complicado", explicou.

A dura decisão de parar veio há pouco tempo, período em que Saretta se fechou a colegas do meio do tênis.

"Até fiquei um tempinho sem falar com ninguém para assimilar o que eu queria fazer. Decidi tentar seguir outro caminho, porque infelizmente não dá mais para jogar. O que eu queria mesmo era estar jogando, mas com essa lesão e com essas dores é difícil curtir. De repente, chega uma determinada hora do treino em que você não consegue mais fazer nada. E aí já desanima", ressaltou.

O arrependimento

Hoje com 28 anos de vida e 12 de experiência no circuito mundial, Saretta reconhece que poderia ter ido mais longe e alcançado um lugar de maior destaque no cenário do tênis mundial. Sua melhor posição no ranking veio em setembro de 2003, ainda aos 23 anos, quando alcançou o 44º posto. O brasileiro, porém, visto então como sucessor imediato de Gustavo Kuerten, não soube lidar com o sucesso repentino.

"É uma frase que todo mundo fala: se eu tivesse no início a maturidade que tenho hoje, seria difícil eu sair ali dos 40. Eu poderia ter ido até mais longe. De repente, me arrependo de ter acomodado um pouco. Se quando eu cheguei ali, tivesse me esforçado mais e tentado chegar a 30, 20 do mundo, acho que poderia ter sido diferente. Acho que disso eu me arrependo um pouco. Eu cheguei no top 50 e já estava feliz. Óbvio que eu estava feliz, mas poderia ter tido mais gana de subir cada vez mais", admitiu.

De fato, Saretta ficou pouco tempo no top 50. A temporada de 2004 não lhe trouxe os resultados esperados, e a queda foi inevitável. Em agosto, sem conseguir defender pontos importantes, o brasileiro saiu do top 100, grupo que só voltou a ocupar durante uma semana, em 2005, e parte do primeiro semestre de 2006.

Sua última conquista importante, o título no Pan do Rio de Janeiro, fechou o evento com medalha de ouro para o Brasil , mas não lhe rendeu pontos no ranking.

Surgimento com Guga, exemplo em Meligeni

Com a decisão de encostar as raquetes de vez, Flávio Saretta fala com orgulho de seus momentos mais marcantes em quadra. A primeira vitória contra Gustavo Kuerten, no Brasil Open de 2001, é inesquecível.

"O grande boom na minha carreira foi a vitória sobre o Guga, no Sauípe, em 2001. Eu tinha 21 anos, ainda estava aparecendo, começando a ganhar Challengers. Estava dando o primeiro passo ali para chegar entre os 100 do mundo. Ali, foi o começo da minha carreira. Foi uma vitória sobre o número 1 do mundo, no Brasil, onde eu comecei a ficar conhecido. Depois dali, as temporadas até 2005, 2006, foram muito boas."

Hoje, Saretta pede conselhos a Fernando Meligeni, que foi seu capitão na Copa Davis e se aposentou em 2003. Fininho ganha a vida fazendo palestras, ministrando clínicas de tênis e disputando exibições, e o amigo pode seguir o mesmo rumo.

Segundo a ATP, Saretta acumulou mais de um milhão de dólares (US$ 1.237.904) em prêmios ao longo da carreira. O tenista garante que boa parte desse dinheiro foi gasto em viagens e hotéis ao longo dos anos e não reclama de sua situação financeira, mas explica que não pode ficar muito tempo sem arrumar emprego.

"Cuido da minha vida, tenho meu dinheiro para viver, Tenho meu filho, que mora com a mãe, e tenho minha casa. Conta é o que não falta para mim", explicou.

O filho, Felipe, de 4 anos, é uma das alegrias do pai. Agora, sem viajar pelo mundo, Saretta poderá acompanhar mais de perto o crescimento do menino.

"Ele está um molequinho, está engraçado. Se puxar o pai, vai ser um palhaço. Começou a fazer aula de tênis agora, há um mês. Já sabe o que é smash, voleio.... Pena que mora com a mãe, porque dá uma saudade enorme."

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